Conversa ao
pé do fogo.
Mitos, lendas
verdades e inverdades do Uniforme Escoteiro.
Convenhamos que eu não seja um
estudioso das tradições do uniforme Escoteiro brasileiro. Sei apenas o que vi e
vivi com ele desde que iniciei em 1947. Não vou dar testemunho como foi em todo
Brasil, pois não tive informações e nem aprofundei estudos a respeito. Este é
um artigo que não pretende de maneira nenhuma provocar uma discussão. Sei que
nosso uniforme ainda levanta duvidas e muitos novos simplesmente já encontraram
como se trajar e pouco conhecem o passado. Sempre comento sem ter a pretensão de
ser profundo conhecedor, que quase todos os uniformes, trajes, farda e
vestimenta nunca tiveram o aval ou mesmo a sugestão dos escoteiros brasileiros,
pois sempre foram decididos pela liderança composta de poucos membros. Devo
tirar o chapéu para os escoteiros do Mar e do Ar que sempre mantiveram suas
tradições e são impecáveis na sua uniformidade.
Em meados de 1959 em um
bate papo gostoso em volta de um foguito no Bosque do Jardim Zoológico em Belo
Horizonte, o Chefe Doutor Francisco Floriano de Paula contou para nós lá pelos
idos de 1959 que no inicio do movimento escoteiro no Brasil usávamos o mesmo
uniforme usado na Inglaterra. Era uma espécie de cor cinza e com meiões pretos.
Com o passar de tempo e com a União dos Estados em uma só associação, em Minas
Gerais surgiu à calça azul curta, camisa caqui e muitos usavam uma espécie de
casquete até que o Chapéu se tornou um marco escoteiro. Entre a década de 40 e
50 o caqui começou a se tornar tradição. Quando o Governo Mineiro deu seu aval
ao escotismo para sua expansão se fez realizar cursos escoteiros na Policia
Militar Mineira. Em várias cidades surgiram os primeiros grupos e nem sempre
com o uniforme tradicional ficando a cargo dos dirigentes militares decidirem.
Se no sul e no norte do
país não foi assim fica o dito pelo não dito. Nem vou lembrar o saudoso caqui
esverdeado implantado na Região de São Paulo em tempos idos. Quando entrei para
o movimento em 1947 os lobos usavam o azulão. Os Escoteiros o caqui curto,
chapéu de abas largas e nunca se via adultos trajando calça comprida. Era como
se diz uma tradição iniciada na Inglaterra de B.P. O caqui, era considerado o
uniforme oficial dos Escoteiros da modalidade básica no Brasil. Na década de
sessenta muitos chefes e seniores discutiam abertamente um novo uniforme com
opção da calça comprida. Diziam que o caqui não era bem aceito nas atividades
sociais e os mais novos não se sentiam bem com a calça curta. Foi uma época que
a apresentação não só dos jovens, mas de toda a liderança escoteira estarem
sempre conforme a tradição do momento. Caqui e calça curta com o chapelão.
Lembro com saudades quando o Trio Iraquitan surgiu com seu LP com músicas
escoteiras portando em sua foto o caqui curto e o chapéu.
Entretanto a pressão era
enorme para que fosse discutido uma nova uniformização. Assim em 1975/76
formalizou-se o Uniforme Social depois chamado de traje Azul mescla. De novo
poucos decidiram esta nova escolha. A UEB enviou a todos os Grupos Escoteiros
um ofício via correio explicando como ele seria confeccionado, quais as
ocasiões para o uso e juntou-se um desenho e pasmem-se: - um pedaço do pano
tanto da camisa como da calça comprida. Havia a preocupação do visual idêntico
em todo Brasil. Para maior formalidade foi dado à possibilidade do uso do
paletó e gravata. No POR se sacramentou
as normas e uso. Todos ficaram sabendo que o dirigente de qualquer atividade
determinaria qual uniforme deveria ser utilizado. O Social ou o caqui. Interessante
que em alguns cursos aconsenlhavam-se a levar os dois para que pudessem
assimilar o uso e a apresentação. Era uma época onde o garbo era questão de
honra. Isto mesmo. Fazíamos questão de estar bem uniformizados.
Alguns anos mais tarde o Social já chamado
de Traje passou a ser usado em muitos estados brasileiros desta vez com apresentações
não condizentes pois o social de tecido de tergal passou ao Jeans simples, com
calças de cores diversas. Isto desvirtuou por completo a ideia do Social para
uso em atividades sociais. Em 1984/85 foi formalizado a Coeducação no Brasil e
um novo uniforme foi determinado para as jovens. Isto durou até a década de
noventa onde a maioria por autorização da UEB passou a se vestir com o caqui
desde que decidido pelo Grupo Escoteiro. Durante anos a banalização foi
completa. Sempre mudando alterando muitas vezes sob pressão e outras por
decisão de um líder nacional. Até mesmo o chapéu que antes era encontrado nas
lojas escoteiras foi descartado. Alguns disseram que a Prada maior fabricante
não se interessou mais. A procura de outra não ouve e o chapéu foi substituído pelo
Boné. Cada Grupo Escolhia o seu.
Hoje a cobertura passou a ser uma escolha do
grupo e muitas vezes pessoal mesmo que o POR tenha determinação para isto. A
loja escoteira vende com o afã de faturar diversos tipos de cobertura e uma
feita de brim ou similar copiada de outros países é usada por muitos seniores e
chefes. É comum ver o dirigente com este tipo de cobertura e seus jovens sem
nenhum. A banalização chegou a tal ponto que muitos consideram o lenço como uma
maneira de se dizer escoteiro. Daí ao seu uso em muitas atividades sem o
uniforme e até mesmo em reuniões se tornou um lugar comum. Nas atividades
nacionais e regionais, via-se o lenço usado em atividades onde os jovens se
apresentavam de short ou em trajes sumários. Sempre podemos afirmar que a culpa
desta Torre de Babel foram dos dirigentes da UEB.
A vestimenta foi implantada em
nome de uma nova postura, uma nova maneira de garbo. Diziam que a intenção era
de unificar o uniforme para todos os membros associados da UEB. Claro que os do
Mar e do Ar não aceitaram e mantém suas tradições. Em vez de ter algum em que
se basear como Marketing a vestimenta teve o privilégio de ter várias
composições na sua forma e a escolha foi deixada para que os grupos escoteiros
decidissem. O que nunca vimos em uma organização ou associação seja civil ou
militar que preza sua apresentação foi autorizada no escotismo. O uso deixou a
desejar como Marketing e pode-se ver que algumas tropas e alcateias destoam na
apresentação onde cada membro usa como quer. Isto sem esquecer é claro a
apresentação do seu líder que se apresenta de maneira inconveniente para servir
de exemplo. Nota – Nem todos claro.
Finalmente vemos que o Caqui e a
Vestimenta estão lado a lado representando o escotismo básico brasileiro. Não
discuto a validade da vestimenta desde que mostre realmente que somos um
movimento onde o exemplo da apresentação do garbo da formação moral é levado a
sério. Certo ou errado ainda teremos que esperar muito uma conjunção de fatores
onde a escolha de uma vestimenta ou uniforme seja discutida e aprovada por
todos associados. Decisões unilaterais, visando quem sabe o lucro nunca terá um
final feliz. Posso estar enganado mas quem viver verá!
Não tenho a pretensão de
fazer um histórico completo do uniforme escoteiro no Brasil. Não sou um
estudioso no tema. O que escrevi faz parte da minha vivencia e de alguns fatos
que fui testemunha ocular. Sempre defendi o caqui como o símbolo escoteiro em
nosso Pais. A implantação da vestimenta benéfica ou não vai ter outro centenário
para dizer se valeu a pena. Isto se outro dirigente não resolver mudar... De
acordo com suas escolhas pessoais!
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