Conversa
ao pé do fogo.
Seria
um Grupo Escoteiro padrão?
Acabava de chegar àquela
cidade e quando desci do taxi em frente ao hotel, surgiu não sei de onde um
Escoteiro sênior e foi logo pegando minhas malas, sorrindo, e dizendo: Deixe
que eu leve. Fiquei assim sem jeito e ele completou: - Ainda não fiz minha boa
ação hoje e além do mais sou o Gerente do Hotel. - Santa Cecília! Falar o que?
Adentramos ao hotel e na recepção ele me deu as boas vindas e pediu desculpas,
pois tinha de ir para a reunião do seu Grupo Escoteiro. Já ia dizer a ele que
também era Escoteiro quando ele se dirigiu a outro Senhor, mais velho e
grisalho, também impecavelmente de uniforme caqui com chapelão. Saíram
sorridentes se cumprimentando e desapareceram na porta do hotel. Intrigado eu
perguntei a recepcionista quem eram. Ela sorridente me disse que o Senhor
Martinho era gerente do hotel e Chefe de tropa Escoteira. O outro o Senhor
Nando, Juiz de Direito na cidade e membro da diretoria do Grupo Escoteiro. Mas
eles vão sempre de uniforme para a sede? - Claro! Ela disse. Afinal aqui todos
conhecem o escotismo pelo seu valor, pelo seu histórico e claro pelo seu uniforme
e a comunidade tem grande respeito por eles.
- Santa Marcelina! Eu tinha
de conhecer de perto e melhor tudo aquilo. Deixe que me apresente, sou
Engenheiro de Máquinas, represento uma empresa que dá manutenção e estava ali
na cidade a serviço. Nas horas vagas também era Chefe Escoteiro de uma tropa
Sênior (Assistente) e o escotismo era um dos meus amores que junto a minha
filha e esposa me completavam. Corri até o meu quarto e logo estava com o meu
uniforme. Tinha de me apresentar. Caramba! Estava com o social somente. Não
tinha levado o caqui. Desci e perguntei onde pegaria um taxi. – Tem um ali na
porta, Senhor, ela respondeu sorrindo para mim, pois descobrira que eu também
participava desta grande fraternidade. Entrei no taxi e pedi que me levasse ao
Grupo Escoteiro da cidade. – Olhe Senhor, disse o taxista, é ali na esquina –
Está vendo? Se quiser o levo, mas é só atravessar a rua. Veja quantos meninos e
meninas estão chegando! E sorriu. Desci agradeci e logo estava na porta.
Cheguei bem na hora do cerimonial. Viram-me, dois chefes vieram até a mim,
apertaram minha mão esquerda efusivamente, me deram as boas vindas e me
convidaram para participar na ferradura.
Não vou entrar em detalhes,
pois a história é longa. Era um grupo modesto, duas alcateias, uma masculina e
uma feminina. Duas tropas, uma masculina e outra feminina. Uma tropa Sênior
mista. Três patrulhas. Fui até a sede conhecer. Perfeita. Não era própria, era
em um Colégio do Estado. – Fui apresentado a Diretoria. Três deles e mais cinco
pais presentes sendo que um deles era uma mãe e Diretora do Colégio. Todos de
uniforme caqui. Quem me contou o histórico do grupo foi o Presidente. Olhe
Chefe começamos com poucos. Nada de correria, nada de querer ser além do que
pretendemos. O Chefe Martinho tinha sido Escoteiro quando jovem e assim também
o Senhor Nando nosso Juiz de Direito que foi o idealizador do grupo. O Chefe
Martinho ficou três meses só com oitos jovens. Eles hoje são os Monitores e
subs. Ele fez antes um curso Escoteiro na capital. A fila de espera foi
crescendo à medida que os jovens da cidade viram a movimentação dos jovens no
grupo, pois eles sempre estão em atividade no campo.
Não tinha segredo. Tudo foi
feito com alguns no começo e hoje todas as sessões estão completas. Temos uma
lista de espera de mais de quarenta jovens. Já conversamos com a Região de
fazer outro grupo aqui na cidade, mas ainda não levaram a ideia adiante. Fiquei
ali olhando a movimentação da Alcatéia e das tropas. Perfeitas. Uma amizade
incrível entre os jovens. Patrulhas e Matilhas completas. Chefes fazendo um
perfeito sistema de patrulhas. Todos vibrando. A Alcatéia parecia estar o tempo
todo vivendo a mística da Jângal. – Alguém chegou até a mim. – Sempre Alerta
Chefe. A tropa Sênior e guias convidam o Senhor para participar do nosso
Conselho de Tropa. - Santo Agostinho! Falar mais o que? Fiquei ali assistindo e
participando naquele grupo modelo. Ao final da reunião o Chefe pediu desculpas,
pois hoje fariam um Conselho de Chefes do Grupo para discutirem alguns
pormenores, ver como estão sendo cumpridas a programação e ouvir o que os
chefes têm a dizer do desenvolvimento de suas tropas. Caso eu quisesse, poderia
assistir e claro, dar minhas opiniões. Eu também estava convidado para
participar de um coquetel dançante na Casa da Akelá à noite. Sempre fazemos assim
quinzenalmente em rodízio.
- Santa Madalena! Fiquei sem
palavras. Vi ali um grupo que poucos ainda preocuparam em ser. Faziam questão
de tudo para que nada pudesse se perder naquela família Escoteira. Tinham oito
anos de atividade. As patrulhas estavam juntas e dificilmente alguém saia e
isto facilitava no desenvolvimento da equipe, cujos Monitores tinham um alto
grau de conhecimento. No dia seguinte fui até a fábrica olhar as máquinas.
Fiquei lá umas cinco horas. Quando terminei a manutenção fui convidado a
conversar com os diretores. Cheguei quando estava terminando uma reunião com um
jovem de uniforme, impecável, um porte executivo e ele agradecendo pela
acolhida. Perguntei ao Diretor o que houve – Há tempos vem pedindo para ser
recebido. Uma proposta para sermos sócios do grupo. Uma pequena quantia anual.
Sabemos do valor do escotismo. Este jovem que é um profissional Escoteiro do
Grupo nos mostrou onde poderíamos ganhar no futuro, com jovens aprendendo
ética, honra liderança, respeito e disciplina. Ele tem feito este trabalho no
comércio e muitas fábricas aqui da cidade.
Santa Bárbara! Era um sonho?
Não era não. Era uma realidade. Inveja não é próprio de escoteiros. Mas vi que
a perfeição existe. Podemos chamar de perfeito sem sombra de dúvida aquele
Grupo Escoteiro Padrão. Que Santa Edwiges me proteja. Utopia? Uma fantasia? Ou
será que visitei a cidade dos sonhos, ou melhor, Xangri-lá? Bem, acreditem se
quiser. Mas este grupo escoteiro existe. Quem sabe é o seu? - Santo Antonio!
São Judas Tadeu!
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