Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Aprender a fazer fazendo.
O método
escoteiro é único e foi copiado por muitos, principalmente organizações
educacionais e até setores de áreas comerciais e industriais. BP foi realmente
benfazejo em suas ideias. Ele sempre enfatizou que nós chefes escoteiros,
devemos fazer de tudo para que os monitores conduzam a própria patrulha sua
moda. Quando um escotista está sempre olhando se preocupando, não deixando que
eles façam sempre para aprender, é um erro e foge completamente do mais puro e
mais correto método do Aprender a Fazer Fazendo. Aprender a fazer fazendo. Tão
simples e muitas vezes esquecido. Hoje as escolas, organizações e até
universidades estão fazendo isso e estão tirando proveito, mais que nós escotistas
cujo fundador foi o idealizador do método. E ainda tem alguns educadores que
nos chamam de um movimento atrasado e ineficaz. Afinal existe maneira melhor
para aprender? Errar quantas vezes for até fazer o certo?
Existem diversas
maneiras para fazermos isto. Primeiro, dando a eles toda a liberdade para
programar o programa, ficando a cargo da chefia somente elementos surpresas,
alguns jogos e condições físicas e ambientais. Outro dia, comentava com um
jovem sênior, sobre o programa da tropa, e ele me dizia que a chefia fazia
tudo. Perguntei se ele não opinava e me disse que não, pois assim havia
surpresa no programa. Finalizei perguntando se no ano anterior quantos entraram
e quantos tinham saído? Sua resposta – Somos somente quatro. Os demais saíram e
ninguém entrou. Aí veio a realidade. Ali nunca foi dada aos seniores a
liberdade de aprender a fazer fazendo. Tanto fizeram para eles que resolveram
sair.
Uma guia me respondeu que
nunca pensaram em fazer nada. O chefe fazia tudo, assim ficava mais fácil. Elas
não tinham de se esforçar, havia sempre um ar de mistério e todos gostavam.
Perguntei como sempre, - Quantos vocês eram no ano passado? O mesmo número de
hoje, somos seis, claro, saíram quatro e entraram quatro. Não perdemos nada! Como
não existem bons programas que despertaram seus interesses e os mantenham na
ativa, ficam sempre comentando, programando, e contando os dias de alguma
atividade regional ou nacional. Nestas atividades a patrulha praticamente não
existe como unidade. Não tiveram outra em suas tropas que marcaram e pedem bis.
Ali nessas atividades eles se realizam, não pelo programa em si, mais pela
amizade e fraternidade. Ali nada farão a não ser divertir. Tudo já está pronto,
até as refeições. A Direção programou tudo. Desde a chegada ao término. Tudo
feito de antemão. Eles serão um Bon vivant. Ou seja, “Comemos e bebemos, a Deus
agradecemos”.
Sempre em toda minha vida
escoteira, tentei mostrar as vantagens de deixar os jovens fazer. Seja em seu
crescimento individual, sua evolução técnica, e lembrava que todos, escoteiros
e escoteiras tinham e tem em seus bairros amigos de infância, que se
encontravam sempre, faziam seu próprio programa e ficavam eternamente juntos.
Nenhum deles jamais reclamou do programa que planejaram ou fizeram. Em recente
artigo comentei sobre o programa da tropa. A patrulha tem condições para
fazê-lo. Muito mesmo. Claro, não todo ele, mas boa parte sim. E alguns até me
disseram que o programa seria ruim, e eles poderiam não gostar. Mas você já
tentou? Pelo menos tentou? Agora não é somente em uma ou duas reuniões que você
vai conseguir motivá-los. Isso é como se fosse uma pescaria. Tem de escolher a
isca, a vara e o local onde vai pescar.
Pela experiência de observador vi
que os jovens que fazem seu próprio programa, ficam mais tempo no escotismo.
Facilitam sobremaneira o desenvolvimento de uma atividade, onde a técnica e o
conhecimento adquirido é desenvolvido de maneira impar. Se você usa bem a Corte
de Honra, se sua tropa faz semanalmente um Conselho de Patrulha e se você tem
sua patrulha de monitores bem formada, você sabe como é. Sucesso na certa.
É comum encontrarmos escotistas construindo pioneirias e os jovens
formados em circulo olhando ou dando ferramenta ou madeirame. Ele esqueceu que
já é formado na escola da vida e não é essa a maneira certa de praticar o
sistema de patrulhas. Ficar mostrando que sabe fazer ou é um mestre mateiro,
não é o caminho. Inclusive um me disse que assim é melhor, pois os escoteiros
podem ver como fazer e aprender no futuro. Não pegou nada.
Esqueçam o “Não vai dar – É impossível –
Eles não sabe escolher e programar” isso não é verdade. Claro não é de um dia
para outro que o chefe terá os resultados esperados. Aprender a pescar demora.
Talvez o chefe que ainda não conseguiu não deu a isca certa.
É preciso lembrar que nosso movimento tem
características próprias. Colocar jovens em forma, marchar, perfilar, saudar,
gritar e cantar qualquer um com boa postura e voz de comando consegue. Mas esse
não é o chefe que esperamos ter. O chefe que precisamos é aquele calmo, não
grita, fala pouco, confia e é um irmão mais velho, um aconselhador, tutor, não
o dono de tudo. E ainda tem aqueles que dizem – Esta é minha tropa, esta é
minha patrulha, este é meu monitor, esta é minha escoteira. Caramba comprou
tudo? Experimente. Dê um prazo para você e para eles. Com o tempo irá se
surpreender. Se mostrar aos monitores onde devem chegar, eles chegarão lá sem
sombra de duvida. Confiar faz parte do método. Quem ensina e adestra é o
monitor. Você sim é o monitor dos seus monitores.
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