Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Cem anos de
Insígnia de Madeira – 1919-2019.
Introito: Muita coisa
mudou desde o primeiro curso da Insígnia de Madeira em Gilwell Park. Foram 12
dias em que os alunos aprenderam técnicas e como lidar com os jovens conforme o
método de BP. O tempo passou e hoje os cursantes da parte II da IM (estou
desatualizado) recebem uma formação bem diferente do que era antes. Eu daria
tudo para voltar no tempo e ser um aluno para ver o que Francis Gidney o Diretor
do Curso apoiado por Baden-Powell aplicou aos primeiros alunos. Vejamos a
história desses dias que ficaram marcados na história.
- Na primeira década do Movimento Escoteiro, a formação
dos dirigentes era feita de maneira assistemática e empírica. Formada uma
patrulha, os jovens tinham o costume de pedir a um irmão mais velho, ao pai,
tio ou a um amigo que desempenhasse o papel de Chefe. Estava claro, no entanto,
que não era suficiente treinar garotos entusiasticamente interessados no
programa escoteiro. Os líderes, principalmente, é que precisavam de treinamento.
O general Sir Robert Lockhart, dirigente da Associação
dos Escoteiros da Inglaterra, afirmou, a propósito do assunto, em 1954: - “Treinamento é algo absolutamente vital, interessante e importante,
porque nosso Movimento é, acima de tudo, um Movimento de Treinamento…” O
espírito do Escotismo não é uma coisa que pode ser ensinado, disse. “Pode ser absorvido e adquirido vivendo com as pessoas que mostram isso
publicamente em suas vidas e em uma atmosfera deste espírito.”
Os pioneiros do Escotismo entenderam a utilidade e a
urgência de que os líderes conheçam seus objetivos e saibam como alcançá-los.
James E. West, primeiro Chefe Escoteiro dos Estados Unidos, que ficou no posto
por mais de 33 anos, definiu este problema quando perguntado sobre quais as
três coisas que o Escotismo precisava mais. Respondeu: “treinamento,
treinamento, treinamento”.
O primeiro curso para a formação de chefes escoteiros
aconteceu em Londres, em 1910. Outros cursos foram realizados durante os quatro
anos anteriores à 1ª Guerra Mundial. Todos eles foram considerados
experimentais, com muitas palestras e pouca atividade prática. Baden-Powell
procurava um local adequado para desenvolver a formação de dirigentes. Queria
fazer como havia feito em Brownsea, pois chegara à conclusão de que os cursos
seriam mais eficientes se fossem realizados no campo, fazendo-os funcionar como
se fosse uma tropa, no sistema de patrulhas.
Em fins de 1918, William de F. de Bois Maclaren, amigo de
Baden-Powell e Comissário Distrital de Rosenearth (Escócia) aceitou doar uma
área para que os escoteiros de menos recursos pudessem usar para acampamentos.
B-P sugeriu que o espaço também servisse para a formação de adultos, e em 1919,
adquiriu a área procurada, ao lado da floresta Epping, ao norte de Londres. O
local foi chamado de Gilwell Park e inaugurado em 25 de julho de 1919. A grama
perfeita, os carvalhos centenários, o pequeno museu e as relíquias escoteiras
conferem magia a este local rico em simbolismo para o Movimento Escoteiro. A
Insígnia de Madeira surge no Movimento Escoteiro pelas mãos de Baden-Powell,
associada ao primeiro curso realizado em Gilwell Park, de 8 a 19 de setembro de
1919.
O símbolo do treinamento são duas pequenas contas de
madeira, cópia de um velho colar presenteado a Baden-Powell por Dinizulu, rei
Zulu, durante sua permanência na África austral, em reconhecimento à
superioridade guerreira e pelo tratamento digno dado ao rei e a seu povo. O
colar de contas original encontra-se guardado na “Baden-Powell House” em
Londres. É um colar de aproximadamente 7 metros, com mais de 2000 contas de
madeira, passadas ao fogo. Na sua origem, a conta de madeira passada pelo fogo,
representava o tição do primeiro fogo aceso pelos antepassados. As contas foram
esculpidas de uma madeira africana de cor amarela e de medula macia, que
deixava um pequeno entalhe natural em cada extremidade quando era trabalhada.
As contas evocam também o “fogo sagrado”, símbolo de fidelidade a um ideal.
Baden-Powell apoiou o primeiro curso em Gilwell Park que
foi dirigido por Francis Gidney, dando a cada um dos participantes uma das
contas do colar que pertencera ao chefe africano. A ideia era conceder algo que
tivesse um significado maior que um diploma ou certificado. Os portadores da
Insígnia de Madeira usam uma correia que tem suas extremidades unidas por um nó
de aselha e, em cada ponta, fixadas as contas por um cote de uma volta. Quando
a correia possuir duas contas, uma em cada ponta significa que o seu portador é
Escotista ou Dirigente com a Insígnia de Madeira concluída. Três contas, uma em
uma ponta e duas em outra, significa que o seu portador é Diretor de Curso
Básico. Quatro contas, duas em cada ponta, refere-se ao Diretor de Curso
Avançado. Seis contas são privativas do Diretor de Gilwell Park.
O lenço de Gilwell foi criado por Baden-Powell a pedido
de seus primeiros alunos. Primeiramente foi confeccionado no tecido “Tartan”,
homenageando o clã familiar dos MacLaren, mas que se mostrou futuramente muito
oneroso e de difícil aquisição. Alterou-se para o tecido do uniforme do
Exército Colonial Inglês, aplicando-se na ponta triangular um retângulo do “Tartan”
MacLaren, mantendo-se assim a referência aos que adquiriram as terras de
Gilwell.
O arganel, que fixa e ajusta o lenço ao pescoço é um
trançado de duas voltas de uma tira de couro, de perfil redondo e cor preta,
também conhecida como “cabeça de turco”. O uso deste arganel significa que o
seu portador possui o Curso Básico, pré-requisito para iniciar as três partes
do último estágio oficial na formação de um Escotista. O alerta inicial,
entretanto, não pode ser esquecido: treinamento como um processo contínuo!
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