Crônicas de um Chefe
Escoteiro.
Uniformes. Vale a pena
usá-los?
“Impressiona-me a uniformização do mundo ocidental. Há vinte anos, podia determinar-se imediatamente a nacionalidade de uma pessoa pela sua indumentária. Hoje já não.”
―Paul Auster
Uma vez li que o
uniforme é um item prático para uma organização. Considerando que as roupas são
caras e desgastam, e claro pensando que nossa organização não é um desfile de
modas, usar o uniforme evita situações constrangedoras com roupas sujas e
rasgadas. Será que é só isto mesmo? Dizem que o uniforme identifica a pessoa
que o está usando e sua organização. Dizem ainda que mostra se somos
organizados, se somos disciplinados e que “vestimos a camisa” da nossa
organização. Envergonhar do uniforme é não ser merecer em participar do que
escolhemos como meta de vida. Ou nos identificamos como membro da equipe
mostrando que fazemos parte ou então o melhor é desistirmos. Pensando que somos
Escoteiros e somos conhecidos por um uniforme mesmo que ele tenha sido
desmembrado em dois ou mais ainda é este que nos identifica.
No entanto noto
que muitos não levam a sério a uniformização. De uns tempos pra cá, a liberdade
tomou conta de nossa associação. Cada grupo (sem generalizar) usava ou ainda
usa o que o Chefe se mostrou exemplo. Ele mesmo costuma dizer que todos devem
portar uma camiseta, do grupo é claro, com cores diferentes entre os demais e
muitas vezes esta camiseta representa o Grupo Escoteiro o que não é verdade.
Assim o costume se tornou inglório para nossa apresentação a sociedade. Algumas
vezes inquiri educadamente um ou outro perguntando por que não estão de
uniforme naquela atividade aventureira. – Resposta: - Chefe é para não sujar ou
gastar! Bom isto. Uma resposta à altura. Mas será mesmo verdade? Gastamos
muitas vezes uma quantia que não é pequena para fazermos um uniforme. Se
notarmos bem usamos uma vez por semana, por menos de quatro horas. Nos
acampamentos a maioria das sessões quase não o usa. Se uma patrulha está a pé
ou fazendo uma jornada aventureira, seria deste que disciplinados, um dos mais
perfeitos marketing do escotismo. (Um chamariz enorme para os jovens que veem e
não participam isto se estivessem bem uniformizados).
Houve uma época
que fazíamos questão de estarmos bem uniformizados. Fazíamos questão de nos
mostrar em público não como hoje que tem chefes, pioneiros e seniores dando
exemplo de levar em uma sacola ou guardar na sede e vesti-lo lá. Vergonha? Se é
isto ele não é merecedor de participar do nosso movimento. Lembro que já
lobinho passando para Escoteiro não tive a sorte de fazer a promessa no mesmo
dia da passagem (hoje é comum isto). Meu uniforme de Escoteiro só seria usado
quando da promessa. Era ponto de honra na tropa. Ninguém vestia peças sem estar
devidamente promessado e preparado para vesti-lo. A liberdade tomou conta e
hoje é comum um de calça curta, ou a camisa fora da calça, sem o lenço ou até
com o lenço, mas sem a promessa. Quem vê aquele jovem na comunidade não entende
bem a disciplina e o orgulho de participar de um movimento maravilhoso como o
nosso.
Quando
existem normas severas para isto então nossa apresentação em publico se torna
respeitosa e somos reconhecidos como um movimento sério e educativo. Se o Grupo
conseguiu com que todos os participantes se uniformizassem não existe desculpa
para que eles não se apresentem assim. O jovem ou a jovem que teve um inicio
dentro de padrões de apresentação, de aceitação das normas e só quando fizerem
suas promessas irão vestir o uniforme então ele será motivo de orgulho por toda
vida escoteira. Quando o adulto se mostra desleixado, quando ele dá exemplo de
“invencionices” de peças ou distintivos e cobertura ele nunca poderá cobrar dos
jovens a postura que se espera de um membro Escoteiro.
Muitas vezes
noto que o próprio adulto desconhece as normas ou se faz por desconhecer. Ele é
o exemplo e sabe que o que fizer será motivo de copia por todos que estão a sua
volta. Lembro com saudades que levávamos a sério a uniformização. A inspeção
inicial e final era severa. Nos acampamentos não se aceitava desculpa. Tinhamos
que aprender a lavar e passar “a escoteira”. (Dois ou três galhos esticados com
as peças durante a secagem). Lá também
nas atividades ao ar livre nunca saímos do campo sem o uniforme. Permitia-se
que ficássemos de camiseta nas horas de tempo livre. Eu mesmo mandei de volta
para casa jovens que chegavam à sede com o uniforme mal apresentado ou que não
fizeram suas promessas. Errado? Não senhor! Ele quando entrou sabia como se
portar. A disciplina começa na sede e se ela não existe o jovem não terá nunca
o que pretendemos para sua formação.
Um chapéu de abas
largas e retas (aprendíamos com o Monitor como fazer), meias bem postas com
listas retas, sapatos engraxados ou tênis preto limpos e nunca sem cor. A
camisa e a calça fazíamos questão de nós mesmo passar. A mamãe do lado
ensinando. Assim íamos aprendendo a fazer fazendo. Podem dizer que os tempos
são outros. Se são estão errados. Estes tempos não estão trazendo então o que
sempre sonhamos. Um escotismo respeitado, com uma comunidade participante e
acreditando que ali seus filhos iriam aprender a ter civilidade, obediência,
disciplina e agindo por sí próprio sem depender sempre dos outros. Tudo é
questão de ver em que lado estamos lutando. Do lado do que pretendia
Baden-Powell ou do lado do bem querer e fazer o que bem entender em nome dos
modernos tempos. Se isto trás resultados eu desconheço.
Não importa o
uniforme que vestimos. Temos que ter orgulho dele em qualquer hora. Ele foi
feito para nos representar e isto só nos deve trazer alegria em dizer: - Sou
Escoteiro e me orgulho. Quando me disseram que muitos jovens não entravam no escotismo
porque achava o caqui ridículo eu fechado em mim mesmo dizia: - Graças a Deus
que eles não entraram. Não nos seriam úteis e iriam um dia ou outro mostrar que
os Escoteiros não se orgulham da sua organização. Dizem que com a nova
vestimenta, mais moderna eles agora iram participar. Que Deus nos ajude para
que eles não nos tragam a má impressão que já estamos vendo – Calça curta,
comprida, camisa dentro da calça e fora da calça, calçado a escolher, meia
branca preta ou qualquer cor. Lenço amarrado na ponta, cobertura a escolher.
Espero mesmo que os que forem vestir a vestimenta que se orgulhem do seu
uniforme. Só assim um dia poderemos dizer que nossa organização tem tudo para
modificar o Brasil!
Lembremos que levamos
dezenas de anos para que a sociedade nos reconhecesse com o uniforme caqui.
Agora vamos começar tudo de novo com a vestimenta. Se ela não for bem
apresentada ao publico o escotismo vai perder e muito com o que esperamos das
autoridades, ou seja, o reconhecimento que somos um movimento sério e
disciplinado, de formação e educação de jovens e que a sociedade pode confiar
que somos sérios e que investir nos seus filhos no escotismo é um passo enorme
para um Brasil grande!
Nenhum comentário:
Postar um comentário