Lendas Escoteiras.
A lenda do
Coqueiro do Lago dos Anjos.
Foi por volta do meio dia que
chegamos ao nosso destino. Programa? Quatro dias acampado, construir um escada
do sol e fazer um caminho nas nuvens aproveitando as arvores enormes que lá existiam.
Sol a pino. Não houve dúvidas para chegar lá. A fonte informou que era o local
ideal que procurávamos. O local era realmente maravilhoso. Sentamos a beira do
Lago dos Anjos. Enorme, águas das cores do céu. Peixes pululavam nas suas águas
frescas. O vento formava pequenas ondas que batiam na pequena praia de areia. Uma
mata refrescante em volta do lago.
Pássaros voavam sobre as águas a
procura dos peixes para sua alimentação. Fizemos um pequeno descanso e o
trabalho para a montagem do campo começou. Cada um sabia o que fazer. Não
éramos mais patas tenras do passado. Dois com o toldo e o fogão suspenso, dois
com as barracas e dois com as pioneiras de campo. Quem terminava ia ajudar os
outros. No meio da tarde almoçamos.
À tardinha uma refrescada nas
águas do lago. Gostoso. Delicioso àquela hora. Olhei o sol se pondo. Sempre
fico encantado com o nascer e o por do sol. Para mim os dois maiores
espetáculos da terra. Vi um inesquecível por do sol no cume do pico do
Roncador. Uma pequena nuvem deixou que pingos refrescantes caíssem em minha
face. Quantas e quantas vezes fiquei maravilhado ao ver na Garganta do Rio Selvagem
ou nas Escarpas do Menino que Chora e até nas Campinas do Riacho Azul.
Mas algum me chamou a atenção.
Não tinha percebido antes. Bem próximo a nós um coqueiro. Nada de
extraordinário. Folhas verdes espalhadas em seu tronco e cinco lindos cocos
redondos. Isto mesmo. Redondos. Quando o sol iluminou suas últimas luzes da
tarde gostosa, foi através das folhas do coqueiro. Um espetáculo! Nunca tinha
visto nada igual! Os raios do sol se espalharam por toda orla do lago, e
alimentou as árvores como se fossem fogos coloridos. Fiquei ali até o sol se
por. Na Patrulha ninguém viu ou ninguém notou. Só eu.
Era rotina levantarmos cedo.
Antes de o sol nascer. Levantei sonolento e ao abrir a porta da barraca outro
espetáculo se formava. Agora ao contrário. O sol que despontava no horizonte, batia
sobre as folhas do Coqueiro que ficavam douradas e os cinco cocos pareciam
bolas amarelas a piscar luzes coloridas. Aquele Coqueiro era especial. Notei
que em sua volta não havia folhas caídas, nem sementes, nem nada. Nem tampouco
cocos que amadureceram e não podiam continuar na arvore mãe. Em sua volta
apenas uma grama macia, como se tivesse sido aparada por anjos invisíveis.
Era um coqueiro que vivia no
caminho do sol durante sua passagem para o oeste. Mas a rotina de uma Patrulha Sênior não dava
folga para amenidades nem imaginações de um sonhador. No primeiro dia o
elevador que nos levaria ao céu ficou pronto. No alto da árvore no segundo dia
construímos um Ninho de Águia que cabia perfeitamente os seis valentes
escoteiros. A passagem nas nuvens demorou mais dois dias. Eram oito as arvores
interligadas. Para que? Utilidade? Perguntem aos escoteiros. Eles fazem e só
eles entendem e sabe a maior? Eles gostam! Risos.
Todas as manhãs e todas as
tardes eu não perdia o grande espetáculo que o sol e o Coqueiro davam naquele fantástico
Lago dos Anjos. Lembro que no passado quase não observava as coisas em minha
volta. A natureza é prodiga. Difícil entender tudo, mas fácil aprender a amar o
que se vê. A primeira vez aconteceu na volta de uma jornada. Onze anos. Uma
parada e deitado com a cabeça apoiada na mochila eu observei uma formiguinha.
Tentava levar tronco acima uma pequena flor. Dava alguns passos e caia. Ficamos
ali descansando por vinte minutos. Vinte minutos a formiguinha tentando subir e
caindo. Ela não desistia nunca. Partimos sem eu saber se a formiguinha tinha conseguido.
Outra vez estava sentado no
Penhasco das Pedras das Esmeraldas, quando sem querer avistei um grande gavião
negro. Voava aqui e ali. Sempre fazendo o mesmo caminho. Por quê? Porque não se
foi para outras paragens? Notei lá embaixo, um pequeno Tiziu Azul, escondido em
uma fenda do penhasco. Natural. Era agora sua presa. Natureza cruel, mas existe
e faz parte da vida.
Em toda minha vida sempre fui
um Escoteiro sonhador e observador. Sempre gostei de diferenciar o vôo e o som das
aves. Sempre sabia onde as borboletas ficavam quando da sua dança do
acasalamento. Uma vez fiquei dois dias observando o João de Barro a fazer sua
casinha. Bati meu recorde quando conseguir chegar a menos de dois metros de um
sagui, um mico muito esperto. Quando não acampando pegava minha bicicleta e ia
seguir pistas de carros, charretes, bichos do mato nas redondezas do meu
bairro. Dizem que devemos ver as coisas não como as vemos, mas tentar dar um
pouco de vida no que podemos enxergar. Henry David dizia que em cada pôr-do-sol
que via, lhe inspirava o desejo de partir para o oeste tão distante e belo
quando aquele onde o sol se pôs!
Ver e imaginar o belo em todas
as coisas. Somente o amor pode sorrir nos olhos da natureza como um espelho. Esses
poetas e seus sonhos e suas frases maravilhosas. Prosseguir na vida é saber ver
ao seu redor. Em tudo que vemos podemos ver o belo ali presente. Nossa mente é
quem decide por nós. Carl Sagan amante do futuro e da natureza comentou um dia
que nossos antepassados viviam do lado de fora. Eles estavam tão familiarizados
com o céu noturno e as estrelas a piscarem luzes maravilhosas quanto à maioria
de nós estamos com os nossos programas de televisão favoritos. Belo programa!
A natureza não pode acabar. As árvores
são nosso pulmão, os rios nosso sangue, o ar é nossa respiração e a terra, ah!
A terra. Ela é nosso corpo. Faça você de seus olhos, sua mente o que devemos
ver e lutar para que seja assim! Afinal você é um escoteiro! Sonhe o quanto
quiser! Imagine o quanto puder! Faça da natureza o seu destino. Nós temos este
direito!
Nota: - Uma viagem na
imaginação. Uma vontade enorme de estar lá naquele lago fantástico. Uma
história comum, mas que traz as belezas do escotismo aventureiro com sabor da
natureza.
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