Crônica de um
Velho Escoteiro Bengaleiro.
A perna, a
Bengala e o caminho para Sucesso.
- Ops! Não é o livro de BP, é o meu
caminho. Sucesso ou não “tô” nele e não abro mão. Saltitei da cama cedo, a
perna me olhou espantada e disse: Pé na taboa escoteiro vou te levar em
excursão vai ser alegria de montão! Quá, eu conheço esta “petisca”. Mas não dei
prá ela xulê, Café nos introitos, biscoito para mastigar e na parede pendurada
a minha gostosa bengala. A perna logo reclamou: - Caminhada curta escoteiro,
deixa de ser treteiro! Upalalá! Lá fui eu tartarugando e bengalando, e minha
perna reclamando. Andei quase dois quilômetros, e ela calada não praguejou.
- Andar de bengala é um “barato”, todo
mundo tira o chapéu, devem pensar coitado do velhote, já não vai ao convescote,
perna curta não vai dar. Risos. Entro na padaria, minha voz não é batuta, rouca
e desafinada, me atendem com presteza! Poxa! Ainda dizem que velho não tem
valor, tem sim, e si tá de bengala todo mundo respeita. Vou atravessar a rua,
paro no meio fio, os carros buzinando e a motoristada fazendo sinal: - Passe
Velhote, a rua é sua! Lá atrás a “buzinaria”. Alguém grita “deixa o velho
passar”!
- Finjo que quase tropeço, todos
querendo ajudar e lá vou eu a caminhar. Minha mente não dá trégua e começo simplesmente
a pensar. Lembro-me do Gilmar Mendes, o Ministro Valentão que diz não dar um abraço,
não gosta da lava jato. Ele solta todo mundo e nem tai com aquela cara de
assustar. Risos. E o Temer? E Rodrigo Maia? Um vai para a china o outro vira
presidente. E a deputadaiada continua trabalhando (trabalhando?) terças e quartas
e depois é hora de voltar no jatinho da FAB. E você? Vai votar em quem?
- O cara recebe propina de cinquenta mil
e reclama. Só isto? Moço propineiro, passa prá mim, tô andando de Vulcabrás,
meu carrinho fundiu o motor. E se não quer eu quero, “faiz favô”! Na esquina da
São José dou uma bela risada. Quem passa acha o que? “O Velhote tá no norte”
Deviam era preocupar em quem votar. Eu? Não voto em ninguém eleito. Ninguém!
Ali e acolá seja vereador deputado ou senador, “nois tamo é roubado”! E se
gritar pega ladrão não fica um meu irmão!
- A mente não para, a perna calada, a
bengala toc toc. Olho atravessando a rua, um cara magro, alto cabelo espichado,
dente prá frente e pensei... É o Maestro Munir! Conhece? Sei que não. Era o
maestro da Banda do Grupo Escoteiro São Jorge onde aprendi a escoteirar. Adorava
desde pequeno ir ao Campinho do Cine Pio XII ver a banda tocar. Batuta! Maestro
munir andava com uma varinha. Bumbo aqui, corneta e clarim acolá! Acho que foi pela
banda que entrei no lobinho. Quantas saudades! Sempre adorei marchar!
- Lobinho, não disseram que o Maestro
Munir era o Akela? Bem nunca o vi lá, quem mandava era o João que todos
chamavam de “Jão”. Balu seu moço, Balu mas ninguém chamava ele assim. Sabe, eu
gostava dele. Seu jeitão de sorrir, de cantar de contar histórias. Pequeno
magro, negro e pai eterno. Fiquei lobeando com ele por quatro anos. E o Maestro
Munir? Era dono da banda, lá não tinha lobinhos, só sênior e pioneiro.
Precisavam ver o Maestro nos desfiles. Nunca vi tanta medalha e tanta
estrelinhas de metal. E o seu chapéu? Deus do céu! O cara era o tal!
- Sai da Avenida São José e na Padaria
do Guido atravessei a rua entrando na Pica Pau. A perna não reclamava. Andava
devagar quase parando. Foi um custo para me aceitarem na banda. Entrei para treinar
no Tarol. Depois fui para uma Caixa Clara até chegar ao Tambor. Meu sonho era o
clarim. Um dia o Maestro me deu um e disse: Leve para sua casa, treine e quando
souber tocar me dá um toque quem sabe você vai tocar na banda! E não é que no
dia em que ia apresentar, eis que a Patrulha foi acampar! Clarim ou acampamento?
- Eu gostava mesmo era do “Seu Miguel”
nos seus sessenta anos contava histórias demais. Dono do Sítio Pato Manco, era
nosso local preferido para acampar poucos dias. Nem dava a noitinha chegar e lá
vinha ele com o Montanha, um vira-lata magro e que nem latia. Montanha? Risos.
Lembro que ele contava histórias quando soldado na frente da batalha da Revolução
de Trinta. Paulistas contra “nois”. Ele era bom para contar. Fingia estar com
seu fuzil “Mauzer” modelo 1928 e pum!
- Bem a mente vai sessando e vou
chegando a minha morada. Célia está no portão. Marido comprou ovo? Puxa!
Esqueci! A perna reclama mas lá vou de volta até o verdureiro Bastião. Sem ovo
não dá. Sem dente não posso mastigar. A perna calada, a bengala toc. Toc. Upalalá!
Viver é bom demais e prá que reclamar meu irmão! Um sorriso nos lábios bengala
na mão e seja o que Deus quiser!
Nota de Rodapé: - Apenas para passar o tempo. Afinal
ontem sofri o diabo na mão da minha perna. Hoje ela quebra o galho mas ainda
não está no ponto e nem vai ficar. É bom caminhar. Acalma, faz a gente pensar e
o tempo passa as historias ficam e no meu caminho para o sucesso vou vivendo
com minha bengala minha nova companheira.
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