Lendas
escoteiras.
Tributo a
Bandeira do Brasil.
Ele me
pediu para ficar em of. Pedido feito pedido aceito. Entendi sua posição. Achou
que poderia ser ridicularizado pelos amigos do grupo Escoteiro. Mas em sabia
que o que ele me dizia era verdade. Minha experiência de pseudo-escritor sobre
escotismo me mostram situações inusitadas e ouvir vozes impossíveis era comum
para mim. Sua narrativa era fantástica. Começou a me contar de cabeça baixa
terminou com ela erguida, como se tivesse prestado uma homenagem a um pedaço de
pano que para alguns não tinham valor, mas para ele era sempre foi sagrado.
Vamos lá ao seu relato.
- Chefe,
eu não costumo jurar, tenho palavra e a palavra de Escoteiro para mim vale
minha honra. Eu estava na sede Escoteira. Arrumando em um armário, um
emaranhado de cordas que na chegada do acampamento foram deixadas lá de
qualquer jeito. Qual não foi minha surpresa que vi duas pessoas conversando.
Duas pessoas? Pode rir Chefe, mas eram duas Bandeiras do Brasil. Elas estavam
em cima da mesa de reuniões. Pelo que eu soube uma seria aposentada, pois
estava muito velha e desbotada. Havia mais de 46 anos que estava conosco. Desde
os primórdios em que o grupo foi organizado. A outra era nova. Iria substituir à
velha. A principio eu achei que estava vendo e ouvindo coisas, mas não. Vou
tentar contar o que aconteceu. – As duas estavam falando! Isto mesmo,
conversando chefe! Duas bandeiras? Poderá me dizer. Mas é verdade. A velha
dizia para a nova:
- Bem vinda minha amiga, não sabe como me alegro em conhecer
você. Sabe, estou aqui há 46 anos, quinze dias e cinco horas. – Riu baixinho.
Mas acho que tenho de aposentar e a Diretoria então comprou você. Eu sei que
existe uma cerimonia muito bonita, que quando se aposenta uma Bandeira do
Brasil, ela tem honras militares, é colocada em uma pira que junto com outras é
queimada. Dizem que lá estão vários batalhões de soldados prestando homenagem.
Mas quis os nossos diretores e chefes que eu devia ficar em um belo quadro de vidro
na sala de recepção, pois tinham por mim muito amor e muita consideração. A
bandeira velha deu um suspiro e continuou – Eu também amo todos eles. Vou lhe
contar minha nova amiga, algumas lindas passagens que tive com eles. Acho que
sempre me senti amada. A primeira foi uma lobinha, Cecília, ela sempre me
olhava com carinho. Quando eu era içada ela fazia a saudação com orgulho. Não
tirava os olhos de mim. Um dia no acantonamento, quando após o jantar alguns
ficaram sem fazer nada, ela me pegou na mesa da Akelá e me levou até uma
árvore. Lá com uma cordinha me amarrou e depois me abraçou-me e disse: Bandeira
do Brasil, eu te amo. Quero que saiba que tenho orgulho de você. E então seus
olhos se encheram de lágrimas e ela me beijou. Minha amiga, que emoção. Demais
para mim.
- Depois foi em um acampamento Sênior. Eles e as guias foram
acampar no Pico do Itatiaia. Procuraram a parte mais alta. Quando chegaram
viram que não tinha onde hastear a bandeira. Eram só pedras. A vista era linda,
mas se eu não farfalhasse ao vento naquelas alturas eles não se sentiriam
realizados. Dois seniores desceram quatro quilômetros correndo e acharam uma
vara enorme de oito metros. Serra acima levaram o mastro. Entre dois vãos de pedras e outras soltas,
firmaram o mastro e me hastearam. Que felicidade amiga. Ver o vento me
balançando nas alturas foi demais. E a vista? Maravilhosa! Confesso que chorei
de novo de emoção. E então minha amiga, aconteceu um fato que nunca mais
esqueci. Aquele sim foi demais para qualquer Bandeira do Brasil. Estava
arvorada em um acampamento Escoteiro, e eles jogando um jogo gostoso em volta
do campo. Um redemoinho de vento me pegou. Soltou-me da arvore, e fui levado a
grandes altitudes. Eles viram e o Chefe gritou: - É nossa bandeira! Salvem-na, não
deixem que o vento a leve! – E a escoteirada correu atrás de mim. O ribombar de
trovões, raios enormes começaram a cair em redor. Outro vento enorme e a chuva
me pegou de jeito. Mas lá embaixo estavam os valorosos escoteiros. Não
desistiam. Sempre atrás de mim.
- Vi um escoteiro cair, sua perna sangrando e ele não desistiu.
Vi outro molhado, tossindo a chuva caindo aos borbotões e ele não parava.
Molhada, cai em cima de uma árvore altíssima. Ninguém desistiu. Um escoteirinho
lépido subiu a árvore com dificuldade, pois chovendo e os galhos e os troncos
molhados dificultavam. Ele me alcançou. Abraçou-me. Beijou-me. Colocou-me
embaixo de sua camisa. Que honra minha amiga, como eles me amavam. Foi uma
festa quando cheguei ao acampamento. Todos cantavam com alegria e o Chefe pediu
que ficassem em posição de sentido e cantaram com orgulho o meu hino, o hino da
Bandeira do Brasil! Nunca esqueci aquele dia. Houve centenas deles minha amiga.
Centenas. Agora estou aposentando. Sua vez vai chegar, vais ver como os escoteiros
amam sua pátria, sua bandeira. Vais ver quando for hasteada e o vento lhe
acariciar e todos vendo você farfalhando no ar, irás sentir orgulho. De saber
como é amada por eles!
O
meu narrador parou. Estava chorando. De orgulho é claro pelo que viu e ouviu. E
encerrou dizendo – Sabe Chefe, era eu que iria fechar a sede naquela noite. Fui
até as duas bandeiras. Abracei as duas. Apertei em meu coração. Coloquei ambas
na mesa desta vez aberta. Fiquei em posição de sentido. Cantei o hino da
Bandeira, disse Sempre Alerta as duas com orgulho. Dobrei as duas com as honras
que ela mereciam e fui embora. Hoje a velha bandeira mora em um belo quadro de
vidro na sede. Todo dia que vou lá, fico em posição de sentido olho para ela, e
com amor eu digo. Amo você Bandeira do Brasil. Faço minha saudação Escoteira e
bem alto digo – Sempre Alerta!
Vi
que ele não diria mais nada. Sua voz estava embargada de emoção. Dei nele um
abraço e disse – Meu jovem amigo parabéns. Você é como eu, como todos nós
escoteiros. Temos amor a nossa pátria. A nossa bandeira. Sei como se sente. Sei
como sente todos escoteiros de todo o mundo que amam sua bandeira. Aceite meu
abraço com amor e orgulho em te conhecer. Ele saiu e fiquei pensando. Pensei muito.
Difícil explicar a emoção que sentimos no hastear e arriar a bandeira do
Brasil. Ainda bem que temos isto. Amar a bandeira é amar nossa nação. É nestas
horas que digo e repito, me orgulho de ser Escoteiro. Serei Escoteiro para
sempre!
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