Crônicas de
um Chefe escoteiro.
Os donos do
poder.
Entra dia sai dia, vai mês entra mês e lá se
foram quase setenta escoteirando. Aprendi tanto e me senti o homem mais feliz
do mundo como escoteiro. Adotei uma causa maravilhosa voltada para um tipo novo
de educação, através do aprender fazendo, tudo ao ar livre, no campo, fazendo
coisas que nunca fiz eu costumo pensar que ainda não aprendi nada. O que
adianta aprender o que é honra? Caráter? Ética e respeito? O que adianta fazer
uma promessa e dizer que faremos o melhor possível para cumprir uma lei? Afinal
não sou juiz e nem Salomão para julgar alguém e os que se comprazem a fazer do
escotismo a sua moda esquecendo que temos uma Lei e uma Promessa.
Tento ser autêntico, mas tem
muitos que não são assim. Eles estão errados? Porque eles se julgam superiores,
se colocam em um pedestal como se fossem os donos da verdade será que eles
merecem nosso respeito? Pergunto-me se são escoteiros, imbuídos no espírito
fraterno, no espírito de servir e a ser cortês. Abusar dos mais humildes,
daqueles que se sentem indefesos e se mostram como os donos do poder é papel
esperado de um líder ou um Chefe escoteiro? Hoje já velho mudei muito. Antes
nunca levei desaforo para casa. Achava que se aprendi a fazer a massa e sabia
fazer o pão não tinha que dar explicações a ninguém. Não é bem assim. Somos um
movimento voluntariado e, portanto normas devem ser obedecidas, mas tudo
sobre a prisma da ética e do respeito
pessoal.
Até aí tudo bem estou de pleno
acordo. A hierarquia tem de existir para funcionar a engrenagem do escotismo. O
que não posso admitir é esta arrogância, esta falta de cortesia de amor ao
próximo e principalmente o respeito. Isto é fraternidade? Abusam da autoridade
com os oprimidos e não falo do poder civil, nada disto, falo do poder
escoteiro. Podem até me contradizer que não existe tal poder. Será? Uma
liderança que exemplarmente não dá satisfação a ninguém que decide temas que
interessam a todos sem consulta se apoiam na miragem estatutárias para dizer
que a organização tem normas e isto lhe dá o poder que possuem?
Vi na Internet um pequeno artigo de
Nilton Mendonça que me chamou a atenção. Ele assim escreveu aos que pensam serem
os donos da verdade e do poder. – Não quero
glorias nem tão pouco me glorificar. Quero apenas o respeito! Seu
respeito. Não preciso que me diga de que lado nasce o sol, eu só quero seguir a
minha vida. Eu me escrevo em letras grandes, o meu EU é somente... Eu, meu
nome. Quero contenta-me em viver fazendo, e sendo feliz, jogando fora as opiniões,
as outras opiniões. Guarde pra você o que me diz respeito e só me fale se for
realmente pra corrigir o que penso que é normal. Ele continua dizendo o
que pensa sobre este poder que se acha superior a todos.
Eu me pergunto quem são essas
pessoas que dizem ser donos da verdade, donos da razão. Quem são esses que
dizem ser politicamente corretos, mas não sabem nem mesmo o significado da
palavra respeito e fraternidade. Quem é essa massa que na hora de decidir o
futuro diz não querer saber de nada e depois ficam se perguntando quem são os
responsáveis por tal baixaria? Quem são esses que não usam máscaras, mas fingem
ser seu amigo e depois nem mesmo fingem lhe conhecer. Quem são essas pessoas
que saem as ruas por motivos banais e fúteis e depois ficam a murmurar baixinho
sua insatisfação pelo que realmente acham que é importante?
Sei que cada capitulo que escrevi
até hoje não é novo, ele já foi extinto da memória de muitos. Sempre teremos
estes que se dizem escoteiros, que se acham acima do bem e do mal, que tomam
atitudes não condizentes com o respeito, com a verdade, nunca olhando nos olhos
e dizendo o que se deveria dizer. Está se espalhando como uma pequena epidemia em
todas as camadas escoteiras que pensam que são os donos do poder e da verdade.
Não vou chamá-los de ignorantes. Afinal ignorantes não são os que não sabem a
verdade, ignorantes são os que se afirmam serem donos da verdade absoluta.
Não posso julgar a cada um que
resolveu sair do Escotismo reclamando destes lideres que nem deviam estar
atuando no escotismo que Baden-Powell tão bem definiu como um movimento
fraterno e universal. Quando Lideres nacionais ou regionais, quando chefes de Unidades
locais passam a se achar donos da verdade, a tomarem atitudes sem antes ver e
ouvir a quem de direito, a se tornarem juiz sem ter poder para tal, me lembro
de um líder de Gilwell Park já falecido que escreveu:
- Se nos tornarmos arrogantes,
complacentes e a nos fazermos passar por demasiado auto-suficiente, então - e
apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento. Feliz palavra de John
Thurman. Muitos associados adultos, rapazes e moças estão saindo. Reclamam das
atividades, reclamam do poder que alguns exercem sem ver a voz da razão.
Precisamos meditar. E ele finaliza: - Os únicos capazes e possíveis de por o
escotismo a perder são os próprios chefes e dirigentes. Nada mais a dizer!
Nota: Escrevo
este artigo, copia de muitos que já escrevi no passado, pois sempre acreditei
que somos um movimento ético, verdadeiro sem sonhos de poder já que nossa finalidade
é gloriosa, pois estamos trabalhando com jovens pensando que eles no futuro
terão tudo aquilo que acreditamos na Lei e na Promessa Escoteira. Sei que nunca
devemos ter a pretensão de sermos os donos da verdade; porque as nossas
verdades jamais serão unanimidade para os outros.
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