Crônicas
escoteiras.
A fantástica
lua de mel do Chefe Rosinha.
Pelo amor de Deus! Lembrar-me dele de
novo? Nunca em minha vida conheci alguém como o Chefe Rosinha. Nem sei como no
grupo eles não diziam nada. Quem sabe pelas suas histórias, pelo seu jeito
encantador que deixava as escoteiras e guias sorridentes, ou pela sua maneira
prestativa, mas era chegar ao fim da reunião ele procurava algum Chefe – Chefe Nonato,
tem dez paus para me emprestar? – Nonato coitado era um amor de Chefe e não sabia
dizer não. Ele tirou da carteira dez reais e deu ao Chefe Rosinha. – E os mais
de duzentos que você me deve Chefe Rosinha? – ele sorriu com aquela cara de
besta e dizia – Você sabe, meu casamento é em novembro faltam três meses. Como
lhe pagar com as despesas que tenho? Ele devia a cidade inteira. Pegava mal
para o Grupo Escoteiro. Donato o Chefe do Grupo resolveu fazer um Conselho de
Chefes para discutir o assunto. Ninguém concordou em mandar o Chefe Rosinha
embora.
Chefe Rosinha conheceu Anita na parada
de Sete de Setembro. Ele logo apaixonou por ela. Ela estudava no Colégio
Aparecida e no desfile se encontraram. Ela de uniforme escolar e ele de
Escoteiro. Apaixonaram-se. Foi um amor de duas pessoas idênticas. Anina também
não gastava. Cada tostão ela guardava. Mordia a língua para não comprar
supérfluos. Todos benzeram o casal afinal eles iam se dar muito bem. Até
aceitavam que ele continuasse no grupo, pois além de sua simpatia todos se
divertiam com seu estilo. Um dia um chefe novato não sabia como era ele – Chefe
Rosinha! O senhor poderia me emprestar quarenta reais? Fique tranquilo que
pagarei sem falta na próxima reunião! – Ele sério respondeu – Prá que quarenta?
Trinta é muito, vinte não! Penso em lhe dar dez, mas acho que cinco é o suficiente.
Tome aqui um real e na semana lhe dou o saldo!
Eles casaram em uma quinta, pois era
mais barato na igreja e no civil. Ele era amigo do Juiz de Paz e tentou tudo
para o casamento no civil fosse grátis. Mas Seu Zenóbio foi inflexível. – Nem
pensar Rosinha. Eu te conheço bem. Ou paga ou não casa. Rosinha ficou fulo,
chamou Turquinho um sênior muito amigo do filho do Seu Zenóbio e pediu a ele
por misericórdia que tomasse duzentos reais emprestado do Seu Zenóbio. Ele não
deveria contar para quem era. No dia do casório no civil Rosinha e Anita se
casaram no civil. Depois de tudo assinado Rosinha bateu no ombro do seu Zenóbio
– Obrigado amigo pelo empréstimo dos duzentos que o Turquinho lhe pediu
emprestado para mim. “Fique tranquilo que um dia te pago”! Seu Zenóbio sabia
que nunca mais iria ver a cor do
dinheiro!
O grupo ofereceu uns comes e bebes,
mas poucos. Não é que o casal saiu mais cedo da festa? Levaram uma bolsa cheia
de guloseimas que os Escoteiros compraram para os convidados! Sei não, um Chefe
Escoteiro uma vez me disse que o pródigo é arrogante e o avaro é mesquinho. É
preferível a mesquinhez a arrogância. Seria verdade? Uma semana depois de
casados, eles moravam na casa da Mãe de Anita souberam do acampamento. Chefe
Rosinha pediu cinco dias de folga e Anita que era professora pediu também.
Insistiram com o Chefe Nonato para eles participarem. Sabiam que seria na
fazenda do Inácio Sapoti. Ele não podia ver os Escoteiros que oferecia tudo.
Quando o ônibus chegou à fazenda os dois saltaram e procuraram o Inácio – Seu
Inácio! Disse Chefe Rosinha, eu e a Anita casamos na semana passada e não seria
de bom alvitre ficarmos lá no acampamento dos Escoteiros.
Claro que Inácio iria convidá-los para
dormir em sua fazenda. Foi uma verdadeira lua de mel de cinco dias. Comida
farta, um quarto enorme só prá eles, e toda a manhã frutas frescas. O
acampamento terminou e eles tiveram que voltar no ônibus. Inácio caiu na
besteira em convida-los a voltar e claro eles voltaram nas ferias. Vinte e nove
dia comendo e dormindo de graça! Em um Conselho de Chefes Chefe Rosinha pediu a
palavra – Sabem meus amigos, a Anita queria participar dos lobinhos, vocês
sabem ela é professora, mas ela não tem como fazer o uniforme, então eu pensei
que vocês poderiam se cotizar e fazer um bem bonito para ela, mas tem de ser
completo com meião e cinto! Todos olharam para ele e viram em seu bolso e
ouviram uma voz fininha: - Estou contigo e não abro! Era a carteira de Rosinha
o Escoteiro mais pão duro que existiu.
Para dizer a verdade eu não sei como
aguentaram Chefe Rosinha por tanto tempo. Nunca pagou nada. Fez seis cursos
todos pagos ou pelo grupo ou pelo chefes amigos dele. Amigos? Acho que por
causa da sua conversa, do seu sorriso e da sua alegria a maioria o aceitava.
Mas no sábado à noite depois da reunião foram todos para uma choupada. Na
maioria das vezes Chefe Rosinha não ia. Sempre tinha alguém para lhe falar umas
verdades, pois ele nunca colaborava. Desta vez foi e levou Anita sua esposa.
Contou piadas, riu a beça e até cantou musicas escoteira que muitos se
surpreenderam. No final Bruno Cara Feia foi escolhido para recolher a parte de
cada um. Ele era um Chefe novato e não sabia como era o Chefe Rosinha. Quando
ele foi cobrar ele disse – Olhe Bruno, pareço egoísta, mas sempre deixo a
satisfação de pagar a conta no bar para meus amigos. E começou a rir. Chefe
Bruno não gostou. Foi preciso da intervenção dos demais para não saírem no braço.
Chefe Rosinha saiu do grupo. Todos só
foram saber o que aconteceu muitos meses depois. O danado ganhou um milhão e
meio na Loto fácil. Sumiu de um dia para o outro. Sabia que iriam morar na
frente de sua casa para receberem o que ele devia. Mais da metade da cidade.
Dizem que ele foi morar em São Francisco do Sul. Até hoje o Grupo e a meninada
sentem falta dele. Afinal era um boa praça, um pandego e claro um tremendo de
um pão duro. Um dia apareceu na TV, levado pelo delegado por não pagar dividas.
O pior é que estava de uniforme Escoteiro. Pode?
Os dez mandamentos do
pão duro:
- Nunca dizer:
"Pode ficar com o troco".
- Não colocar a mão no bolso em vão.
- Amar seu bolso como a si mesmo.
- Lembrar que tudo tem sem preço. Então, vamos às
promoções!
Pechinchar sob todas as formas. - Desperdiçar.
- Ir a compras somente aos domingos, quando quase
tudo está fechado.
Valorizar cada centavo. - Analisar o custo/benefício.
- Emprestar sempre com juros. Jurar é pecado.
Cobrar juros, não!
- Valorizar cada centavo.
- Analisar o custo/beneficio.
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