Crônicas de um Chefe Escoteiro.
A volta dos que não foram.
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Bom tarde! Sempre Alerta! – Ele me olhou como se eu não fosse ninguém e disse –
Bom tarde. – Olhe eu já fui Escoteiro, passei e vi voces. Resolvi visitar. – De
novo aquele olhar obscuro como se eu fosse um intruso ou de outro planeta. –
Tudo bem, fique a vontade disse. Eram duas patrulhas, uma com cinco e outra com
três. Quatro mocinhas e três rapazes. – São Seniores? – Ele me olhou como se eu
fosse um cego ou uma “besta” e disse – São sim. – Tropa pequena eim? De novo
aquele olhar gélido. – Seniorismo é só para macho! Poucos topam! – Não entendi!
As meninas são machos também? Ele me fulminou com um olhar. – Não entendeu? Muitos
não ficam. Preferem outros programas. Prefiro assim, ficar com os que gostam. –
É, compreendo. Mas vejo você falando muito com todos. Não conversa com
Monitores? – Olha, estou ocupado. Falamos outra hora ok? Posso fazer a ultima
pergunta? Só vi a resposta fulminante em seus olhos. – Bem é que vi o distintivo
do Jamboree em você. Todos foram? – Não, fui eu o Diretor Técnico, uma guia e
um membro da diretoria. Representamos o grupo. – Mas porque os outros não foram?
- Não tinham condição de pagar! Pensei comigo – Um por todos e todos por um! Bah!
Vi
que ele não falaria mais. Procurei a Akelá. Uns doze lobinhos e lobinhas. – Olá!
Melhor Possível! Um sorriso amarelo como resposta. – Já fui lobinho. – Ah! Já
foi? Hoje mudou muito – Notei que nenhum tem mais os distintivos de estrelas no
boné. – O que é isto? Nunca ouvi falar. – Melhor mudar de assunto. – São suas
assistentes? – O mesmo olhar do Chefe Sênior. – Sim. Ajudam-me. – Mas não as
vejo fazer nada! – Farão quando eu mandar. – É seu programa? – sim, respondeu.
– Não vejo o nome delas! – Não precisa, quando preciso as chamo. – Poucos
lobinhos, só uns quatro com um ano e um com dois anos de atividade, por quê? –
Eles acham que aqui é jardim de infância, chegam ficam dois ou três meses e vão
embora. Melhor assim. Aqui tem que ter sangue! – Sangue? Não entendi! Tem
alguém sem sangue nas veias? – Ela gritou com uma – Magda, corra até o
almoxarifado e veja se tem papel e lápis, vamos fazer um jogo da “Velha”! – Mas
você não tinha outro jogo aí no seu programa? Perguntei – Me deu as costas e se
foi.
Em fila vi que os escoteiros estavam
chegando à sede. Rostos nada apreciáveis. Alguns com lenços tortos e outros com
camisas soltas. Um Monitor arrastando no chão seu bastão totem da Águia
Dourada. Não sei o porquê dourada, tudo bem.
– Bom dia! Sempre Alerta! – O Chefe me olhou, novo ainda não mais que
vinte e seis anos. Idade ideal para chefia Escoteira. – Boa tarde ele
respondeu. Sorri, esqueci que era de tarde! - Três patrulhas? – Sim, por quê?
Notei que duas das meninas são monitoras e só uma um menino é. – Claro, elas
são mais dedicadas. – Ah é? Não sabia! – O Chefe Sênior o chamou. Falaram por
alguns minutos. Ele voltou – Olhe vou dar um jogo e não tenho tempo. Desculpe.
Chamou todo mundo e gritando explicou como era o jogo. Os Monitores ali e na
tropa Sênior serviam para ficar na frente com o bastão. Risos.
Vi dois chefes se aproximando. – Olá, sou o Diretor Técnico. Você quer
alguma coisa? – Não senhor, só visitando. Lembrando os velhos tempos! – Olhe,
hoje estamos muito ocupados. Eu mesmo vou receber a visita do Assistente
distrital. – Ah é! Posso ficar? Gostaria de conhecê-lo. - Posso perguntar? –
Sim, ele disse. – Voces não tem lista de espera? – Me olhou com aquela cara de
que comeu e não gostou – Não precisa. Os que aparecem é porque querem ser
homens de verdade! – Não entendi! E as moças? – Ficou fulo. Olhe somos um grupo
antigo, temos orgulho do que somos. – O outro me olhou e disse – Eu sou um
assessor de muitos chefes. Não sou pata tenra! Tenho muitos cursos e oito anos
de escotismo – Prazer! Bom saber disto! – O outro Insígnia (esqueci-me de
dizer) me disse – Eu sei como fazer. Entendo de escotismo tá entendendo? Não nasci
ontem! Sou Chefe aqui desde que o grupo iniciou! – Sim senhor, sim senhor meu
coronel! Ficou puto! Me matou com seu olhar! Tal pai tal filho. Agora entendia
a postura dos chefes no Grupo Escoteiro.
Chegou o Assistente distrital. Novo, uns vinte e cinco anos. Insígnia.
Carreirista. Conheço o tipo. Que pose meu Deus! Abraços apertados. Olhou-me –
Prazer Doutor Comissário! Falei juntando as botas em sinal de respeito. Acho que não gostou. Não sou Doutor. Quem é
você? Apresentei-me. – Um simples Escoteiro do passado. – Olhe, disse. Os tempos
mudaram. Estamos mudando tudo. Para melhor – Notei disse, só de olhar já
entendi. Você um comissário está de bermuda branca, camiseta rolê, lenço da
insígnia, um tênis branco e gostei do seu chapéu eurasiano! – Foi à conta. – Você
não me conhece. Estou sendo preparado para ser um formador. Já fiz diversos
cursos! Mais um ou dois anos serei DCIM! Mais respeito! Você não sabe com quem
está falando! Putz! O homem ficou bravo! Falar o que?
Ri
por dentro. Se desse risadas poderia levar uns sopapos. Melhor ir embora. Se
continuasse ali iria virar farinha de mandioca! Ainda bem que na semana
anterior tinha visitado outro Grupo Escoteiro. Gente boa, sorridente, todos
amigos, fui muito bem recebido. Abraços, endereços, Monitores em ação, Alcatéia
lotada e uma enorme lista de espera. Disseram-me que o distrital e o Assistente
quase nunca vão lá. Entendi. Ainda restam esperanças. Este escotismo é
maravilhoso. Tem altos e baixos, mas não desiste. Disseram-me que é sangue
Escoteiro. Sangue? Deve ser tipo O positivo. Rarará! E como dizem por aí, não
se preocupe, os bons ventos voltaram. Confirme. A Terra do Nunca existe? Não
sei, dizem que nunca é uma palavra que não existe. Melhor ir ao meio do oceano,
quem sabe é só “poeira em alto mar?”.
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