Lendas
Escoteiras.
Joe Colosso,
um papai coruja.
“Este é meu
garoto”!
Dona Naná quando o viu cochichou para
Dona Sinhá – Ele veio! Se soubesse não tinha vindo. Sempre foi assim, em
qualquer reunião de pais no Colégio dom Bosco Joe Colosso estava lá. Até que
podia se entender, pois sua esposa faleceu há anos e ele como pai tinha que
estar presente. O que ninguém gostava era da sua superproteção do Quinzinho seu
filho. Ele achava que a escola devia tudo a ele e ele não devia nada para ela. Não
adiantou as dezenas de vezes que Dona Dora a Diretora o chamara em particular –
Seu Joe, o Quinzinho não obedece mais ninguém. Diz que se entendam com “seu
Pai”. Ele veio aqui para aprender e com sete anos já quer dar ordens a todo
mundo! – Mas e daí? Joe Colosso fingia que concordava e sempre no final dava
razão ao seu filho. Afinal desde que Soninha sua mãe faleceu que ele sempre foi
um pai protetor. Sabia que o menino não tinha mais ninguém.
Um dia Quinzinho “ordenou” ao seu
pai: - Pai me leve nos Escoteiros. Eu gostei da farda deles. Era sempre assim,
quinzinho não pedia, ordenava. No sábado eis que Joe Colosso e Quinzinho
adentram ao grupo. Ele de uniforme de lobinho com distintivos e seu pai colocou
dez estrelas de atividade em sua camisa – Isto é para mostrar a eles que você é
o melhor! – Chefe Mattos olhou e não criticou – Seu Joe, ele disse – O Senhor
tem de fazer um pequeno curso e então seu filho poderá começar. Foi à conta –
Quinzinho começou um berreiro que assustou todo mundo na sede. Seu pai custou
para acalmá-lo. Em casa sentou seu filho no colo e disse a ele que aguardasse,
aqueles Escoteiros iriam receber uma lição oportunamente. Mesmo assim Quinzinho
ficou emburrado por uma semana. Descontou suas contrariedades em Dona Nice sua
professora.
Na data prevista correu para o
Grupo Escoteiro. O Chefe já havia avisado para não ir de uniforme, mas ele iria
mostrar ao Chefe quem mandava ali. Chegou todo posudo e voltou para a casa em
seguida. Sem uniforme disse o Chefe. Pisou com força no chão, gritou, pegou
manha, mas o Chefe foi irredutível. Voltou no sábado seguinte sem ele. Não
tinha jeito. Explicaram que tinha provas a fazer para a promessa e vestir o
uniforme. Reclamou com seu pai que reclamou com o Chefe que levou o caso de Quinzinho
ao Conselho de Chefes do Grupo. Chegaram a uma conclusão que ele podia mudar. A
Akelá ficou cismada. Na matilha Verde o Primo não aguentava mais. Ele gritava
que ia ser o primo, pois tinha mais qualidades. Terrível o Quinzinho. No
primeiro acantonamento Joe Colosso pediu para ir. - É o primeiro do meu filho
disse. E se ele quiser um biscoito? Um chocolate? E se sentir frio? E se quiser
rezar? – Mas ele reza? Perguntou a Akelá Candinha. Todos em volta riram. Joe
Colosso não gostou.
Foram de manhã e a tarde Joe Colosso
chegou de carro. - Só passando, só passando! Já estou de volta! – Ficou lá mais
de cinco horas. Sempre ao lado do filho perguntando se ele queria alguma coisa.
Interessante que Quinzinho se enturmou e esqueceu o pai. Claro até a hora de
dormir, pois não queria fazer sua cama. Sempre foi seu pai quem fez. Quinzinho
voltou feliz do acampamento e disse ao seu pai que aprendeu a ser homem. Joe
Colosso riu. Homem? – Você é um pirralho meu filho. Cresça e apareça. – Disse
aquilo e se arrependeu. Foi ciúme dos chefes da Alcateia que fez com que eles o
esquecessem. Mesmo assim ao dormir disse para si – “Este é o meu garoto”!
Joe Colosso já estava enchendo a
paciência de todos no grupo. Ninguém aguentava quando ele chegava. Era meu
filho prá cá, meu filho prá lá e falando mil maravilhas. Chegou a dizer ao
Chefe Mattos que estava na hora de darem uma medalha ao seu filho. O Chefe
Mattos um homem calmo e ponderado teve uma ideia. Quem sabe se Joe Colosso
ficasse cinco dias acampados com os Escoteiros ele não pudesse ver melhor como
se faz um Escoteiro? Ele iria conhecer o método na prática aprender a fazer
fazendo, aprender a se virar, aprender a ser independente e então ele vai ver os
reais objetivos do escotismo. Afinal um dia não saimos de nossa casa, não iremos
viver sozinhos e tomar nossas próprias decisões? – Falou com o Chefe Naldo.
Naldo se assustou - Tás brincando Chefe! Não teve jeito. Foi difícil convencer
Joe Colosso. Onde deixar seu filho? Alguém pensou que cinco dias na casa de
correção de menores até que seria bom. Pagou uma fábula a Dona Inês sua tia
para ficar com ele.
Olhe, foi a maior lição que Joe Colosso
teve na vida. Assustou com os meninos viverem em patrulha, a dormirem sós em
barracas, a cozinharem eles mesmos. Aquelas construções maravilhosas, e o tal
fogo do conselho? Só de meninos e meninas e eles mesmos se dirigindo e o Chefe
Naldo os deixando fazer fazendo. Que lição aprendeu. Quando um Monitor se
apresentava ele pensava na vez de Quinzinho quando fosse eleito. Assimilou o
Sistema de Patrulhas no seu todo. Acreditou mais ainda no escotismo e nos
resultados que trariam para seu filho. Explicar a ele? Não. Ele deveria
aprender por si só. Joe Colosso mudou. E para melhor. Quinzinho se revoltou com
aquela mudança. – Pai vou sair dos Escoteiros – Vai não disse! – Vais ficar lá
até poder assumir sua própria vida! – Mas pai, lá eu sou mandado e não mando
nada – Filho, ele disse, tens de aprender a ser mandado para depois mandar. Só
é um verdadeiro líder aquele que lidera e saber ser liderado. Mandar qualquer um pode
mandar obedecer é mais difícil.
Hoje eu sei que Quinzinho se transformou
em um verdadeiro homem. Graças ao escotismo e a um programa bem feito. Ainda
bem que Quinzinho teve sorte em entrar em um grupo bem estruturado. Um grupo
que se orgulha por ser democrático. Onde todos são consultados. Onde no
Conselho de Chefes todos tem voz e voto. Onde existe uma bela de uma Corte de
Honra e onde seus monitores fazem de uma patrulha seu aprendizado pessoal junto
ao Chefe da tropa. Quando visito o grupo sinto-me orgulhoso em ver quinzinho
com seu Lis de Ouro. E melhor do que ver seu pai Joe Colosso com sua Insígnia
da Madeira e ainda bem sem a pretensão de cargos maiores. Sua luta é na tropa
pensando sempre nos meninos como um todo. Seu filho? Faz parte, mas no grupo é
igual aos demais. Em casa ele aprendeu a exigir, a solicitar suas notas, a
cobrar sua educação e respeito com as professoras. Sei que um dia no colégio
Dona Naná quando o viu cochichou para Dona Sinhá – Ele veio! Maravilha amigo.
Adoro a presença dele aqui.
É quem te viu e quem te
vê!
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