Crônicas
escoteiras.
O Caminho
para o Sucesso.
Lenin tinha oito anos. Um menino
triste e como lobinho não sorria. Estava ali sempre nas reuniões de Alcateia
porque sua mãe sempre o levava. Se dependesse dele não voltaria mais. Quando
entrou pensou que era o que disseram para ele, mas se enganou. Não ia negar que
fez vários amigos e que aprendeu algumas coisas. Quase nenhuma tinham
significado para ele. Os chefes exigiam muito e sempre chamando a atenção. Ele
preferiria sua professora. Ela pelo menos lhe dava os parabéns quando ele
tirava uma nota mais alta. Sua matilha cinza parecia estar sempre cansada e
desanimada. Ninguém corria ninguém se interessava. Diversas vezes falou com sua
mãe que gostaria de sair. Não estava sentindo nada e nem gostando das reuniões.
Sua mãe insistia. Disseram para ela que o escotismo era uma fonte de sabedoria,
onde o menino aprende muitas coisas. Insistia para ele continuar. Obediente
Lenin continuou.
Corina ia para as reuniões sem
nenhuma motivação. Porque deu sua palavra ao Chefe Jaildes antes de morrer, ainda
continuava. Mas por quê? Afinal ela não gostava de seus lobinhos? Podia até
ser. No entanto a cada dia mais e mais ela estava desanimada. Até que quando
entrou pensou que seria diferente. Nos primeiros meses foi ótimo, mas o tempo
foi passando e ela não encontrou o que queria como Chefe de lobos. Mas afinal
de conta o que ela queria? O que pensava? Tinha inteira liberdade e nunca foi
questionada na Alcateia. Acostumou a ver os minguados lobos e lobas presentes.
Eram seis meninos e oito meninas. Dificilmente os 14 estavam presentes. Sempre
tinha três ou quatro faltas. Ela
lembrava no passado quando a alcateia chegou a ter 26 meninos e meninas. Foram
saindo um por um. Chegou a ter quatro assistentes, mas todos a deixaram na mão.
Ninguém quer sacrificar. Só querem “moleza” ela pensava. Ela nunca olhou para
dentro de si.
Marco Polo estava desiludido.
Dois anos de lobo e mais dois de Escoteiro pensava o que estava fazendo ali.
Devia ter saído. E porque não saiu? Achava que foi porque sempre acreditou que
tudo ia mudar. Um ou dois acampamentos por ano, o Chefe levava todo mundo e lá
tinha lobos, Escoteiros e seniores. Seniores? Um dia pensou em ser um deles.
Agora com treze anos dizia para si próprio que não ia chegar lá. Não via eles
fazerem nada. Eram quatro dois rapazes e duas moças. De vez em quando davam um
grito de guerra que ser sênior é bacana, que o sênior é o tal, que o senhor
desconhece as dificuldades e por aí eles gritavam como se estivessem com sono
ou quase dormindo. Chegou a comentar com Rildo da sua patrulha que ia desistir.
Nunca falaria com o Chefe Benevides. Ele sabia que ia ouvir o que não queria. O
chamaria de fracote e que ali na tropa era lugar para homens de coragem.
Chefe Benevides era daquele tipo
bonachão, sempre risonho. Era caixa de banco e nunca mandou em ninguém. Quando
lhe convidaram para a chefia ele pensou que iria gostar. Até que não era ruim.
Ver a turma esticada e correndo ao ouvir o apito lhe dava prazer. Mas ele
gostava mais era de cursos. Lá todos da sua idade e ele podiam mostrar que era
um grande Escoteiro. Adorava fazer amigos, discutia com qualquer um as
vantagens do escotismo. Era bem quisto por muitos chefes que o conheceram. Mas
sua tropa fazia pena. Insistia em ter quatro patrulhas mistas, mas até a Lobo
que sempre a presença era boa estava agora diminuindo. Eram quatro meninos e
oito meninas. Nunca a tropa cresceu e ele acostumou em ver patrulhas com dois
ou três jovens. E dai? Ele gritava para todos. Aqui é lugar para quem tem
fibra, afinal nem todos nasceram para ser Escoteiros. Quem faltar vai para a
rua!
Chefe Galdino tinha 63 anos. Mais
de vinte e cinco de escotismo. Julgava-se o tal. Era o diretor Técnico. Mandava
em tudo. Determinava o que fazer a cada um. Quando se aproximava um pai ou um
interessado em ajudar ele ficava igual ao galo de briga. Bem vindo! Mas quero
lealdade, meu grupo só tem amigos. Temos uma disciplina e não saímos dela por
nada. Eu serei seu assessor pessoal e vou lhe ensinar tudo. Infelizmente o
voluntário quando era encaminhado para uma das sessões desistia logo. Era só conversa
atravessada e ele sentia que ali não era seu lugar. Na Alcateia a filha da
Akelá fazia o que lhe desse na telha. Seu uniforme cheio de distintivos. Via
que ela não gostava de dividir tarefas e nem pedir sugestões. Chefe Galdino
sabia que ali era seu terreiro. Ele o galo mandava. O Distrital o admirava. Quando
comparecia em reuniões do distrito e da região era festejado como um grande
Chefe e dos mais antigos. Ganhou três medalhas. Se ele mereceu ninguém
perguntou.
Jofre sempre quis ser
Escoteiro. Jofre não tinha família. Foi criado por uma amiga de sua mãe que
sumiu no mundo. Jofre adorava Dona Lena. Estudou muito e se formou como Engenheiro
de minas. Viajava muito e foi eleito para ser o Diretor/Presidente da empresa
que trabalhava. Agora como executivo ele viajava pouco. Procurou o grupo
Escoteiro perto de sua casa. Uma recepção fria, não era o que e esperava. Jofre
era um homem instruído apesar dos seus vinte e seis anos. Conhecia bem sobre
relações humanas e sentiu que naquele grupo isto não existia. Nem na área
militar poderia ser visto o que viu. Jofre não desistiu. Chefe Galdino o olhou
enviesado. Via ali um inimigo, mas não aceitar? Deixa-o comigo pensou. Como seu
assessor pessoal eu o coloco no lugar ou ele sai daqui com o rabo entre as
pernas! Sempre foi assim.
Jofre não era homem de fugir.
Desafios para ele eram como doce de leite que ele sempre comia com prazer.
Comprou uma verdadeira biblioteca escoteira. Lia em suas horas vagas e mesmo
não concordando com as normas do Regimento Interno ele fez dele seu amigo de
cabeceira. Esperou pacientemente o dia da Assembleia de Grupo. Como não viu
nenhum comunicado interpelou o Chefe Galdino. – Não fazemos sempre. Mas este
ano é de eleição e vai ter. Jofre sabia que ele era o dono de tudo. Nas sessões
os chefes também não abriam mão. Não davam valor aos assistentes. Não havia
reuniões de Chefes de Grupo. A tropa definhava e a Alcateia também. Conversou
com alguns pais insatisfeitos. Montou as claras uma diretoria. Um susto para o
Chefe Galdino. Nas assembleias sempre comparecia um numero mínimo. Poucos pais
compareciam. Naquela assembleia ele se assustou mesmo. Nunca viu tanta gente. A
diretoria do Chefe Jofre foi eleita com folga de votos.
Chefe Galdino chorava num canto.
Chefe Jofre foi até ele e lhe deu a mão. – Preciso de você, você é importante
no grupo. Um abraço sincero e Chefe Galdino de olho aberto aceitou continuar. O
grupo cresceu. Em dois anos já estava com um efetivo de mais de oitenta
membros. A chefia cresceu. A Akelá Corina não aceitou a nova liderança. Chefe
Benevides não quis perder seu status. Lenin hoje é Escoteiro e vibra com sua
patrulha e sua tropa. Marco Polo é sênior e adora dar o grito de guerra com
eles. Tudo mudou da água para o vinho. Chefe Jofre era um democrata. Nada fazia
sem consultar a todos. As reuniões de chefia passaram a ser toda primeira sexta
feira do mês. A frequência do grupo aumentou. No ano anterior só seis jovens
entre oitenta existentes saíram do grupo. O distrito a princípio ficou de olho.
Afinal o distrital também era daqueles que não passavam o bastão a ninguém. O
mesmo na Região.
Já dizia Zíbia Gasparetto que a vida nunca pune. Ela ensina
do seu jeito. Sinaliza de diversas formas, tenta advertir as pessoas provocando
situações nas quais ela pode perceber a verdade, mas para os resistentes, que
se acomodam e não querer mudar, ela permite que colham os resultados de seus
enganos para que aprendam o que já estão maduros para saber. A verdadeira
família é aquela unida pelo espirito e não pelo sangue. Aquele grupo hoje se
orgulha em ser uma grande família. Escotismo é assim, ser franco sem ser
egoísta, mesmo a contragosto tentar o máximo aceitar as pessoas como são, mas
orientando quanto ao melhor caminho. Fim.
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