A arte de
aprender a fazer fazendo.
Conversa ao
pé do fogo. Já participou?
Quantas? Não sei. Centenas e
centenas. Cada uma mais deliciosa que a outra. A primeira vez dizem que a gente
nunca esquece e eu nunca esqueci. Entrando nos meus catorze anos, acampado, vi
após um jogo noturno que alguns jovens se reuniam em frente à Barraca do Chefe
Vagalume. Não era do nosso grupo e morava em uma cidade próxima. Lá não havia
grupo e ele tentava organizar um, mas era difícil achar patrocínio, mesmo que
fosse só a sede. Assim amigo do nosso Chefe Jessé ele sempre filava uma boa
atividade escoteira. Aproximei-me de mansinho e vi mais de vinte jovens em
volta de um pequeno fogo em frente à barraca de chefia e senti que ali havia
algum mais que desconhecia. Todos alegres, dando risadas, cantando, outros
servindo bananas assadas, um bule de café fumegante que sempre estava sobre as
brasas e ele o Chefe Vagalume parecia estar em todos os lugares.
Para dizer a verdade eu já tinha
feito algum parecido quando acampávamos somente com nossa patrulha. Mas ali o
espirito era outro. Tudo improvisado. As canções brotavam sem a gente perceber,
e as histórias? Cada uma mais linda que a outra. O Chefe Vagalume e o Escoteiro
Lomanto eram bambas em uma história. Imaginava como conseguiam guardar tudo na
cabeça. Esqueçam o Fogo de Conselho, pode até ser parecido, mas o Fogo de
Conselho é único, dependendo da tropa ou Alcateia ele marca para sempre. A
Conversa ao pé do fogo é diferente. Nada é programado, você fica o tempo que
quiser. Sai e volta e as conversas entre amigos são normais. Ninguém dirige
ninguém ordena e quando alguém faz algum interessante todos param e prestam
atenção. Tem algumas conversas ao pé do fogo que demoram horas e outras pouco
tempo.
Eu já vi Conversas ao pé do fogo
em uma patrulha, onde sem perceber as demais patrulhas ali acampadas acorriam.
Nada de fogo enorme e sim achas grossas para durarem mais tempo. Conheci
monitores que sabiam conquistar a todos pelo sorriso e pelas histórias. Claro
que a gente morria de rir com os pata tenras que vendo tudo aquilo se
arriscavam a contar uma história e nela se embananavam. Mas ninguém criticava e
havia até palmas para estes com suas piadas, seus jograis, suas histórias e
suas canções. Nas patrulhas havia a obrigação de dormir antes das onze da noite
quando o Chifre do Kudu anunciava a hora de dormir. Com chefes somente era
diferente. Eu mesmo perdi a conta quando íamos dormir lá pelas tantas,
madrugada adentro, mas sabendo que no outro dia tínhamos responsabilidades e
não podíamos fugir delas.
Um boa Conversa ao pé do fogo
deve ter seu código de conduta não escrito para que não fuja do nosso ideal
Escoteiro, da nossa promessa e do nosso desejo fraterno para que não ofender
quem quer que seja. O espirito ali era o de ser puro nos pensamentos nas
palavras e ações. Quando acampamos devemos deixar nossa marca e ela acontece em
uma Conversa ao pé do fogo. Aqueles que um dia desejarem fazer um, fica meu
conselho. Nada obrigatório, quem sabe avisar a um ou dois que depois do jogo
noturno ou atividade noturna você fará uma Conversa ao pé do fogo. Se
perguntarem o que é não diga nada, só diga que está aberto a todos e não tem
hora de começar e nem de terminar e que ninguém é obrigado a participar. O
resto é com eles. Não faça propaganda para não haver decepção depois. Aos
poucos os jovens vão aprendendo e no futuro farão o seu próprio em suas
patrulhas.
É bom ter um bom bule de café
cheio, para a gauchada um chimarrão, bananas ou batata doce para assar. Tudo
fica ali na brasa, pois o fogo não deve ser alto e achas grossas para durar e
evitar sempre alguém ter de alimentar o fogo. Aprendi e costumava fazer em
frente minha barraca e as banquetas são a grama do local. Os finais da Conversa
ao pé do fogo é simples. Muitos já se foram para suas barracas e os poucos que
ficaram agora deitados olhando para o céu vão contando pedaços de sua vida, de
seus amores, do escotismo e dos sonhos que um dia acham que vão realizar. Se
passar um cometa cintilante, grite bem alto para todos ouvirem: “Estrela
cadente, não caia na minha mão, Estrela brilhante, traga seu brilho no meu
chão. Estrela cadente, por favor, atenda ao meu pedido”. E faça um pedido logo,
pois dizem que ele atende a todos que sabem pedir sorrindo.
Eu sei que muitos de vocês já
fazem normalmente uma conversa ao pé do fogo. Escrevi pensando naquele que já
viu e os que e não tem ideia do que seja. Claro aqueles que em noite escura ou
com luar, em um belo acampamento ainda não fizeram uma conversa ao pé do fogo.
Cantem baixo, cantem com amor. Não leve nada escrito e deixe a improvisação
chegar de mansinho e pense que a vida é bela para quem um dia teve a sorte de
participar, de uma bela, simples e gostosa... Uma conversa ao pé do fogo!
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