Quem bate? É o friiooo!
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Sei não... Alguns dizem que amam outros que detestam. Já gostei do frio e hoje
não mais. Tudo que tenho de “bode na sala” aparece quando o frio chega e a
maioria dos meus “pobrema” dão as caras. Agora além das outras fui premiado com
uma tal de labirintite. Chegou sem avisar e me derrubou. Tem dois meses que sou
premiado com ela e vômitos. Puxa que danação, prá não dizer que é bão demais.
Lá fui eu uma, duas, três e outras vezes correndo no Pronto Socorro atrás dos “homes”
do Jaleco Branco. Era injeção no traseiro, soro na veia e o escambal.
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Faz parte da nossa vida, não está escrito lá que “seja feita a Tua vontade,
aqui na terra como no céu”? Não reclamo. Afinal a vida continua e ele decide
quando parar. “Quando o frio chega, é batata”! Lá vem ela me abraçar. Tudo vai
resolver, já tenho marcado para final de setembro uma consulta com o
especialista. Falta pouco tempo. Vamos aguardar afinal “tô nu SUS” e não posso
reclamar. Nessas horas de frio me ponho a lembrar de quando escoteirava por aí no
meio do gelo, das geadas tilintando de frio em volta das fogueiras para esquentar.
- Esta
aconteceu há tempos. E põe tempo nisso. Tonico chegou correndo na Oficina de
meu pai. – Vado chegou uma Patrulha de escoteiros do Norte. Dizem que vão para
o Ajuri Nacional no Rio de Janeiro. Estão
na Praça Serra Lima. – Dei tchau pru papai e lá fomos até a praça na minha bicicleta
pneu balão Philips. Eram quatro. Uniformizados com suas reluzentes bicicletas
cheias de balangandãs. Sempre Alerta, aperto de mão e “zaz” para a sede. Em
menos de uma hora a escoteirada e a lobada estava lá. – Viemos da Bahia e vamos
prú Rio para o Ajuri Nacional! Putz, que inveja.
- Iam
embora no dia seguinte. Cada um dos mais de cem meninos que estavam em volta
deles ofereceram alojamento, com cama, roupa lavada e comida no bucho. Eu levei
um, se não me engando de nome Joaquim. De que não sei. Alto magro, uns dezesseis
ou dezessete anos. Almoçou, jantou e a noite fomos paquerar as meninas na pracinha
Serra Lima. Claro vesti meu uniforme e a praça encheu. Os causos conto depois.
Fomos dormir lá pelas tantas. Ele disse que preferia dormir na rede. Rede? Invejei!
Nunca tinha dormido. – No dia seguinte foram embora acompanhados de dezenas de
nós até a ponte de São Raimundo.
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Resolvi comprar uma rede. Trabalhei dobrado com minha caixa de engraxate. Três
meses. Custava sessenta paus a vista. (não havia fiado nem prestação). Comprei.
Linda, meio verde musgo com beirolas brancas. Junho, o frio chegou. Fomos
acampar no pé do Pico Ibituruna, um pico de frente para nossa cidade. Orgulhosamente
levei a dita cuja e a turma me olhando. Chico disse: - Tem certeza? E o frio? –
Faço fogueira eu disse. – Donato riu: - Aposto que lá pelas uma ou duas vai prá
barraca!
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Meia noite e eu inquieto na rede. Não havia posição para dormir. Marinheiro de
primeira viagem. Mesmo enrolado na manta o frio gelava o fogo ajudava só de um
lado. Acendi outra fogueira. Uma de cada lado. Embaixo nas costas e trazeiro só
gelo. Caramba! Porque fui inventar? Pensei em ir prá barraca. Mas o orgulho do
desafio era maior que eu. Lá pelas três e meia uma garoa! Chuva intermitente.
Eu na rede joguei uma lona... Nada, não resolveu.
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Rael levantou e disse: Vado, venha não vou contar para ninguém. Minha capa
preta, na frente um fogo espelho que ele fez. Quentinho. Dormi. Rede? Ficou para
minhas manas quando quisessem descansar usando o pé de Manga e Abacate do
quintal da nossa casa. Anos depois quando descemos o São Francisco a bordo do Benjamim
Guimarães, o Capitão ofereceu rede prá nós. Eu necas de catibiriba. Dormi
enroscado na minha manta na proa da barca e os outros na rede. Se não
conseguiram não me disseram.
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Olhe, já dormi em cada lugar de fazer medo, em cima de uma árvore correndo de
uma jaguatirica. Na subida da Serra da Piedade cheia de pedras, no Pico da
Bandeira por duas vezes, no Cipó, no Itacolomi e no Itatiaia. Centenas de vezes
olhando as estrelas, debaixo de chuva, de vento que nem dá para contar. Mas
dormir na rede nunca mais. Minhas costas só reclamavam. Bom mesmo era enroscar
em minha capa, sentar com as pernas cruzadas em volta de um fogo e cochilar.
Bom demais. Ainda tenho duas redes que nem colocar na varanda coloco. Rede? Desculpe
os aficionados, mas eu nunca mais!
Nota
– Nesses dias frientos a barra para os velhos escoteiros como eu pesa. E como
pesa. Chegou de presente uma labirintite acompanhada de vômitos como se fosse
um prêmio que fui sorteado. Algumas vezes fico de molho, o mundo rodando e quem
sou eu para corujar minha máquina que me leva junto a amigos. Hoje acordei sem
poder levantar, reclamei comigo e disse: - Vado vá lá, conte uma história para
alegrar e depois volte prá cama! É prá já! E aqui tô eu!
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