Conversa ao
pé do fogo.
O
que sabemos sobre a EVASÃO escoteira?
Todos nós temos um motivo para
ter entrado no Movimento Escoteiro. São muitos. Mas acredito que a maioria
sonhava um dia colocar em ação seu espírito aventureiro, explorador, acampar em
lugares distantes, se embrenhar em uma floresta ou poder um dia ver o nascer ou
o por do sol do alto de uma montanha. Uma fantasia que muitos querem realizar.
Outros dizem que não é bem
assim. Principalmente os adultos. Teriam eles um motivo especial? Dizem alguns que
acreditavam um dia poder ajudar na formação da juventude e o escotismo daria
esta possibilidade. Outros foram levados pelos filhos. Fico na duvida se foi
isso mesmo que o fez entrar nas hostes escoteiras. Queira ou não a filosofia e
o método de Baden-Powell tem um enorme charme que atrai aos que buscam algum
diferente e no escotismo se completam.
O jovem ou a jovem busca seu
espírito aventureiro, companheirismo, fazer diferente e descobrir se o que
falam do escotismo é verdadeiro. Enquanto participantes alardeiam seu amor
pelos acampamentos, suas histórias de aventuras, a fogueira nas noites
enluaradas e aquele velho sonho de se tornar um herói. Alguns esquecem a tecnologia
moderna dos celulares das telas de cinema ou computador. Momentaneamente deixa seus
amigos do bairro e parte para mais esta aventura, uma escolha que um convite o
fez pensar diferente.
No início a perseverança é
companheira. Acreditam que participam de um movimento tão sonhado, persiste sua
tenacidade sua garra e a dedicação o mantem ativo por meses, quem sabe anos. Alguns
tiveram a sorte de começar sua lide escoteira em um Grupo bem formado, onde se
sentiu parte da Grande Família Escoteira. Outros não tiveram essa sorte.
É nesta hora que começa a
evasão. Os dirigentes, os amigos, a forma de escoteirar não era como pensou.
Alguns procuram outra escola escoteira. Outros criam sua própria escola
acreditando que agora poderão realizar seus sonhos aventureiros no que
acreditam ser tradicional. Se Baden-Powell acreditava que se precisava de pelo
menos dez anos para transmitir ao jovem a formação escoteira, hoje isto não
acontece mais.
Alguns céticos não acreditam que a evasão
escoteira é maior do que dizem. Outros sentem na pele que ele próprio se tornou
a “evasão”. Há uma performance em dizer que nosso efetivo cresceu. Alguns
ressentidos tentam explicar para poucos sua saída. Eles infelizmente não mais
serão lembrados. Tornaram-se ausentes. Dizem que chegamos aos cem mil registrados
na EB. Nunca ficamos sabemos qual foi o “Turnover” (rotatividade de membros) do
ano que passou. Parece um “tabu” e o porquê ficou no passado.
Não entendo porque um tema
como este não é discutido, pesquisado ou mesmo estudado para ver até onde pode
ser estancada esta perversa evasão. Muitos chefes tem sua própria opinião. Escrevem
ou comentam sobre o tema sob sua ótica e seu conhecimento. No entanto entra ano
sai ano tudo continua como antes. A lógica do porque tem muitos caminhos muitas
filigranas. Quando se pergunta sobre os resultados eles não estão à mostra. A
sociedade e os meios educacionais de uma maneira geral desconhece o Movimento
Escoteiro.
Se pensarmos bem ainda estamos
na idade da pedra no tratamento com nosso próximo, no respeito, na cidadania e
na ética esperada entre irmãos escoteiros. Nossa fraternidade às vezes
desencanta o espirito da irmandade que não parece real. Assim o voluntário se sente
abandonado em suas tarefas e nem mesmo os cursos satisfazem ou explicam esta
maneira de agir.
A “casta” na Unidade Local
não tem prestígio, nunca é consultada e ali é o nascedouro de muitas
divergências, cujos lideres que poderiam solucionar usam seu poder de chefia e
dentro das normas disciplinares tomam medidas que nem sempre são as melhores. Quando
se espera um “Salomão” o que vemos é o contrário, quem sabe antipatias já
existentes e assim vemos o aumento da evasão. A democracia entre os membros não
é abrangente. Uma cortina de fumaça se esconde entre normas e tropeços que nada
produzem para evitar evasões.
Dizem que fazer “escotismo” hoje no método Bipidiano
não é mais possível. As diversas normas criadas, as qualidades desejadas
afastam aqueles que gostariam de fazer um escotismo aventureiro. Os cursos não
traduzem as atividades aventureiras esperadas e muitas vezes é um amontado de
diretrizes educacionais que nada tem a ver com o método de Baden-Powell. O ponto
de vista do jovem perdeu-se no emaranhado de normas e diretrizes feitas por
adultos.
A cada ano não se vê uma preocupação com a evasão
escoteira. Tudo mudou dizem os lideres para melhor. Entretanto os resultados
repito, não são os melhores. Mesmo com normas disciplinares o poder ainda é realizado
por poucos. Se perguntarmos aos que estão saindo cada um tem uma história para
contar. Quem sabe os sonhos burlescos de muitos que estão ao nosso lado dizem que
o escotismo não foi o que pensaram.
Um simples artigo, nada que
possa dizer do resultado final. Sei que sem números reais, sem um estudo sério
e uma pesquisa em todas as Unidades Locais não vamos acabar com este mal que
assola o escotismo Brasileiro. Meu fraterno abraço aqueles que se tornaram uma
página da história!
Nota - Há tempos fiz
uma serie de artigos sobre o motivo do porque muitos estão deixando o Movimento
Escoteiro. A UEB até hoje não tem uma politica participativa e democrática. Não
tem pesquisas abrangentes sobre o tema e pelo que eu saiba não comenta sobre a
evasão. Os mais próximos a ela sempre tem a mesma resposta. Quando publiquei a
série “Eles estão saindo do Escotismo” pela primeira vez foi um dos mais
comentados e lidos em sua época. A Escoteiros do Brasil tem sempre “politicamente
corretos” na linha de frente para defender, explicando o inexplicável. Uma
pena!
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