Lendas escoteiras.
O pequeno Jor-el, o
menino Escoteiro que veio das estrelas.
Sabe Chefe, eu o
vi pela primeira vez em uma tarde chuvosa, estávamos em atividade no salão da
sede, e ele praticamente apareceu do nada e se plantou em um canto. Ninguém
notou acho que só eu. Estávamos em um jogo que chamavam de pescaria e por
lerdeza ou por ver aquele menino ali plantado fui pescado. O senhor conhece o
jogo. Dormiu, o cachimbo caiu. Mas tudo bem me aproveitei enquanto estava fora
do jogo e me aproximei dele. Chefe! Senti uma vibração que nunca senti antes.
Ele me deu um sorriso e me abraçou! Diabos! Abraçar um desconhecido? – Ele com
uma voz de anjo, e nem sei se anjo tem voz me disse que sua missão era ser um
Escoteiro por algum tempo. Bela maneira de pedir para entrar.
Ele
parecia encantar a todos, pois em poucos minutos uma roda se fez em sua volta.
Chefe Nantes chamou as patrulhas. Ninguém se mexeu. Parecíamos estar
hipnotizados. Apitou de novo e com má vontade saímos dali. Quando formamos para
a bandeira, pois era o final da reunião olhei para onde ele estava e não havia
ninguém lá. Quer saber Chefe? Como o Chefe Bob o aceitou não sei. Ele era um
Chefe durão, sem pais nada de vaga! Dizia sempre. No sábado seguinte ele estava
lá. Ele foi apresentado à tropa. Chefe, Deus do céu, precisava vê-lo de
uniforme. Incrível! Ele estava com um lenço azul celeste bordado com estrelas
douradas e seu arganel era feito de brilhantes. Todos os monitores correram
para oferecer suas patrulhas. Chefe Nantes não sabia o que fazer. – Olhem, não
é comum isto, mas o Chefe Bob me pediu que ele ficasse três reuniões em cada
patrulha. Não entendemos nada. Mas Chefe é Chefe e assim foi feito. Não soube
se a Corte de Honra discutiu o assunto eu era um simples Escoteiro segunda
classe.
Chefe
meu amigo até hoje quando lembro fico paralisado. Sabe chefe eu nunca entendi
aquele pequeno menino das estrelas que com um simples sorriso conquistava a
todos. Ele começou com os Lobos e depois a Pantera. Eu era da Falcão e fiquei
sabendo que seriamos os últimos a recebê-lo. Não antes da Tigre. Mas ele
parecia não ter uma patrulha no coração, tinha todas. Sabia de tudo sobre elas.
Um dia antes da reunião estávamos sentados embaixo da aroeira, uma rotina nos
dias de calor ele começou a cantar uma canção linda. Chefe, meu Deus! Que voz
ele tinha. E a canção? Falava de Escoteiros na montanha azul onde só o amor
existe. Os lobos largaram a Aquelá e
vieram correndo. Os seniores e as guias deixaram a construção da quadra e
vieram também. Ninguém falava, não havia barulho, só aquela voz maravilhosa que
até hoje não sei explicar. Ele parou de falar e sem ninguém levantar começou a
contar uma história. Que linda história. De um menino que conheceu centenas de
planetas, que percorreu a via láctea, e todo o espaço sideral.
Vi que
ninguém piscava ninguém se mexia. Com um simples gesto ele colocou ali uma cópia
do universo. Cópia? Não ria Chefe, eu sou péssimo em geografia e nada entendo
de astronomia. Mas ele Chefe, falava de tal maneira que a gente parecia viver
com ele à medida que explanava tudo do espaço sideral. Não vou dizer aqui os
nomes de estrelas, de constelações e que em linguagem simples ele disse que se
pode percorrer como se fosse nosso pensamento. Contou das belezas do universo e
que um dia nós também iriamos ver com nossos próprios olhos. Sem ninguém
perguntar Chefe ele contou de onde veio um planeta a bilhões de anos luz da
terra. Não disse o nome, falou que não iriamos entender. Disse que sempre
voltava ao seu lar após as reuniões. Só retornava quando precisava fazer algum
estudo de comportamento humano.
Levantou-se e
pediu ao Chefe para continuar a reunião. Estava chovendo e ele olhou a chuva e
ela parou. Um sol brilhou. Todos ficaram estupefatos. O menino Escoteiro das
estrelas no primeiro acampamento vibrou. Chefe precisava o ver armando barraca
com as próprias mãos. Contou depois que em seu lar no espaço ele usava a força
do pensamento. Quando começou a montagem da Barraca suspensa Chefe, ele se
jogava no ar e ria a valer quando fazia uma amarra, um nó, um arremate
qualquer. As madeiras que ele cortou foram levantadas no ar com um simples
olhar. Pode perguntar, não vou negar Chefe, ninguém ali duvidava de nada.
Ninguém perguntou como ele fazia. Parecia que através do pensamento ele ia
ensinando tudo sem falar diretamente. E como comia Chefe, parecia um esfomeado.
Ria a valer quando mastigou pela primeira vez bife queimado do cozinheiro Jonny
limbo.
Foi no Fogo de
Conselho que tudo aconteceu. Ele fez questão de preparar. Acendeu com um
simples gesto. Levantou os braços e parecia que as estrelas dançavam no céu.
Toda a área do fogo foi iluminada por uma luz brilhante. Parecia que do céu
desciam anjos e estávamos todos parados, sem nada a dizer. Um silêncio rompido
pelo canto da fogueira. Ele sabia, ele sabia! Cantava e nos animava a cantar.
Pediu para Robespierre que tinha vindo dos lobos dançar a dança de Kaa. Mas
ouve uma hora que ele disse – Meus irmãos Escoteiros é hora de partir, não vou
dizer que é mais que um até logo, não será mais que um breve adeus, minha
missão era alertar vocês que não estão sozinhos. Existem milhões de planetas
com muitas pessoas fazendo o bem. Vocês ainda não chegaram lá. Lembrem-se é como
uma escola, a terra ainda tem muitas etapas para cumprir. É como se ela
estivesse fazendo o primeiro grau. Impossível levá-la a estudar com aqueles que
estão fazendo pós-graduação. Não iria entender nada.
Mas fiz
questão de estar aqui com vocês. Por quê? Porque vocês tem uma lei. Uma lei que
se pode dizer existe em todo universo. Palavra de honra, lealdade, cortesia,
irmandade, disciplina, alegria e puro nos pensamentos nas palavras e ações. Não
existe nada mais lindo que isto. Conheci o Chefe de vocês que criou na terra o
escotismo. Ele veio para isto, era sua missão. Obra do altíssimo. Estivemos
juntos em um planeta distante. Ele já está subindo degraus para chegar bem
perto “Dele”. Nosso Deus supremo. Poderia ter feito esta jornada de outra
maneira, mas fiz questão de estar aqui. De todos os excelentes Escoteiros do
mundo senti nesta tropa uma força muito diferente do que encontrei em minhas
viagens siderais. Aqui vocês tem o amor no coração. Não vi ódio, não vi
rancores. Vi coisas que dificilmente se poderia esperar de alguém que mora em
um planeta como a terra.
Chefe, oh!
Chefe! Ele falou tantas coisas bonitas e antes da chegada do vento sul que
começou a soprar calmamente ele partiu. Seu pensamento vibrava com o nosso. Ali
só se falava de amor ao próximo, de ajuda ao próximo. De ser um bom Escoteiro,
um bom filho e um bom aluno. Piegas Chefe? Pode até parecer, mas quando aquele
menino Escoteiro das Estrelas veio ao nosso grupo pela primeira vez, já
sabíamos que ali estava um espírito de luz, tanta luz que como ele disse,
teríamos que estudar muito e crescer além da imaginação para chegar lá. Mas um
dia, um dia iremos chegar!
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