Lambanças. Quem não as tem?
O Chefe Pata Tenra, Os
escoteiros chorões, o tatú-bola e a cascavel.
Nem sei se são lambanças. Quem sabe fatos reais de um tempo que passou. Ninguém
passa pela vida sem passar por elas. Acontecem com qualquer um. Tive muitas
lambanças na vida. Gosto de lembrar-me delas. São divertidas. Fazem-me bem.
Cada passo cada jornada seja escoteiramente ou então na lida diária lá estão
elas. Prontas para nos tirar do sério. Já contei aqui várias. Mais duas para
ficarem na lembrança como verdade ou mentira. Acreditem se quiserem. Estas são
duas simples. Nada espantoso. Risos. Não importa. Vamos lá:
- Primeira - 1979 - Acampamento de três tropas,
grupos diferentes. Não era distrital. Chefes amigos acampando. Cinco dias.
Local excelente. Seis chefes. Todas as tropas com quatro patrulhas completas,
ou melhor, algumas com sete. Chegamos cedo. Dez horas. Combinado lanche para o
almoço para dar tempo de montagem do campo. Dizem que é tipo Giwell, não sei.
Me parece tipo Net. Não gosto. Acho que a Net debocha das outras. Para não atrapalhar,
não fizemos a inspeção da tarde. Cinco e meia já no lusco fusco chamada dos
intendentes. Viveres para o jantar. Todos vieram. Simples. Um arroz, linguiça
frita, batatas cozidas com chuchu. Seis e meia ouvimos as primeiras patrulhas
dando o grito. Jantar pronto. Monitores nos procurando no campo de chefia nos
convidando e dizendo que o jantar estava pronto. Claro, agradecemos. Fizemos
nosso próprio jantar.
Oito horas da noite. Faltavam ainda quatro
patrulhas. Todas de um só grupo. Melhor ir lá ver. Em cada campo só barracas
montadas e muito mal armadas. Fogão? Necas! Escoteiros? Todos chorando em um
canto de fome e medo e pedindo mamãe. Eureka! Só jovenzinhos de dez/onze anos.
– Montei a tropa agora, disse o Chefe deles. Resolvemos nivelar a idade, assim
todos teriam as mesmas condições. Não preparou os Monitores? - Eles me
garantiram que dariam conta. Humm! Se tivéssemos celular naquela época o
acampamento estaria cheio de mamães para buscar os filhos. Eu e outro Chefe de
outra tropa chamamos nossos Monitores. Ajudem. Façam o que puderem. Passem o
comando para o sub.monitor. Tempo livre. Fazer atividade noturna só com todos.
Os pata tenras não iriam aguentar. Em nenhum momento os chefes interferiram.
Dez e meia, os chorões jantando. Vieram todos de todas
as patrulhas, abraços, ajuda, ensinando pioneiras e as canções zumbindo nos
campos. Montaram com eles os fogões suspenso, mesas, toldos e engenhocas. Eles
adorando e sorrindo, trabalhando se sentindo homens. Onze e meia. Todos
dormindo. Dia seguinte, um belo de um acampamento. Uma amizade sem fim. Os Pata
Tenras sorrindo. Adorando o acampamento. Ultimo dia, abraços, apertos de mão,
choro, mas desta vez de saudades. O Chefe aprendeu e não interferiu em nenhum
momento e nenhum de nós também. Aprender a fazer fazendo afinal eles não estão
ali para isto? Pois é. A vida nos ensina e dá muitas voltas. Quem os viu antes
e agora! Coisas da vida.
- Segunda – 1952 – Acampamento em Águas Turvas. Dois
dias. Só os Raposas. Chegamos sábado bem cedo. Nada de novo. Sabíamos o que
fazer. Sete escoteiros. Três Primeira Classe e três segunda. Só eu de Pata
Tenra. Duas horas da tarde. Tãozinho correndo – Vi um Tatu-Bola! - Fumanchú
vibrou. Daria um ótimo ensopado com batatas. Fumanchú era o máximo. O melhor
cozinheiro que já vi. Lá fui eu o Romildo Monitor, o Israel Sub e o Tãozinho
intendente. Não é fácil pegar um tatu. Eles já pegaram antes. Buraco fundo.
Enfiar a mão? Nunca como dizem por aí pode ter uma cascavel. Vamos usar o
truque da fumaça. Galhos secos na porta, fogo muitas folhas verdes molhadas.
Uma fumaceira do inferno. É só fechar a porta do buraco. O tatu sai correndo.
Dez minutos nada. Vinte. Chocalho de Cascavel. E agora? O tatu se enroscou. A
cascavel não podia morder. Só vi o buraco sendo aberto pela cascavel.
Pernas para quem vos quer. De cascavel os Escoteiros
querem distância! Deixe para amanhã disse o monitor. Voltaremos e matamos a
cascavel e pegamos o tatu. O danado não vai escapar! Dormimos. Um bom Fogo de
Conselho só com uma patrulha. Bom demais. Adoro esta vida de Escoteiro. Dei
risadas, mas de vez em quando ouvia chocalho de cascavel. Os patrulheiros
também ouviram. Melhor fazer um fogo alto em frente às duas barracas de duas
lonas. Dormimos. Dia seguinte espreguiçando, saí da barraca. Putz Grila! Oito
Cascavéis em volta. Dormiram ali esperando a gente acordar. Todos levantaram
assustados. Romildo gritou! Por aqui. Corram o que puderem. Fomos para o lago
entramos na água e ficamos lá até duas da tarde. Voltamos. Campo vazio.
Desmontar acampamento. Vamos para a fazenda do Linhares. Em fila partimos
chocalhos na mata atrás de nós. Saímos na Rio Bahia. Avistamos quatro delas na
beira da estrada a nos espiar. Uma carona em um caminhão caçamba até nossa
cidade.
Nunca mais voltamos em Aguas Turvas. Não gosto de
cascavéis até hoje. Sempre que vejo uma me dá arrepio. Uma mordida, quatro
horas para morrer. Dependendo dela nem soro resolve. E naquela época soro?
Melhor uma Surucucu. Não corre. Para e enfrenta. Se você corre ela fica.
Cascavel não. Corre atrás da gente. Enfim, quem já acampou já viu cobras sabe
como é. Sempre correndo da gente. Quase todas fogem quando fazemos barulho no
mato, mas quer saber? Nunca confiem em cascavéis!
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