Crônicas
de um Velho Chefe Escoteiro.
Um
sonho escoteiro distante.
Tenho muitas histórias para contar.
Histórias que vivi, histórias que sonhei, histórias que criei na minha mente
imaginativa pensando que um dia as pudesse viver. Mas pensando bem o que são
histórias? Dizem os mestres que história é uma palavra de origem no antigo
grego “historie” que significa “conhecimento através da investigação”. Que ela
é uma ciência que investiga o passado da humanidade no seu processo de
evolução. Então é isto que eu venho a escrever?
Alguns mais chegados, que não tive
a honra de apertar a mão escrevem vez ou outra que elas são contadas na seara
das suas reuniões, dos acampamentos dos fogos de Conselhos e nas tardes de
chuva ou em algum lugar onde estão os jovens escoteirando. Já ouve um que
contou maravilhas das apresentações em fogo de conselho onde a meninada se
esbaldava a representar o que o velho Chefe contou. Alguns não dizem se os
jovens gostaram outros alardeiam que minhas histórias sempre tem apetite demais
entre aqueles mais afoitos que vibram como escoteiros. Acredito pois seria
cruel duvidar.
São poucos que comentam dizendo o
que acharam, tem muitos que curtem e tem aqueles “anônimos” que leem e não se
dão a conhecer. Houve um tempo que os famosos lideres em suas hostes escoteiras
me deram a honra de ler e comentar. Naqueles velhos tempos eu costumava
responder, mas o tempo foi passado e achei melhor me calar. Nem sempre sou bem
interpretado. Ser malcriado, gritar aos ventos, subir na burra do cata-vento
não ajuda a convencer ninguém. Imito Gandhi e outros tantos que acham que na
paz podemos chegar lá.
Dizem por aí que me acho um
Bipezinho fardado de caqui. Não esquento a cuca. Se for o tal é conhecer o
escotismo então eu sou mesmo um Baden-Powell esquecido nas suas memórias. Mas e
dai? Gato molhado pula prá todo lado reclamando da água que levou. Más quá,
como diz o mineiro, até onde pude chegar ou vou chegar algum dia? Necas que não
sei. Se hoje na minha idade nunca fui convidado para mostrar o escotismo na sua
realidade, pelos plantões do momento na liderança, eu sei que a verdade o
convite fica na saudade. E bem dizia a minha patroa: Falar o que? Com esta tosse
de arriba tu não dá mais prá gargantear.
Antigos adestradores, agora
chamados de formadores, e alguns amigos que foram investidos como Mestres professores
escoteiros não seguem minha cartilha. Ela é quadrada, destoada da mecânica
original. Eles têm o rumo, tem a trilha pronta e a minha faz parte de um
passado que não volta mais. É... Um caminho perfeito. Se sentem bem dando o que
sabem a nova safra que amanhã irá despedir e ficar no anonimato escoteiro. E
eles rindo leve e solto continuam no poder. O caminho está feito. Se a estrada
tem asfalto de segunda classe e vai se deteriorar a elite escoteira não está
nem aí. Discutir jamais. Não sou Jesus Cristo, mas poderia dizer: Baden-Powell,
será que eles sabem o que fazem?
Engrosso a xarada e me
pergunto. Sou história ou estória? Dizem que a diferença é que história é
baseada em documentos ou testemunhos, e estória é baseada em elementos
fictícios. Ops! Então eu sou estória, sou ficção. Meu escotismo não pode
existir no entardecer da nova era, do novo escotismo, na ilusão de quem já foi
não é mais. Perguntei a alguns especialistas escoteiros se o termo estória é
isto mesmo. Responderam em unicidade que a palavra história sim é o certo. Ela descreve relatos baseados tanto em fatos
verídicos como fictícios.
É mesmo. Ainda fico na duvida se sou
verídico ou fictício. E o tal fundador que um dia disse que ninguém tem
interesse em ouvir ou pedir sugestões aos que passaram dos seus sessenta anos.
Ele na porta de sua morada, olhando o Kilimanjaro ria e completava: - Afinal o
velho escoteiro viveu uma vida, passou por trilhas de obstáculos, aprendeu como
contorná-las e os novos resplandecentes dirigentes não querem entrar nesta
seara. Tateiam como profetas a fazer um novo escotismo que um amigo meu chama
de neo-escotismo. Olalá! Dou risadas porque ainda não sei o que é
neo-escotismo.
Enfim, vou passeando no
teclado minhas letras como se fosse um “apanhador nos campos de centeio”. Dizem
que a maioria das pessoas que ficam de cara amarrada, ou não sabe sorrir ou tem
um sorriso pavoroso. Upalalá! Antigamente eu achava meus chefes inteligentes,
me achava um burro junto deles. Afinal eles eram dirigentes, bons de bico, bons
de fornada, lideram a escoteirada que não sabe reclamar. Fico na minha, quando
as pessoas sabem um bocado do que dizem, a gente leva um tempão para descobrir
se a gente é que é burro ou elas que são!
Há coisas que a gente não
deve discutir e melhor deixar do jeito que está. Tem hora “Entonce” que dá
vontade de chamar o sujeito, enfiá-lo em uma barraca de duas lonas em noite de
chuva e dizer: Dorme no molhado e se convença que seu caminho não leva ao
sucesso. Mas é perda de tempo. Sei que setenta anos escoteirando e setenta e
seis vivendo não é tão mal assim. Afinal o sol só aparece quando cisma de
aparecer. E o engraçado mesmo é que a gente quando diz alguma coisa que ninguém
entende eles sorriem dizem adeus e fazem exatamente o que eles querem. Que
coisa sô!
E chega por hoje. Vou
vivendo e ficando na beira do caminho, pois já sou historia ou será que é
estória? Seja o que for não desisto. Desta água eu já bebi e vou beber prá
sempre. Para mim não tem chuva no molhado, vou bicando aqui e ali e quem sabe
um dia a porteira do Seu Jeremias irá abrir sem ranger ao puxa empurra? Que
Baden-Powell me ilumine e me dê forças. Graças a Deus!
Nota de rodapé - Eu ia escrever uma história. Quem sabe
bonita, que cativasse meus leitores a dizerem coisas lindas sobre o que
escrevi. Mas comecei a escrever e cheguei à conclusão que devia falar outra
coisa. Afinal se eu não aceito meu passado do jeito que ele é não terei futuro
neste mundo. Eu sei que mesmo não tendo inimigos que é preciso muita coragem
para enfrentar alguém que se diz ser meu amigo.
Ainda piso em aguas revoltas. Até onde o meu escotismo que acredito irá
chegar?
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