Crônicas
de um Chefe Escoteiro.
“Pelas
barbas do Profeta”. Adônis conseguiu sua Insígnia de Madeira.
Ninguém acreditava que ele
um dia seria mais um Insígnia de Madeira. Claro, todos sabiam que era um Chefe
Escoteiro esforçado. Presente. Seus 25 anos lhe davam um aspecto juvenil. Quem
não soubesse diria ser ele um Sênior ou Pioneiro. Foi sim Escoteiro quando
jovem. Ficou menos de três anos. Não voltou mais. Um dia viu uma Patrulha em um
shopping. Não gostou do que viu. Parecia não ter espírito Escoteiro. Não deviam
estar preparados para esta atividade. Os interpelou. Não o levaram a sério. Foi
para casa pensando. Criticar não adianta. Porque não voltar a participar? –
Voltou. Cheio de gás. Foi bem aceito no grupo. Um ano como Assistente. Não
perdeu tempo. Engoliu livros, fez todos os cursos que podia fazer. Era o
orgulho do seu assessor pessoal.
Com dois anos na tropa
assumiu a chefia. Não porque quisesse, mas o titular desistiu. Achou que seu
tempo estava sendo usado muito no escotismo e sua família estava sendo
prejudicada. Adônis deu tudo de si. Os jovens o amavam e ele amava os jovens.
Aprendeu a ser amigo. Aprendeu a ser um irmão mais "Velho". Aprendeu
a respeitar. Sem ninguém saber começou a responder o questionário. Na parte
prática já tinha feito o avançado. Seu “caderno” foi devolvido. O leitor
colocou várias ponderações. Estudou tudo e enviou de novo. Mais uma vez
devolvido. Espere mais um ano. Você é novo. Só está no escotismo há três anos.
Não concordou. Enviou um oficio – Qual a idade para ser um Insígnia de Madeira?
O leitor ficou sem jeito.
Um dia, um sábado apareceu
um chefe. Desconhecido. Olá! – disse. Entabulou conversa. Cutucou. Olhou seu
programa, conversou com alguns meninos. Não disse para que veio, deveria ter
dito. Adônis acreditava que entre escoteiros não existe segredos. A lealdade
acima de tudo. O Chefe se foi. Dois meses depois o Comissário Distrital e um
Assistente Regional apareceram na sede. Após o cerimonial ele foi chamado à
frente. Entregaram-lhe a Insígnia. Ele tremeu. Ficou vermelho. O lenço de
Giwell agora adornava seu pescoço. Os demais chefes do grupo o saudaram. Não
estavam acreditando que ele conseguiu. A maioria tinha seis sete ou mais anos
de escotismo.
Adônis não dormiu
naquela noite. Pensava – O que muda em mim com este lenço? Sei que muitos me
olharão com respeito, mas não sou o mesmo quando não o tinha? Meus
conhecimentos não eram o mesmo? Agora irão me convidar para muita coisa no
escotismo. Deverão achar que agora sou tutor e não mais tutorado. Só um lenço
mudou tudo? Já posso dar curso? Serei aconselhador? Serei chefão? Que lenço é
este que só me trás duvidas e não certezas? – Adônis dormiu. Sonhou muito. Teve
até pesadelos. Leves, mas alguém lhe tomava o lenço no sonho. Acordou suado.
Meu Deus! O que é isto?
Passou a ir para as
reuniões sem o lenço da Insígnia, usava o do grupo não só nas reuniões como
também em outras atividades. Deixou em casa também seu colar de contas.
Pretendia fazer um enorme quadro com seu certificado. Desistiu. Cobraram dele
sua Insígnia. Ele abaixou a cabeça e não disse nada. Durante meses tentava ser
o mesmo. Difícil. O que um lenço não faz. Em minutos após você receber passa
para outra dimensão. A dimensão dos que tudo sabem. Mas não era o caso dele. O
que ele sabia aprendeu antes. O Distrital mandou lhe chamar. – Soube que não
tem usado seu lenço? – Por quê? – Não sei respondeu. – Explique melhor – Ele
não sabia o que falar. Queria dizer que era mais feliz antes de ter este lenço.
Antes eu dava risadas, brincava com todos e achava que era irmão de todos.
Agora tudo mudou. Quando me colocaram o lenço disseram que eu era outro, agora
eu pertencia ao Grupo do Giwell, que eu devia agir como um líder IM. Os chefes
não mais o olhavam olho no olho Não gostava nada disto.
Um fim de semana
prolongado resolveu reler o livro O Guia do Chefe Escoteiro de Baden-Powell. Já
tinha lido. Ficou o dia inteiro com ele lendo. No sábado seguinte chegou à sede
com o lenço e colar. Nunca mais o tirou. Viu que muitos chefes IM em seus
grupos usavam o colar com o lenço do grupo. Não fez assim. Amava o Grupo
Escoteiro. Todos sabiam disto. Não era usando um lenço do grupo que seu amor
iria aumentar. Nunca aceitou nenhum cargo. Nunca aceitou ser considero melhor.
Era apenas um Chefe, um Chefe amigo, simples, fraterno, um Chefe como tinha
pensado BP no passado. Tinha orgulho do seu lenço, mas seu passado de amigo e
irmão dos jovens não ia mudar nunca. Até hoje ele é um portador da Insígnia,
mas para seus meninos ele é seu Chefe independente do lenço que usava. Tem mais?
Sim, ele nunca aceitou outro cargo fora da tropa. Ali era seu lugar!
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