Crônicas Escoteiras
O despertar do Chefe Teobaldo, um audacioso Diretor Técnico
Escoteiro.
Eles
foram chegando e se assentando. Um a um. A sala da sede era pequena, mas ele
sabia que eram tão poucos e que teria lugar parar todos. No semblante aquela
empáfia de quem não estavam gostando. Chefe Teobaldo sabia disto. Afinal eram
anos de convivência. Já chegaram a ter maior número de adultos, mas hoje não
passavam de seis. – Chefe, precisamos fazer uma reunião do Conselho de Chefes.
– Para Que Chefe Teobaldo? Para que? Nunca precisamos disto! No passado ele
fazia e depois desistiu. Ele tinha os quatro “chefes de ouro” como ele dizia.
Não importava se chovia canivete e lá estavam eles. Claro, hoje pareciam sempre
estar com pressa. A maioria deixava o uniforme na sede. O vestia lá. Outros
traziam no carro. Chegavam em cima da hora e quando terminava a reunião diziam
Sempre Alerta e sumiam!
Chefe
Teobaldo já não era mais aquele homem que tinha prazer em ir para a sede nos dias
de reunião. Ele sabia que de alguns anos para cá, nem tudo eram flores. O
sucesso do passado estava desaparecendo. Com tristeza via os lobinhos
diminuindo. Antes chegaram a ter duas alcateias. Uma masculina e uma feminina.
Hoje era uma só. Menos de quinze lobos. Mas nem onze estavam presentes nos
ultimos meses. E na tropa Escoteira? Que desastre. De duas tropas uma masculina
e uma feminina agora era um só e mista. Quando iniciava as reuniões e formavam as
sessões ali estavam três patrulhas com menos de três ou quatro gatos pingados
em cada patrulha. Como fazer reunião assim? Seniores? Menos de seis. Se não
fossem os namoricos acho que não teriam nem isto. E os chefes? Entravam três ou
quatro por ano e em pouco tempo davam uma desculpa e iam embora. Por quê? Qual
o motivo? Ele sabia que eram conhecidos. O nome do grupo estava gravado em
muitos estados brasileiros. Afinal eles tinham quatro jovens de famílias
abastadas e que compareciam em todas as atividades nacionais e até
internacionais. Distribuíam o lenço do grupo, distintivos, uma festa. Um pai de
um deles inclusive dava uma boa soma mensal ao grupo. Mas era certo isto? E os
demais escoteiros? Eles não podiam participar. Como pagar? Logo desistiam em
pouco tempo saiam do Grupo.
Chefe
Teobaldo sentou. Olhou para todos. Exceto dois novos chefes a maioria estava
pedindo a Deus para terminar logo. O que houve com eles? Pensava. Porque esta
debandada? Será que é culpa minha? Porque não havia mais procura como
antigamente? Porque os adultos que vinham oferecer ajuda em pouco tempo se
afastavam? Chefe Teobaldo sabia por quê. Não ligava, pois tinha os “chefes de
ouro”. Mas estava certo? Eles nunca se encontravam. Até nas festividades de fim
de ano era um sacrifício. Ele sabia. Precisavam mudar. Urgente! Deveriam voltar
às reuniões de Patrulha. Os Conselhos de Tropa, Os Conselhos de Chefes. E a
Corte de Honra? Onde foi parar? Meu Deus! Pensou. Estava tudo errado. Vamos
fazer trinta e cinco anos e a cada ano mais e mais diminuímos.
Ele sabia que precisam de um “choque de
gestão”. Não era assim que faziam as empresas que estava fracassando? Ele hoje iria falar. Falar da amizade. Do
amor. Da bondade. Iria falar que precisamos nos cumprimentar mais. Precisávamos
entender o ponto de vista do outro. Precisávamos respeitar ideias, respeitar
direitos e saber até onde ia nosso dever. Precisávamos sim de uma boa dose de
democracia. E o mais importante. Fazer programas e saber cumpri-los. Ele já
tinha tomado sua decisão. Reunião de Chefes uma vez por quinzena até acharem
onde estava o erro e o consertar. Ele pessoalmente iria conversar com cada um
dos que se foram e procurar entender o motivo dos seus afastamentos. A idade
pesava e Chefe Teobaldo agora tinha maturidade e tinha encontrado mesmo que
tardiamente a voz da razão. Iria exigir mais. Iria cobrar de cada um os
programas. Não aqueles feitos as pressas, mas com o auxilio das patrulhas, dos
assistentes. Iria exigir que eles se reunissem pelo menos uma vez por mês. Não
iria deixar que isto fosse feito virtualmente. O grupo era uma família e devia
se portar como tal. Deveriam entender o que era calor humano.
Chefe
Teobaldo olhou nos olhos de cada um. Eram seis. Não seria assim mais. Ele
queria vinte. Vinte? Sim, ele queria vinte chefes. Um Grupo onde todos se
respeitassem. Ele queria uma Alcatéia completa. Uma tropa completa. No mínimo
dezoito seniores e guias e jurou a sí próprio que iria conseguir. Agora eles
iriam fazer escotismo. Nada de namoricos. E quando recebesse convites para
atividades nacionais ou regionais ou iriam todos ou não iria ninguém! Iria
dizer aos diretores do distrito e região que só participariam de uma por ano.
Eles que decidissem qual. Ele agora queria ver acantonamentos, acampamentos,
excursões, atividades aventureiras. Iria exigir isto no programa. Que se dane
os que não concordassem. Ele sabia que os “chefes de ouro” iriam ficar
espantados. Achou até que alguns se demitiriam. Mas sua decisão estava tomada. Agora
ele sabia que o Grupo Escoteiro se transformaria em uma grande família
Escoteira, onde o respeito, a ordem, o aperto de mão sincero e principalmente a
Lei e Promessa Escoteira seriam ponto de honra para todos.
Senhores! – Começou Chefe Teobaldo. Nossa reunião hoje terá duração de
duas horas. Nem mais nem menos. Teremos a partir de agora duas reuniões por mês
até entrarmos na curva da estrada que nos levará ao caminho para o sucesso.
Espero contar com todos. Mas aqueles que acham que não irão mais participar, podem
sair. Eu ficarei triste e de antemão agradeço pela linda e bela colaboração que
deram até agora. Vou contar com aqueles que amam o grupo e querem fazer dele
uma verdadeira “Família Escoteira”. E a reunião começou. Chefe Teobaldo era
outro homem. Outro Chefe. Fiquei orgulhoso quando ouvi esta história. Hoje aqui
vendo tantos desistindo acho que precisamos de mais Chefe Teobaldo na liderança
de grupos escoteiros. Quem sabe assim iremos perder menos chefes e escoteiros?
Quem sabe irão aparecer mais Chefe Teobaldo por ai?
Oi! Você! Isto, você mesmo! Você! Tem algum Chefe Teobaldo no
seu Grupo?
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