Histórias de escoteiros.
Noêmia, a feia.
Noêmia era
feia. Muito feia. Sua mãe reclamou com Deus porque lhe dera uma filha tão feia.
Afinal ela apesar dos seus trinta anos ainda era bonita e quando mais jovem
considerada a mais linda da cidade. Mas Noêmia não. Olhar para ela era
desagradável. Seu nariz amassado, sua boca com um corte desproporcional e seus
olhos estrábicos davam asco para alguns e pena para outros. Nascera assim. A
principio Nair sua mãe se revoltou, mas depois sentiu um amor por ela tão
grande que achava ela a menina mais linda que conhecera. Entretanto quando
fizera dois anos uma surpresa. Sua inteligência. Leu seu primeiro livro com
dois anos. Aos três frequentava a biblioteca da cidade onde lia dez livros por
mês. Se ficasse mais tempo lá leria outros tantos. Fazia contas como se fosse
uma matemática cientista.
Na escola
não pode continuar. Ensinava para as professoras com cinco anos. Ninguém a
queria na classe. Nair mal assinava o nome. Era diarista e nos fins de semana
passava roupa para a vizinhança. Era assim que sobreviviam. Não entendia nada
de crianças superdotadas e muito menos a quem procurar para ajudar. Aos seis
Noêmia não tinha mais nada para ler. Achou no fundo do baú da biblioteca dois
livros, um de Rudyard Kipling outro de um general chamado Baden Powell.
Encantou-se com os lobinhos e com os escoteiros. Procurou tudo que falava nos
escoteiros. Tudo gravado na mente. Tornou-se uma expert em escotismo.
Um Dia viu
passando umas meninas de uniforme. Foi atrás delas e descobriu onde era sua
sede. Noêmia quase não andava na rua. Usava um boné em cima dos olhos tapando o
rosto para evitar que a vissem. Sabia da expressão das pessoas quando olhava
para ela. Ficou de longe observando as meninas. Viu logo que era uma tropa
feminina. Sabia como era, pois escotismo para ela não era segredo. Todo o
sábado lá ia Noêmia assistir as reuniões. Um sorriso torto brotava em seu rosto.
Que vontade de participar! Mas como? Sabia que todos iriam olhar para ela
apalermados e com medo. Se fossem acampar ninguém iria querer ficar com ela na
barraca.
Foi Marisa
quem lhe dirigiu a palavra pela primeira vez. Marisa era monitora da Patrulha
Onça pintada. – Olá! Porque não vem participar conosco? Precisamos de seis,
pois estamos com cinco e as bases que serão aplicadas não dá para fazer com
cinco! – Noêmia assustou. Levantou seu boné para que Marisa pudesse ver como
ela era. Marisa nem aí. Pegou em sua mão e a levou até a Patrulha. Apresentou a
todas. Noêmia não cabia de felicidade. Nas bases sabia tudo. Mais de trinta
nós. A rosa dos ventos fazia com olhos fechados. Orientação era fichinha para
ela. Leitura de mapas então! Toda a Patrulha ria a mais não poder. Um
verdadeiro banho nas outras patrulhas.
A Chefe Valquíria
assustou com aquela menina feia. Feia mesmo. Mas como sabia de escotismo. -
Onde aprendeu? - Chefe, eu li nos livros
da biblioteca. – Leu? – Sim Chefe. Foi então que a Chefe Valquíria viu que
estava diante de uma superdotada. Após a reunião a levou em casa. Conversou com
sua mãe. Disse que era diretora do Colégio Estadual. Podia conseguir uma escola
própria para Noêmia. O que é o destino. Tudo mudou na vida de Noêmia. Uma
recepção que nunca tinha pensado receber com os escoteiros.
Noêmia aonde
ia conquistava amigos. Os escoteiros do distrito tinham por ela um grande
respeito. Um dia um escoteirinho chamado Noel lhe disse – Noêmia, você tem o
coração mais lindo que já vi. Ele tem uma chama amarela que solta nuvens de
amor. Noêmia chorou aquele dia. Incrível como o escotismo deu a Noêmia um novo
sentido da vida. Ajudava a diretoria, ajudava aos chefes com sugestões de
reuniões, com jogos, e olhe ninguém nunca reclamou. Noêmia cresceu. Já não era
a menina feia que todos achavam. A cidade aprendeu a amar aquela jovem e hoje
eu sei que ela se formou em direito e diz que vai ser juíza. Muito bem. Viva a
Noêmia a feia que mostrou que o amor, o conhecimento e a vontade de ajudar é
maior que tudo!
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