Coisas
da vida.
Chefe
porque eu devo morrer?
Tijolinho da matilha
Amarela no salão de jogos sorriu para mim e sem eu esperar perguntou: - Chefe
porque eu tenho que morrer? – Danado de garoto! Pegou-me em cheio. Sempre estou
preparado para orientar e mostrar o melhor caminho a seguir quando sou
procurado, mas Tijolinho me deixou de calças curtas. Eu sei que a morte é um
processo natural da vida, morte e vida estão intrinsecamente ligadas, uma não
existe sem a outra. É como a palma e as costas da mão. Não há vida sem morte e
também não há morte sem vida. O que devia responder a Tijolinho?
Espiritualmente cada um tem sua maneira de interpretar a morte. Não é bem
vista. Ninguem gosta de falar sobre ela. Lembro-me do meu Avô que no seu leito
na sua cama, me disse uma vez: - Uma gera a outra como se fosse uma roda que
gira sem parar criando um ciclo após o outro.
Eu sempre acreditei que
seria fundamental ajudar aos jovens a entender e aceitar a morte, mas para isto
não as podemos confundir nem enganar, nem impedir que saibam a verdade. O
silêncio as perguntas sem resposta, às respostas sem sentido figurado reforçam
a visão da morte como algo interdito ou tremendo. Ninguem gosta de falar dela
outros falam evasivamente e arruma-se logo uma explicação ilógica. Assim sem
perceber geramos coisas horríveis, que criam medo e até complicações de saúde.
Esconder quando alguém próximo morreu só complica a situação e adia o
inevitável. Afinal morte é morte e não tem outra maneira de dizer. É muito
comum à gente falar para as crianças que ela foi para o céu, adormeceu para
sempre. Transformou-se em uma estrelinha. Seria o certo? Será que não estamos
confundindo e estamos desenvolvendo fobias como o de andar de avião ou
adormecer?
Tijolinho me pegou pela mão e
falou novamente: - E então Chefe, vai ou não me explicar porque eu devo morrer?
– Precisava responder. Não sabia como. Eu sei que não é correto manter o jovem
a parte quando alguém que ele ama está doente ou em fase terminal da vida. Não
adianta, o jovem vai perceber que se passa algum muito grave e que não lhe
querem dizer. Isto até pode aumentar a sua angustia e a sensação de exclusão.
Não é fácil aceitar a morte. Quem sabe por que acalentamos o desejo de eternidade.
Temos medo de morrer, mas a hipótese de nunca morrermos parece ainda mais
assustadora. Afinal porque o silêncio? Porque impedir que as crianças de
descobrir a verdade? Não seria melhor dizer a ele para perguntar a sua mãe ou
ao seu pai? Quem sabe eu poderia ir de encontro ao que eles pensavam. Temos o
medo do desconhecido, da separação de quem amamos, de não viver uma vida plena,
de envelhecer e perder a dignidade.
Fico pensando se não é melhor
viver a nossa vida com sentido, estabelecendo uma proximidade com os outros se
não atenuaríamos a ansiedade que temos perante a morte. Uma escritora escreveu
que a morte nunca deixa de estar presente em nosso íntimo. Ela é para nós um
dos maiores enigmas da vida. Quanto mais refletimos mais apreciamos e
valorizamos cada instante da vida. Sabemos que não é a morte que assusta as
crianças, é o nosso medo de contagiá-las. Ela a criança receia mais a
separação, ficar desemparada de quem ama. A visão sombria e terrífica da morte
é algo que devíamos aprender culturalmente. Cabe a todos fazer um esforço para
que não deixemos de ser assim. – Olhei para Tijolinho e mais dúvida eu tinha em
dizer algum para ele.
Enganar? Jogar o problema para
os pais ou para os religiosos? Quem era eu afinal? Um Chefe Escoteiro que nem
sabe ajudar a quem precisa na hora certa? - Respirei fundo. – Tijolinho a vida
é feita de momentos, momentos pelos quais temos de passar. Sendo bons sempre
para o nosso aprendizado. Nada é por acaso, nada acontece sem que tenha uma
explicação. Somos parte da vida e nem sempre podemos decidir o que o Chefão lá
do Céu resolveu. A vida Tijolinho é perfeita naquilo que tem que ser. Sonhos
não morrem apenas adormecem na alma da gente. Vai chegar a hora que iremos
morrer. É natural que seja assim. Lembre-se que as folhas morrem e novas
substituem as que se foram. As flores vem e vão. Crê em você mesmo, quando você
esforça a vida sempre estará pronta para te ajudar.
- Tijolinho me deu um
sorriso. Nem sei se ele entendeu o que eu quis dizer. Eu tenho minha crença e a
morte para mim é a continuação da vida. Ela não para e é constante. Tijolinho
gritou alto: - Melhor Possivel Chefe, a Akelá me chama para o jogo do Tigre.
Não posso perder! E saiu correndo para sua matilha com a esperteza dos lobos de
Seeonee. É muito difícil ser um Chefe Escoteiro. Tem coisas que não se explicam
que não aprendemos que não estamos preparados para ajudar aos jovens que nos
procuram com sua ingenuidade. Enfim, como disse Chico, a vida é assim.
Nascer... Viver... Morrer... Nascer de novo, pois esta é a lei! Verdade?
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