Comentários de Baden Powell.
Qual a melhor estrutura para o Movimento
Escoteiro?
... - Baden-Powell escreveu uma série de relatos
autobiográficos excelentes. Eles incluem histórias de sua infância, sua
carreira, a fundação e os primeiros anos do Escotismo e histórias de suas
viagens e aventuras. Lições da
Universidade da Vida foi escrito em 1933, quando BP estava com
76 anos de idade. É o seu trabalho mais longo autobiográfico. Ele
reúne vários segmentos em sua vida fascinante e significativa. Muitas obras
biográficas mais tarde utilizadas como ”Lições..." como uma fonte importante. Uma pena que
ainda não traduzido e publicado nas Lojas Escoteiras ou livrarias do Brasil.
- Baden-Powell na publicação The Scouter (1921) deixou suas imprensões
sobre a necessidade de termos uma estrutura escoteira própria para que pudéssemos
dar ao jovem a formação que ele propunha no seu método de educar. Hoje poucos
pensam como ele. A maioria deseja ter grandes sedes, uma organização perfeita,
nada diferente de muitos que pululam em todo o planeta. No Brasil copiamos a organização
de um partido político, um sindicado e esquecendo que devíamos ter vida
própria, seguindo o próprio caminho que fizemos até os dias de hoje. Os lideres
atuais se apegaram na nova odisseia da modernidade, pensando que com isso o
escotismo terá um novo caminho uma nova descoberta e um novo desdobramento da
metodologia que sempre deu certo e hoje dizem não dá mais.
Por estes dias publiquei um
artigo, dando sugestões e mostrando o que se pode fazer para dar aos jovens o
verdadeiro sentido escoteiro... A vida ao ar livre, a natureza aprender o
melhor que existe e instruirmos com ela. Nota-se que semeia nos dias de hoje a
convicção de um pensamento chamado de Escotismo Moderno, e a maioria dos chefes
que adentraram no escotismo nos últimos anos acreditam no que dizem os novos
lideres, dão exemplos da nova forma de vida nos dias de hoje, nos comparam com
outras associações e dizem da dificuldade em se locomover e principalmente na
marginalidade que não dá trégua em qualquer lugar ou situação. Pode ser, ainda
não vi marginais atacando escoteiros e ninguém duvida que possa acontecer assim
como um atropelamento, um raio que cai, pisar de mau jeito e porque não uma
bala perdida.
Muitos dos novos voluntários
por não terem tido a oportunidade de ter feito escotismo no campo, hoje como
pais muitas vezes não dão liberdade de seus filhos para crescer e serem donos
de sua própria decisão. Um dia eles darão adeus e irão viver suas vidas. Faz
parte da vida em comum. Será que estarão preparados? Será que os pais irão
continuar dando proteção? Aprendem nos seus grupos, nos cursos, com seus APFs
preocupados em seguir a cartilha da associação e por falta de adestramento
técnico, de vivência, de aprender a fazer escotismo com a própria consciência baseada
no principio do Fundador. Sempre encontram dificuldades para por a sessão no
campo, vivendo escotismo puro, de raiz, de aprendizado geral de andar com suas
próprias pernas. A duvida, o medo, a desculpa dos pais que não concordam entre
tantas outras objeções faz com que o escotismo se transforme em uma Escola
Especial, um programa específico onde já existem salões, mesas, cadeiras e
quadro negro para o aprendizado. Difícil mostrar que este não é o caminho. Será
que já vi este filme?
Em 1927 Baden-Powell escreveu
na revista “Te Scouter”, o que ele pensava como deveria ser a estrutura e a
organização do Escotismo, aonde ele tivesse plantado raízes para dar ao jovem o
que ele sonhou naquela época e ainda sonha até hoje. Vejamos:
- Um dirigente escoteiro veio há mim outro
dia com um esquema para organizar o Movimento de uma forma melhor da já
existente. Contemplava certa quantia em “dinheiro” para gastar com dirigentes,
secretárias em tempo completo, etc; mas seu plano consistia em arrecadar
contribuições dos distritos (associações locais, no texto original). Uma parte
da ideia consistia na criação de um comitê eleito de forma geral para administrar a organização; a vantagem era
eliminar a desigualdade com que os distritos administram seus programas. Seria
mais centralizado e organizado, poder-se-ia ter um registro que salvaguardasse
o desenvolvimento, um padrão de eficiência nas tropas, mantendo uma supervisão
geral.
Já estava me descrevendo outras vantagens
do esquema quando me senti obrigado a poupá-lo do enredo, assim que me adiantei
com o seguinte comentário: Meu querido camarada! Mas você não precisa sustentar
o escotismo. Por uma razão: o escotismo se estende além do Reino Unido e teu
comitê deve representar todas as partes do império. Como a eleição irá fornecer
os especialistas necessários para os diversos departamentos do escritório
central? Os distritos desejariam gastar dinheiro para manter um escritório
central? Acho que não. Estas são meras objeções materiais. Mas existe uma
consideração maior: “nós somos um movimento, não uma organização”.
Nós trabalhamos através do amor e da
legislação, e isto é o que nos diferencia de muitos outros sistemas; pode ser
incorreto, mas é nossa maneira e, apesar dela, trabalhamos para fazer algo nos
doze anos de nossa existência. Acabo de voltar de uma bela viagem escoteira em
outras partes do mundo e confirmei minha convicção de trabalhar por amor ao
jovem, lealdade ao Movimento e camaradagem, que é através do espírito escoteiro
e é a maneira de nos mantermos na linha correta. É provável que muitos, como
meu amigo, não conseguiram manter o espírito, mas por outro lado, muitos
conseguiram e outros o estão adquirindo. A propagação da capacitação de
dirigentes (18 autorizados este verão no Reino Unido) está ajudando no
desenvolvimento. Nossa maneira de administrar está baseada em um verdadeiro e
nobre princípio.
Um dirigente (o qual faleceu e, portanto,
posso falar abertamente) me perguntou em uma ocasião sobre a recompensa
monetária pelo, segundo ele, trabalho que realizou para mim na sua qualidade de
dirigente escoteiro. Tive que lhe explicar algo que ele me confessou nunca ter
entendido: e era que ele trabalhava para os jovens e não para mim.
A proposta do escotismo é oferecida àqueles
que se importam de coração com seu país e sua gente. Os homens que colaboram
não são uma força de mestres e servidores, oficiais e soldados, senão uma
equipe de patriotas unidos por um ideal comum; e esse ideal é a melhoria dos
garotos.
Assinado. – Lord Robert Stephenson Smyth
Baden-Powell, aquele que dizem por aí, o homem de Gilwell!