Crônicas de um
Chefe Escoteiro.
Onde está o
caminho a seguir?
Estava na praia com o meu pai, e ele me pediu para ver se a temperatura da água estava boa.
Ela estava com cinco anos, e ficou contente de poder ajudar; foi até a beira da água e molhou os seus pés.
“Coloquei os pés, está fria", disse para ele.
O pai pegou-a no colo, caminhou com ela até a beira do mar, e sem qualquer aviso, atirou-a dentro da água.
ela levou um susto, mas depois ficou contente com a brincadeira.
“Como está à água?" perguntou o pai.
“Está gostosa", respondeu.
“Então, daqui pra frente, quando você quiser saber alguma coisa, mergulhe nela".
Não sou mais o "Velho" estudioso do
passado. Tento ler quando possível às novas mudanças, mas sinto dificuldades em
interpretá-las. Meus olhos estão um pouco cansados. São tantas resoluções
normas, artigos que fazem da minha cabeça um redemoinho. Sei que sem entender
bem os novos ventos escoteiros não posso discutir os velhos ventos que já ser
perderam no tempo. Antes achava tudo muito simples. Três ou quatro e o feijão
com arroz ficava pronto. Hoje não.
Outro dia recebi um email de um jovem Escotista.
Dizia – Leio seus escritos. Alguns bons outros não. Se não vai até um grupo
trabalhar, melhor não ficar dando opinião. Eu estou em uma tropa. Amo o
escotismo. Porque não faz como eu? O passado Osvaldo ficou para trás.
Agora temos outro escotismo. Mais moderno mais atual. Tente conhecer melhor
para não ficar só fazendo críticas. Chamava-me de Osvaldo. Não
chefe Osvaldo ou senhor Osvaldo. Até aí tudo bem. Fiz um exame de consciência.
Tentei me colocar com a idade que tenho como um novo voluntário em um Grupo
Escoteiro qualquer. Sabem? Eu não saberia preencher a tal ficha de inscrição.
Muito complicada para mim. Tentei mas achei que não iria me enquadrar em nada.
Mas suponhamos que fosse aceito. Teria um “assessor pessoal”, ele iria dizer no
final se seria aprovado ou não. Afinal não é assim que funciona?
Passado alguns meses, vi em sonhos o assessor
pessoal dizendo ao seu superior o seguinte – Olhe chefe, acho que o
"Velho" não serve. Não me ouve e sempre discute comigo o que tento
passar para ele. Veja, ele no primeiro dia já criticou a forma com que fazemos
o cerimonial. Disse que devíamos ter uma patrulha de serviço ou matilha. Pode
isso? Deixar para os meninos tamanha responsabilidade? O pior, nas reuniões
fica dizendo aos chefes que não devem ficar dando palestras, por mais de 10 minutos,
e que quando fizerem isso procurem um local adequado, etc. e etc. Completou.
Depois de 10 minutos ninguém está mais prestando atenção!
E sabe o que mais? No acampamento. Criticou o tempo
todo porque levamos os lobinhos, escoteiros, seniores todo mundo junto e
fazíamos jogos e atividades escoteiras e devíamos fazer em separado. E olhe,
falou um monte dos pais fazerem as refeições para todos. Usem as patrulhas,
elas devem ser autônomas. Uma piada chefe. O cara não dá. É “carne de pescoço”
vive cobrando que façamos pelo menos uma reunião de chefes por mês. Reclama de
tudo. Acha que somos ásperos de vez em quando. E ainda quer que nos
transformemos em anjos. Detesta uma piadinha e reclama dos meninos e meninas
dizerem de vez em quando uns palavrões! E a Lei escoteira? Só reclama.
Cobra da gente tudo. Boa ação, treinamento dos
monitores, um pouco de autonomia as matilhas, mais atividades e menos papeis
coloridos. Fala sempre numa tal pontuação mensal. Reclama por que nos os chefes
arrumamos a sede. Fala com nosso Diretor Técnico como se ele fosse sim o
professor. Vive enchendo a paciência que não somos democráticos. Não ouvimos o
que os meninos têm a dizer. Outro dia fizemos a promessa de seis de uma vez.
Foi uma festa. Eles nos procuraram claro, sei que nosso grupo é bom. Sei que
muitos estão saindo, mas eu disse a ele que nem todo mundo nasceu para ser
escoteiro. Se quiserem ir embora xau!
Reclama sempre porque o distrito faz muitas
atividades. Reclama mais ainda porque nós os chefes sempre vamos a Jamborees,
Grande atividades escoteiras e os meninos não vão. Pode? Afinal somos adultos.
Podemos pagar. Para isso trabalhamos. Quando eles crescerem poderá fazer o
mesmo não acha? Olhe se fosse enumerar tudo o mandaria para a “Tonga da milonga
do cabuletê”. O cara é carne de pescoço mesmo! E olhe, fique lá conosco uma
reunião e você vai ver o "Velho". Só “enchendo o saco”!
É, o melhor é ficar na minha. São tantas
atribulações e exigências que não iria ser aceito mesmo. Eu sei que sou um
"Velho chato” mesmo. Não vou parar. Podem me chamar do que quiserem.
Minhas idéias do que aprendi eu irei insistir até o fim da minha vida. Não sou
perfeito eu sei, mas queira ou não é a única coisa que posso fazer. Lutar pelos
meus ideais!
E por fim, o velho chato. Vocês conhecem um Velho Escoteiro chato?
Ele é aquele que já viu de tudo, sabe de tudo, comeu de tudo, trabalhou de tudo
na vida. Foi sapateiro, fazendeiro, caminhoneiro, lenhador,
pescador, dentista e quem sabe Escoteiro. Na época dele ele serviu o exército e fez maravilhas que nem o Indiana Jones faria. Os peixes que ele
pescava mal cabiam no mar. Adora falar sobre a guerra e sempre te dá conselhos
QUE VOCÊ NÃO DEVE SEGUIR. A esposa dele não é chata, ela é uma velhinha carinhosa
e cansada, sentada numa cadeira, fazendo tricô, que só quer te oferecer
bolinhos, biscoitos e cafezinho. Se a velhinha é viúva, aí lascou tudo... Ela é
boazinha, mas é triste e solitária, quando recebe uma visita faz questão de te
tratar como um príncipe, mas você não gosta de velhinhas e tá morrendo de
pressa! Só passou na casa dela pra fazer algum favor pra sua mãe. A principal
função dos velhinhos chatos é tomar o seu tempo e gastar os seus ouvidos!
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