Crônicas de um Chefe
Escoteiro.
O Rei morreu (uniforme
caqui). Viva o novo Rei (uniforme novo).
Ei vocês aí, por
favor, não me joguem pedras. Sei que sou um Velho Escoteiro cheio de manias e
tradições, e que alguns novos me disseram não ajudar em nada com esta conversa
de “antigamente era assim”. Por favor, deixem-me falar afinal será por pouco
tempo. Acho que dificilmente chegarei aos cento e dez anos, portanto não liguem
para o que eu digo. Mesmo contrariado com muito do está acontecendo hoje eu
aceito. Amigos dizem para mim que isto é democrático. Aceitar e saber divergir.
O que? Divergir como? Meia dúzia decide mudar uma tradição de anos, um hábito
de comportamento, um uniforme conhecido do Oiapoque ao Chuí e não consulta
ninguém? (ela diz que sim eu digo que não) Deixa que os associados tomem
conhecimento em uma apoteótica festa com modelos e tudo e eu vou ficar calado?
Never! Sei que minhas palavras não ajudam em nada. É como o vento que chega faz
charminho e se vai sem despedir. E me divirto com muitos que insistem em me
dizer: - Que os jovens decidem o que querem. Agora? Primeiro ninguém perguntou
a eles quando mudaram e agora eles decidem? Coitados. Bois de piranha isto sim.
A modernidade gritada aos quatro ventos por muitos irão fazer a maioria aceitar
esta imposição. Estão acostumado a só serem consultados quando o arroz queimou
na panela daquele acampamento gostoso.
Há tempos não
colocava meu uniforme completo. Pensei comigo – “Chefinho”, porque não faz como
muitos aí? Que gritam aos quatro ventos que o novo chegou para ficar e a
maioria dos chefes batem palmas por ele? Vixe! Os adultos falam pelos jovens e
dizem que eles são consultados? Depois de sacramentado o que eles irão dizer?
Claro a modernidade está aí. Bem vamos continuar a saga dos meus escritos.
Chefe Osvaldo vista o seu caqui e vá passear aos sábados em Grupos Escoteiros
amigos. Faça seu marketing mesmo sabendo que será em vão. Meu pensamento é
danado. Obriga-me a coisas difíceis de realizar. Experimentei o caqui que fiz
em oitenta e dois. Ele e minha barriga entraram em choque. Difícil de
apaziguar. A barriga não posso aposentar e ela precisa de mim. O melhor é
aposentar o velho. Fiz para ele uma homenagem linda. Secreta. Não vou contar. O
novo chegou. Um caqui lindo. Mostra sem vergonha a protuberância de um
barrigudo teimoso. No topo do Terraço Itália fiz as honras de praxe. Para
marcar para sempre. Deixei que o novo desse um abraço no antigo. Lágrimas
rolaram. Bandeiras foram içadas, saudações mil. Choramos muito eu o Velho
uniforme e o novo impaciente para ser investido no dono do meu corpinho jovem.
Paciência com os velhos, como disse um amigo outro dia aqui o que é passado
deve ser enterrado. Moço inteligente.
Testei o
uniforme. Chapéu novo olhei no espelho. Barriga danada! Fazer o que? Agora uma
sessão de fotos e esperar convites de amigos para visitarem seus grupos. Não
pode ser longe, pois minha matutagem e meu farnel de remédios me garantem por
máximo de cinco horas e claro dependo de caronas ida e volta. Sentei na
poltrona da sala e nem prestei atenção ao filme. O céu que me condene. Nome de
filme “sacripanta”. Já fui condenado tantas vezes por dirigentes e ainda vou
assistir a um filme deste? Nem pensar. Never! Vou tentar andar por novos caminhos.
Muitos irão se decepcionar, pois ninguém esperava uma figura como a minha hoje.
Velho, carcomido com o tempo, encurvado, falando baixo, tossindo, e com uma
proeminente barriga a andar em passos trôpegos parecendo que vai cair. Risos.
Não sei se será uma boa pedida. Mas que seja. Não quero morrer sem levantar
minha bandeira. Não levarei a mochila e nem a barraca mesmo que o céu tenha
sido minha lona, e meu farnel da comidinha e os lanches gostosos hoje não
existe mais, ele vai se contentar com a bruxuleante maquininha de respirar, remédios,
bombinhas suspirantes e o escambal.
Rataplã do
arrebol, escoteiros vede a luz! É... Aquela foto do caderno Avante de outrora
irá desaparecer no tempo. Aqueles sonhos de meninos com a Bandeira Nacional de caqui
e chapelão a correr pelas montanhas será coisa do passado. Sonhos de muitos
meninos que um dia sonharam em ser Escoteiros. E qual criança daquela época que
não sonhou ser um deles? Ratibum, pum, pum! Agora o tema é outro. Não existe
volta. Não adianta reclamar. É fato consumado. Melhor é fechar os olhos e deixar
que os sonhos percorram os caminhos de uma vida plena e cheia de felicidade. No
amanhã ou no porvir dos novos meninos Escoteiros eles também terão seus sonhos,
irão viver seu passado lembrando-se das coisas boas que fizeram. Irão ver novas
mudanças e quem sabe eles irão conseguir o que eu não consegui. Uma democracia
plena autentica cheia de transparência onde eles estarão naquela montanha do
caderno Avante, com seus novos uniformes, alegres e benfazejos, marchando ao
sabor do vento e a cantar o Rataplã!
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