Passeando na Jangal.
Na edição original do livro "Escotismo para Rapazes", Baden-Powell
não fixou um limite de idade mínima, nem máxima para o ingresso do menino no
Movimento Escoteiro. Como consequência disso as tropas tinham meninos cujas
idades flutuavam entre 9 a 18 anos. As coisas, no entanto, não eram tão simples
assim! Imediatamente levantaram-se agudas e persistentes vozes dos meninos que
eram muito pequenos para serem escoteiros, irmãos menores, que não estavam na
faixa etária da "diversão" organizada no princípio do século, queriam
entrar na brincadeira e não podiam esperar mais. Os "pequenos" foram
tão persistentes, intrometendo-se nas reuniões de Tropa e iniciaram alguns
ensaios por volta de 1909.
Os primeiros esforços de trabalhar com meninos menores não obtiveram
sucesso. Alguns escoteiros sentiram em receber estas crianças como "Junior
Scouts", mas os resultados foram desastrosos. A tropa
desestruturou-se, os mais velhos não desejavam misturar-se com os pequenos e
estes não conseguiram acompanhar as vigorosas atividades feitas pelos escoteiros.
Tomar providências para que o que mais tarde foi chamado "Junior Scouts”
(Escoteiro Junior), foi uma tarefa muito árdua para Baden-Powell, pois embora
ele estivessem receptivo à idéia, teve que tomar precauções para evitar a
impressão que seu Movimento estava criando um jardim de infância para
escoteiros. Naturalmente o uniforme era o mais esperado pelos meninos, assim,
essa primeira versão do LOBISMO usava chapéu de abas largas, um lenço, uma
mochila e um bastão.
Eles aprendiam nós simples sinais de pista, semáfora e noções
rudimentares de primeiros socorros. Isto, na verdade, constituía uma versão
diluída do Escotismo aplicada por incomodados Assistentes ou Chefes de Tropa. Não
há dúvida de que o pioneiro do nosso ramo foi o Reverendo A.R. Brow, Chefe da
Tropa número 1 do Enfield Highway, em Niddlessex, Inglaterra. Foi ele quem em
janeiro de 1910, publicou um artigo no "Headquarters Gazette", onde
concretamente questionava: O que iremos fazer com os meninos menores de 12
anos? B.P. teve dupla preocupação, conforme explicou em artigo do
"Headquarters Gazette", a primeira era de não exaurir as crianças
desta idade com atividades que não estavam além de sua capacidade física; e a
segunda era evitar o risco de perturbar os rapazes mais velhos, os quais poderiam
se sentir humilhados em terem de executar as mesmas atividades que os mais
jovens.
Para esclarecer as suas idéias, escreveu no final do ano de 1913 as
primeiras tentativas de denominar os meninos menores e entre as sugestões do chefe
estavam os nomes de :Juniores Scouts ? Beavers (castores) ou Wolf Cubs
(lobinhos) ou Cubs (filhotes) ou Colts (potros) ou Trappers (ajudante de
caçador). Em suma B.P. preocupava-se que o novo ramo tivesse suas próprias
características, não fosse uma versão simplificada do programa dedicado aos
escoteiros.
As primeiras regras
Depois deste período de experiências e indagações, B.P. solicitou a
Percy W. Everett que estudasse o que estava fazendo e que redigisse um esquema
provisório. Em novembro de 1913, Everett lhe apresentou um projeto intitulado:
Regras para escoteiros menores. Sobre este manifesto o Chefe manifestou seu
agradecimento ao reverendo Everett, salientando apenas o uso de uma
nomenclatura e a distinção necessária pelo uniforme. Segundo B.P. o nome
"Lobinho" ou "Cachorro" seria muito adequado especialmente
este último para designar os Pata Tenras. Quanto ao uniforme disse que um
boné, semelhante ao usado no jogo de criket e um suéter estaria muito de acordo
com a elegância e praticidade necessária.
Com mudanças e emendas, em 1914, o Headquarter Gazette publicou o
esquema para "Lobinho" ou "Jovem Escoteiro" que não era
mais que uma forma modificada de adestramento de escoteiros; incluía uma forma
de saudação, um emblema em forma de cabeça de lobo, a promessa simples de
servir e cumprir o dever e alguns testes simples adaptados à faixa
etária. O clima de guerra imprimia um forte sabor patriótico, com muitas
manobras, marchas, saudações a Bandeira e cantar o Hino Nacional. A publicação
desse esquema foi acompanhada da promessa de B.P. de elaborar um Manual próprio
para os pequenos o qual abordasse um método com características próprias.
O Manual do Lobinho
B.P. que não teve tempo suficiente para escrever o Manual do Lobinho
durante a Primeira Guerra Mundial, porém, anunciou que o faria pouco tempo
depois. Com a erupção da guerra, as mulheres escalaram os lugares antes
ocupadas pelos jovens, que haviam respondido aos apelos do exército. Assim, foi
permitido o ingresso de senhoras e senhoritas no Movimento, estas estavam
encantadas com a idéia de que pudessem adestrar os pequenos. Suas idéias foram
de grande valia na elucidação de problemas especiais que surgiam no
adestramento dos pequenos. E nesta leva feminina que surge o braço direito do
Fundador, no ramo lobinho: a Srta. Vera Barclay.
O seu encontro com o Fundador deu-se no dia 16 de junho de 1916 em uma
conferências em Londres, onde Chefes de Lobinhos reuniram-se para reivindicar o
esperado Manual do Lobinho, que contivesse um esquema específico para o ramo. Vera
Barclay, uma romancista, não compareceu a conferência movida pelos seus
objetivos uma vez que lobinhos não interessava, sua fixação eram os escoteiros.
Porém, havia recebido um convite especial de B.P. que queria conversar com ela.
O objetivo de B.P. era contratá-la para juntar-se a equipe do Headquarters e
trabalhar no projeto dos lobinhos. A idéia não a entusiasmou muito uma vez que
lobinhos não era o seu trabalho, e fechar-se em um escritório em Londres não
estava em seus planos.
Em sua atuação com escoteiros nas áreas carentes de Londres recebeu de
companheiros mais formais a crítica de que os rapazes não atendiam
perfeitamente a todos os aspectos da Lei Escoteira. Deu, então, uma resposta
que se tornou famosa: "O que interessa é que pelo escotismo, os rapazes se
tornem melhores!". No entanto, em virtude de um joelho machucado, estava
afastada de suas funções de enfermeira no "Netley Red Cross Hospital” e
além do mais, como admitiu posteriormente, era um grande serviço para o
escotismo isolar os meninos pequenos e seus persistentes chefes dentro de suas
próprias competências.
Não demorou muito, porém, e os lobinhos conquistaram completamente a sua
simpatia, instalando-se definitivamente dentro de seu coração, de forma que a
fizesse fazer de tudo para que eles fossem aceitos na fraternidade escoteira,
pleiteando junto ao Headquarters tudo o que eles queriam. Ela dedicou-se com
entusiasmo na organização do Manual do Lobinho, intercalando ao famoso
manuscrito de B.P. recortes, seus desenhos feitos a pena e bilhetes que
encontrava jogados sobre sua mesa, contendo novas idéias de B.P. muitas vezes
anotadas em papéis de suas lâminas de barbear. O Manual ficou também
enriquecido com suas próprias opiniões acerca das insígnias e especialidades
que constituiriam a parte II do Manual.
O Manual do Lobinho está impregnado de suas influências, feitas com
entusiasmo e imaginação e, principalmente de um grande conhecimento da natureza
de meninos pequenos. Ela via claramente a necessidade de conservar a essência,
tanto quanto o método de treinamento, o tão distinto quanto possível daqueles
do escoteiro. Esta posição futuramente influiu fortemente para a sua indicação
como Comissária do Quartel General para Lobinhos, posto que ela manteve até
1927.
Porém, o que veio responder a procura de Baden
Powell por algo atraente, especial, capaz de sustentar a fantasia e contribuir
com a formação da criança foi o Livro da Jângal, cuja adoção revolucionou
completamente o esquema.
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