Ontem postei aqui de Volta para o Futuro II.
Fiquei a vontade com o primeiro.
As crônicas de um Chefe Escoteiro.
De Volta para o Futuro – parte I
(Bach to the Future)
Uma
volta ao passado, diferente do que fez Robert Zemeckis na sua trilogia De Volta
para o Futuro. Quisera eu ser tão inteligente como o Dr. Emmett L. ‘Doc’, o
Doutor amigo de Marty McFly que em três deliciosos episódios voltam no tempo
precisamente em 1955, no DeLorean, um automóvel que se transforma em uma
máquina do tempo. Quem me dera ter este carro para viajar no tempo. Assim sou
obrigado a conviver com minhas memórias, cujos chips estão em fase de desgaste
natural pela idade. Neste retorno no tempo, procuro fazer analogias do passado
com o presente. Difícil, comparativamente é quase impossível, mas vamos lá.
Um grupo simples. Nada
de coisas maravilhosas. Mal e mal cinco cadeiras uma mesa, uma pequena
escrivaria, daquelas antigas, cujo tampo se fecha ao terminar a jornada. Uma
salinha onde cabiam todos os nossos sacos com quatro alças de intendência,
quatro carrocinhas, inclusive também usadas pelos seniores, e uma saleta
pequena para os lobinhos. Um pátio de uns seiscentos metros quadrados e se
chovesse corríamos para a rua onde havia uma serraria e lá nos escondíamos.
Nosso Chefe de Grupo, um Sargento da Polícia Militar gente boníssima ia ao
grupo quinzenalmente. Nosso Chefe Jessé, um bom camarada. Não participava de
todas as reuniões. Fora Escoteiro e Sênior, mas casou e conseguiu se empregar
na Cia. Vale do Rio Doce. Um serviço que o levava em viagens em fins.
Nas reuniões ele
chamava o Romildo, o mais velho dos monitores, o qual todos nós o chamávamos de
guia da Tropa. Entregava a ele uns rabiscos para as reuniões futuras. Ele
chamava os monitores, conversavam e as reuniões saiam. Em quase todas sempre
uma ou outra Patrulha ia acampar. Nossa vida Escoteira era mais ao ar livre que
dentro da sede. Atividades externas? Procurávamos o Chefe Jessé no seu trabalho
ou em casa e avisávamos aonde íamos horário de saída e retorno. Mais nada.
Nosso treinamento era feito por nós mesmos. Sem ser presunçoso, sabíamos de
olhos fechados técnicas que hoje poucos sabem. Nosso Chefe do Grupo entrava em
contatos com mais três grupos em cidades próximas. Sempre nos levava a acampar
com eles. O trem e a bicicleta e nossa Carrocinha da Empresa de Viação
Vulcabrás (andar a pé) eram nossos meio de transporte. As carrocinhas serviam
para acampamentos mais próximos a nossa cidade. Era lindo ver as quatro
patrulhas uniformizadas, vários escoteiros segunda e primeira classes,
mostrando que a maioria tinha três, quatro ou cinco anos de atividade.
Hoje?
Dificilmente. Tudo mudou. Nada poderia ser como antes. As grandes cidades não
oferecem condições mínimas de segurança. Mas olhem pegando carona no DeLorean,
eu vou a 1961, 1975 e 1980 e 1990. Vários grupos. O último que participei muito
do que fiz eu fiz com eles também. Nossa evasão não ultrapassava cinco por
cento. Começamos com dois jovens e quando saí tinha 160 membros do grupo. Na
época era um dos Grupos que mais possuíam Liz de Ouro e Escoteiro da Pátria no
estado. Concordo inteiramente que haja novos critérios, novas normas, pois
agora se precisa disciplinar toda a organização. Estão a aparecer muitos
rebeldes cheios de megalomanias. Declaram-se do contra, oposicionistas e quer
saber? Para mim não são diferentes do que se acham donos do escotismo atual. Tem
outros que fundam organizações a torto e a direito, mas é um direito deles e eu
respeito. Mas voltemos a 1961. Ainda uma época das antigas. Um grupo, em uma
igreja. Começamos com oito. Quando saímos de lá tinha cento e quarenta membros.
Tínhamos duas tropas como filiais. Risos. Em uma cidade bem próxima.
Volto de
novo em meu DeLorean a 1955. A técnica se sobrepunha a teoria. Nada de grandes
relatórios sobre isto ou aquilo. Cursos? Necas, era a arte de aprender a fazer
fazendo. Tudo muito simples. Se um dia puderem ver como eram as etapas para se
conseguir as estrelas, ou as classes de segunda e primeira poderão ter uma
ideia melhor. Não eram tão simples assim. Você olhava um Escoteiro, seu
uniforme, sua postura, sua disciplina e principalmente sua ética e honestidade
junto aos amigos da patrulha para se orgulhar. Nada que difere hoje. Muitos
também são assim. Já dizia nosso Mestre BP que se conhece o Escoteiro pelo seu
uniforme. Será? Hoje dizem que não. Dizem que o uniforme não faz o Escoteiro.
Bem, cada um entenda como quiser.
São épocas.
Cada um que viveu a sua tem boas lembranças. Mas aqueles do passado se orgulham
muito do tempo que ficavam no escotismo. As patrulhas eram completas, todos
uniformizados, poucos novatos. Se apareciam interessados, melhor abrir uma
segunda tropa. Mas chega de lembranças. Lembra-me o Dr. Emmett L. ‘Doc’ que o
DeLorean precisa voltar ao presente. Saudades sim, mas tristezas não. Vamos
embarcar neste carro mágico. Não quero ir para o futuro distante. Tenho medo.
Não sei o que vou encontrar lá. Hoje encontro bom escotismo ainda. Bons chefes
dedicados. Pena que não temos mais aquele gostinho da aventura do passado. Mas
o passado se foi não? Bom mesmo foi o Marty McFly. Foi no passado, no futuro,
em outra dimensão do presente e se deu bem. Bach to the Future, vamos lá de
volta para o futuro parte II proximamente.
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