Crônicas de um Velho Escoteiro.
Eu adoro a calça curta!
Ei! Nada contra de quem gosta da comprida caqui, amarela, cinza, azul, branca, roxa,
verde e agora marrom e azul. Nada contra. Mas eu? Eu adoro mesmo a calça curta
caqui. Quando visto meu uniforme cáqui me sinto bem. Não sei por que. Sinto-me
mais Escoteiro. Antigamente, lá pelos idos de 50, 60, 70 e 80 havia uma norma
no POR que dizia – Junto aos jovens e em atividades com eles se usa a o caqui
tradicional (estava mesmo escrito tradicional). O cinza deve ser usado em
cerimonias especiais, atividades sociais etc. Assim aquela norma vale para mim
até hoje. Sei que a jogaram pela janela e ela se foi com o vento sul que sopra
forte para nunca mais voltar. Novos tempos. Vento moderno.
Sei que muitos hoje e até naquela época tinham vergonha da curta. Aqui e ali
alguns com a comprida cáqui. Bem não era o meu caso. Nunca tive vergonha. Claro
hoje vejo fotos de Baden Powell (BP) sempre de calças curtas nunca vi nenhuma
foto com ele usando a comprida (estilo inglês podem me dizer) e me orgulho de
ter feito o mesmo. Mas já me condenaram aqui por me arraigar nesta fútil ideia
de manter uma tradição que não tem valor para eles. Claro. Respeito. Tradições?
Bah! Fora tradições. Mas insisto, eu adoro e sempre adorei minha calça curta.
Quantas peripécias passei com ela. Mas as alegrias superaram. Chegar a uma
cidade, com o grupo, com a tropa ou com a Patrulha o andar ereto em frente,
sorrindo e vendo todos nas portas, janelas a admiraram aqueles esbeltos
escoteiros (risos eu não era assim tão esbelto) a desfilarem, (Puts! Agora
proibiram) bandeiras ao vento! As meninas nos vendo apaixonadas. De onde São?
Olhe aquele ali, lindo! Era eu! Risos.
Claro, sempre provando a mim mesmo que enfrentaria multidões. Um dia fui para a
sede. A pé. Tinha a minha bicicleta. Era fácil ir pedalar. Mas como eram
somente seis quarteirões porque não desfilar a pé? Fazia isto sempre (hoje se
escondem em um automóvel e alguns ainda tem a pachorra de levar o uniforme para
vestir na sede, mas eles podem agora. É moderno). Ao passar em frente à Padaria
do Osmar alguém gritou! Que belas pernas! Dez pratas para quem passar a mão!
Engrossou! E agora? Dezessete anos, metido a valente, faca de um lado,
machadinha pequena de outro. Um verdadeiro pistoleiro do oeste. Coloquei a mão
na cintura gritei! Quem se habilita? Quem vai ser o primeiro? Risos. Ninguém.
Nunca mais falaram nada.
A calça curta para nós era sagrada. Nossos chefes sempre usaram. Sempre eles
são nossos exemplos. Hoje até dirigentes nacionais se vestem com a tal
vestimenta, meinhas brancas, outros sem, camisa fora da calça outros não, calça
curta outros comprida. Um lenço no pescoço e uma camiseta qualquer. E salve-se
quem puder! Exemplos? Claro. Quem os vê assim aprenderam e vão ensinar a todos
a nova moda. Risos. E tem um que me garantiu ter achado barato. Deve ser o
marido da barata. Garantem que a turma que não gostava do caqui agora vai vir
de montão. Vamos esperar para ver. E interessante, só vejo a maioria escotistas
classe media usando. Os humildes, os sem nada que nunca poderão comprar o mais
caro tem a vantagem do mais barato. O que? Tem para pobre e para rico? Não
sabia. Mas estou falando da calça curta. Desculpem. Saí do rumo. Perdi minha bússola
prismática da minha lide “caqueana”. Vamos voltar ao percurso de Gilwell aqui
comentado.
Minha calça curta dos velhos tempos! Adoro você! Estranho até hoje quando vejo
alguém de comprido caqui. Cinza até que vá lá. Mas como dizem os filósofos,
tudo não passa de um hábito de comportamento e gosto não se discute. Aprendeu
assim fará assim. Em breve estaremos todos de marrom e azul. Todos não. Eu nem
morto. Eles quem sabe estarão de chinelos ou sem meias, com lenço ou sem lenço,
o calçado hoje pouco importa. Cobertura? Será a critério de cada um. Pode ser
um chapéu de cowboy vermelho vivo! Seria lindo, tudo colorido como se fosse um
belo arco íris e com uma linda pena amarela de papagaio. Cacilda. Lá estou eu
de novo a criticar. Não tenho este direito, sou um "Velho" Escoteiro
chato, gagá e aposentado. Mas acreditem, não importa. Quando eu me for São
Pedro que me aguente, chegarei lá de calça curta e chapelão. Risos. Se não me
deixar entrar mando chamar Baden Powell. Ou melhor, poderei dizer – “Sabe com
quem está falando”? Mas eu juro a vocês, se eu vivesse mais cem, duzentos ou
trezentos anos eu estaria envergando a minha linda, a minha gostosa, a minha
deliciosa, a minha espetacular, a minha grandiosa, a minha imponente, a minha
majestosa, a minha divina a minha linda muito linda calça curta!
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