Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O sonho da formação escoteira.
De São Paulo para o Brasil e o Mundo.
... Estava pronto para montar e publicar um artigo sobre o Sistema de
Formação de Adultos e seu processo atual de aprendizagem pelo voluntário recém-chegado
ao Escotismo. Eis que me deparo com um relato interessante desde os primórdios do
Escotismo paulista. Porque não publicar?
Foi em São Paulo que surgiu em 1914 a primeira entidade escoteira de
caráter nacional: - “ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESCOTISMO” – (A.B.E). Seus mentores
foram Mário Sérgio Cardim, Júlio Mesquita e Olavo Bilac. Foi Mário Cardim que
selecionou dentre várias opções, a denominação “Escoteiro” e o lema “Sempre
Alerta” traduzidos dos termos originais em inglês “Boy Scout” e “Be Prepared”. Finalmente,
em 29 de novembro de 1914 foi realizada a cerimônia de fundação da A.B. E no “Skating
Palace”, na Praça da República Numero 59. Nesta ocasião com a presença de 450 escoteiros.
Foram aprovados os estatutos e eleito o Conselho Superior com mandato até 1919.
Mais tarde esse conselho se reuniu e elegeu a diretoria sendo o primeiro
presidente o Dr. José Carlos de Macedo Soares.
Foi o primeiro estopim para que os demais estados brasileiros tivessem
sua associação escoteira. Apesar do sucesso a iniciativa da A.B.E ainda estava
muito distante dos princípios escoteiros concebidos por Lord Baden-Powell. Suas
características eram fortemente ligadas ao militarismo e subvencionadas pelo
estado. Consequentemente a fraternidade escoteira mundial não reconhecia a
iniciativa da A.B.E e tantas outras como escotismo. Paralelamente, também sob a
inspiração de Mário Cardim, era organizado o Escotismo Feminino (aqui cabe uma
pequena nota: - O Bandeirantismo surgiu depois, baseado nos mesmos princípios,
e por bastante tempo os dois existiram simultaneamente). Em 1915 a A.B.E já
tinha representante em seis estados. Em 1º de Setembro Mário Cardim realizou
uma viagem a então Capital Federal em companhia de quatro escoteiros
uniformizados, e foram recebidos pelo Presidente da Republica, Venceslau Brás e
pelos ministros. Eles visitaram os principais jornais e aproveitaram para
divulgar o Escotismo.
Em 1916 foi organizada a primeira Escola de Chefes sob a direção do Ten.
Cel. Pedro Dias de Campos da Força Pública do Estado de São Paulo. Ele foi
figura fundamental nesses primeiros dias e por muito tempo permaneceu na
direção do Escotismo da A.B.E. Não podemos esquecer e colocar em posição de destaque
Benevenuto Cellini dos Santos, autor do “Emendário de Escoteiros”, livro de
instrução técnica para escoteiros e autor da letra do “Rataplan do Arrebol”
hoje hino da União dos Escoteiros do Brasil. Nesta época o movimento escoteiro
expandiu-se bastante, tanto que na década de 1920 chegou a haver cerca de
100.000 escoteiros. Logo após a I Guerra Mundial, foi notável a ação dos
escoteiros prestando serviços auxiliares durante o surto de gripe espanhola,
que vitimou milhares de pessoas no Estado e São Paulo.
Em 1917 é fundada no Rio de Janeiro a “Associação de Escoteiros
Católicos do Brasil” na paróquia de São João Baptista da Lagoa por iniciativa
do monsenhor André Arcoverde, vigário da Paróquia, Cônego Dr. Carlos Manso e os
Srs Edmundo E. Lynck, Rodolfo Malempre e o Dr. Joao Evangelista Peixoto
Fortuna. Essas Associação foi à primeira iniciativa propriamente dita que
seguia os princípios puros do escotismo, tanto que em 1921 foi reconhecida
internacionalmente pela Organização Internacional Escoteira como a primeira e
única entidade escoteira no país. Em 1920 Rodolfo Malempre mudou-se para São
Paulo onde liderou diversas iniciativas de escotismo em São Paulo com a fundação
da “Boy Scouts Paulistas” em 23 de setembro de 1923 com a ajuda do monsenhor
Francisco Bastos, vigário da Igreja da Consolação. Começou aqui a primeira iniciativa
do verdadeiro escotismo em São Paulo, ligada a uma Associação Reconhecida internacionalmente
e que seguia todos os princípios concebidos por Baden-Powell.
Em 1922 foi realizada uma homenagem ao Centenário da Independência nos
campos do Ipiranga com a presença de dez mil escoteiros. Nesta época passaram a
ser realizados os “Raids Pedestres”, nos quais os escoteiros percorriam grandes
distancias a pé. Foram realizados “Raids” em Natal – São Paulo, Recife, Niterói,
Belo Horizonte e Porto alegre entre outros. Entre 1920 e 1930 o Escotismo em
São Paulo foi fortalecido pela ação da Secretaria de Estado da Educação que
encampou a pedagogia escoteira no curriculum escolar e passou a oferecer nos estabelecimentos
de ensino a prática de “Escotismo Escolar”. A intenção era agregar os ideais de
Baden-Powell na formação da juventude e assim houve uma grande expansão do
escotismo no estado. Nesta época existiam diversas associações escoteiras
espalhadas pelo Brasil que com o tempo foram se unindo a nova entidade de
caráter nacional, fundada no Rio de Janeiro em 4 de novembro de 1924 e que até
hoje dirige os Escoteiros: - a União dos Escoteiros do Brasil.
Em 1940 o Estado Novo criou a “Juventude Brasileira” (de cunho fascista)
e incorporou todas as organizações juvenis por decreto, inclusive o escotismo.
A “Boy Scouts Paulistas” alterou seu nome para “Associação de Escoteiros São
Paulo” devido à proibição de nomes estrangeiros, e se negou a participar de
atividades de cunho político. A Associação foi fechada pelo DOPS (Departamento
de Ordem Politica e Social), seu Chefe geral foi detido e interrogado, mas não
permaneceu preso por interferência de altas personalidades, dando-lhe então
liberdade condicional. Durante os dois anos seguintes a Associação de
Escoteiros de São Paulo funcionou na clandestinidade, os mais jovens foram
dispensados, mantendo-se apenas os Pioneiros (Rover-Scout) e chefes, que
continuaram a se reunir e acampar, usando os uniformes apenas no campo.
Em 1942 a Associação de Escoteiros de São Paulo foi oficialmente
reaberta e com enorme influência regional, nacional e internacional. Esta época
se destacaram pelo apoio em diversas ações como: - Organização do 1º Curso da
Insígnia da Madeira com a participação dos maiores dirigentes nacionais e de
países vizinhos. – Implantação do esquema internacional de adestramento de “Gilwell
Park”. – Nomeação dos primeiros quatro diretores para a formação da equipe de
Adestramento, para cursos da Insígnia da Madeira. Tais nomeações foram feitas
pelo Bureau Internacional de Escotismo e por Gilwell Park, o Centro mundial de
adestramento. Participação de Chefes da Associação em cursos de formação de
Escotistas na Inglaterra e nos Estados Unidos. – Organização de Cursos da Insígnia
da Madeira e outros em diversos países da America Latina, inclusive na Jamaica
e Estados Unidos, liderados pelos nossos Escotistas.
Por volta de 1946, ainda por exigência do governo federal as unidades
escoteiras passaram a se denominar Grupos Escoteiros ao invés de Tribos como se
chamavam na época. Em 1954 em comemoração ao 4º Centenário da Fundação da
Cidade de São Paulo foi realizado o “Acampamento Internacional de Patrulhas”.
Continuaremos proximamente.
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