Crônicas de
um Chefe Escoteiro.
O poder do amor.
Quem lê ou ouve alguém falar da
Filosofia Escoteira, fica estupefato. É linda demais. Juventude unida por um só
ideal. Voluntários que fazem de tudo para que esta estupenda ideia de um
General Inglês possa dar frutos criando homens e mulheres dentro de um paradigma
de amor ao próximo, lealdade, caráter honra e porque não uma ética escoteira em
que todos possam viver fraternalmente.
Muitos vieram dos velhos tempos outros dos
novos tempos. Acredito que ambos conhecem a fraternidade, a cortesia e o
respeito daqueles que se prontificaram a colaborar. Sem soldo, muitas vezes sem
um muito obrigado. Brinco educadamente que o escotismo não tem dono, não pode
ter. Ele é universal e o Fundador dizia que seus frutos seriam para manter a
paz entre os homens para um mundo melhor.
Mas eis que apareceram normas,
regulamentos, regimentos, leis, roteiros de ação, estatutos, código de conduta
e tantas outras para dizer o que cada um pode ou não pode fazer. Não existe
mais o salomônico Chefe para mostrar o caminho e sorrindo dizer o que se pode fazer.
Antes um escotismo alegre, solto, livre como o vento a correr pelos montes,
pelas trilhas desconhecidas procurando um lugar para acampar. Hoje? Tudo mudou.
Primeiro as normas, pedido escrito se pode ou não fazer. E claro ter a autorização
do Chefe do Poder.
Se isto fosse feito de uma
maneira fraterna, educada, sem o cunho de imposição poderia ainda haver aquele
sonho dos meninos correndo pelas matas das cidades sem um adulto ao seu lado
para dizer o que fazer. Mas não, sem perceber apareceram os “donos do poder”. E
então o escotismo mudou. Alguns chegaram com um sorriso outros arrogantes,
ríspidos a dizerem o que é certo e errado, mostrando o artigo, a norma e a lei
escrita por eles mesmos pensando que assim seria o certo para dizer onde pisar
e escoteirar.
Não
critico normas, leis e o escambal. Precisamos delas na sistemática moderna escoteira
onde se perdeu a liberdade de ir e vir e que tinha sim um sabor todo especial.
A liberdade da responsabilidade já não é mais a mesma. O confiar na palavra
escoteira deixou de existir. Agora se agarra ao artigo tal, a lei tal, a norma
diretiva que um bando de lideres acreditou que seria o melhor a fazer.
Onde foi parar a mística? Aquele
sorriso ao correr pelos campos para descobrir o imponderável? Onde foi parar o
sonho da descoberta, a mangueira alta sombreada a beira de uma cascata de águas
cristalinas para que se possa sorver seu néctar e a sede matar? Tudo agora é
norma, é lei, ande reto e não pare a não ser quando eu mandar. Olhe você só vai
se cumpriu seu dever se pagou a soma que lhe quiseram cobrar. E dizem que ele o
General se vivo fosse faria assim também.
Mas ainda vejo sorrisos, sonhos,
vontade de acertar e caminhar como Caio Martins sempre caminhou. “Com as
próprias pernas”. São meninos, meninas que se formam como um punhado de
sonhadores a fazer um escotismo que acreditam poder realizar. Ainda temos
chefes que fecham os olhos para os adoradores do poder e se metem a sair por aí
com um bornal, cheios de fantasia, imaginação, encantamento a procura de um
escotismo encantado. Não foi assim que ensinou o General?
Entristece-me a discussão de
normas, regulamentos e o escambal. – Chefe, esta difícil... Não dá para continuar...
Não dá? Se todos que são achincalhados e humilhados na sua sina escoteira
pensar assim, quando iremos vencer esta batalha para dar aos jovens pelo menos uma
parte deles que ainda acreditam na graça, no encanto na grandiosidade de um
escotismo que julgam perfeito para fazer? Belo é o escotismo de quem acredita
de quem luta e não desiste quando na curva encontram espinhos sem olhar direito
e ver rosas formosas mostrando o caminho da felicidade.
Sei que os donos do poder
dificilmente vão mudar. Eles não tem histórias e querem fazer histórias. Qual
delas? A do escotismo puro, com cheiro de mato, com trilhas pisadas sem saber aonde
vai dar? Pode ser. Mas isto só irá acontecer se ombrear ideias, valores éticos
sem dissabores que muitos querem criar. Mas olhe, por favor, não me venha dizer
que as normas vieram para ficar! Eu não preciso delas, nunca precisei. Elas
sempre existiram na minha maneira escoteira de viver!
Nota –
E o velho Chefe sorrindo completou: - Vocês
não podem mudar certas circunstâncias ou situações, mas podem adaptar-se a elas
sempre, escolhendo a forma do mal menor. Pode não ser o ideal, mas será o
melhor. Aproveitem as oportunidades que lhes derem, mesmos que sejam
aparentemente pequenas. As grandes árvores vêm de pequeninas sementes. Abraços
fraternos.
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