As vozes do
silêncio.
Um
poeta disse que o sentimento mais profundo de um ser humano é o silêncio. – “Se você não consegue entender o meu silêncio de nada
irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos
os meus maiores sentimentos”. Eu gosto do silencio, de ouvir, interpretar as
palavras, fechar os olhos e pensar se era isto mesmo que eu queria dizer. Eu
sei que na alma do homem está à alma do mundo, o silêncio da sabedoria. Deve
ser fantástico passear pelas estrelas, sentir por lá o som do silencio
velejando pela via láctea, ver o brilho de um cometa passante, tentar entender
o universo mais lentamente, sem pressa... Passar por um buraco negro sem saber
o que encontrar... Ah! O silêncio. Dizem que ele e oração dos sábios.
O poeta diz ao mundo - Não direi que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou calado ficarei, pois que a língua que falo é de outra
raça. Palavras consumidas se acumulam se represam cisterna de águas
mortas, ácidas mágoas em limos transformadas, vaza de fundo em que há
raízes tortas. - Não direi que nem sequer o esforço de dizê-las
merece, palavras que não digam quanto sei neste retiro em que me não
conhecem. - Só direi, Crispadamente recolhido e mudo, Que quem
se cala quando me calei não poderá morrer sem dizer tudo. Não só ele, mas
eu também me extasio com as vozes do silêncio.
Sinto saudades do silencio. Os sons da
alvorada, o cantar da passarada onde a voz humana era inaudível. Quanto
deleite. Quanta satisfação e contentamento em apagar a voz, deixá-la escondida
na garganta e sentir o fundo musical do vento que nada diz e a gente se
transforma em um ser humano imortal. Eu já tentei interpretar o silencio das
matas, no alto de uma montanha, na cascata sorridente de um vale feliz. Lá estava
eu mochila no costado, ração no bornal, cantil e faca escoteira para viajar na
trilha da bem-aventurança. Era só eu. Sozinho naquele cercado de um lugar
chamado paraíso. Ninguém mais pode entender meu prazer, meu deleite e a euforia
de estar ali... Em silencio! Já ouviu a voz do vento? Ele canta divinamente.
Canta para embalar as árvores, para alegrar as flores do campo, ele canta para
dizer que o mundo não e o que pensamos, mas é uma nascente de Deus.
Tente ficar de olhos fechados, deixe seu
pensamento se misturar com os sons da floresta, sinta o vento no corpo, estremeça
deixe fremir o seu olfato, percorra com sua audição seu jubilo de ouvir tão
linda canção... Do vento! Só sendo Escoteiro é que podemos interpretar a voz da
cascata murmurante, sua fonte e o borbulhar das águas cristalinas. E foi no
alto da montanha, eu ali calado, em silencio, tentando imaginar tudo aquilo e o
dom de quem criou tão bela imagem. Estava extasiado. Os minutos se passaram tudo calmo,
exceto a minha respiração. Ela dava arrancos, entrecortada, tendendo a soluçar
em silêncio. A música expressava o que não pode ser dito em palavras, mas não
pode permanecer em silêncio. Uma voz da noite me disse: Escuta e serás sábio. O
começo da sabedoria é o silêncio. Não sabia o que dizer ou fazer.
-O silencio de Deus nos ensina.
Antes de reclamar que Ele não te respondeu tente entender o que Ele está te
ensinando. Fechei os olhos, não abra, só ouça dizia uma voz. Nunca na vida
tinha me sentido assim. Era como se estivesse sozinho abraçando um fogo de
conselho, luzes de algodão vermelho querendo subir aos céus. Céus? Lindas
estrelas no firmamento. Queria pegá-las, acariciá-las, levá-las comigo para não
esquecer aquele momento. Uma orquestra noturna de grilos e pirilampos com suas
luzes brilhantes começaram a tocar uma linda melodia. Uma coruja de olhos
verdes ria e cantava: - Linda é à noite, tente ouvir o Senhor, pois muitas
vezes Deus se cala... Mas o silêncio de Deus não significa que Ele desistiu de
nós.
Era hora de retornar para junto dos
meus. Enrosco-me em minha manta azul como o céu que amo. Existe um vento calmo
no ar. Brisa gostosa. Ouço ao longe o cantar do Uirapuru. Sinto pardais
dedilhando um violão encantado. Uma melodia toca no violão apaixonado. Sinto
pedacinhos molhados gotejando na minha face. Sei que são lágrimas de alegria. O
que dizer de tudo que sinto que vi e amo ao sentir o silencio maravilhoso em
mim? Como Einstein em penso noventa e nove vezes o que sou e nada descubro.
Deixo de pensar e continuo em profundo silêncio. E eis que a verdade vai aos
poucos me revelando:
- Somos Escoteiros,
filhos da natureza. Reconhecemos nela o Criador e por isto sentimos falta dela.
Não sei mais o que dizer. Volto à civilização. Civilização? Deve ser quem sabe o
dia que todos aprenderam a voz do silencio, a ouvir, entender, sorrir sem
discutir quem está com a razão.
Nunca na vida tinha me
sentido assim. Hoje resolvi escrever diferente. Iria escrever sobre o silêncio.
Transportei-me para uma floresta, linda, aroma de flores no ar. Era como se estivesse
sozinho abraçando um fogo de conselho, luzes de algodão vermelho querendo subir
aos céus. Céus? Lindas estrelas no firmamento. Queria pegá-las, acariciá-las,
levá-las comigo para não esquecer aquele momento. Ouvi uma orquestra noturna de
grilos e pirilampos com suas luzes brilhantes que tocavam uma linda melodia.
Uma coruja de olhos verdes cantava: - Linda é à noite, tente ouvir o Senhor,
pois muitas vezes Deus se cala... Mas o silêncio de Deus não significa que Ele
desistiu de nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário