Crônicas
de um Velho Chefe Escoteiro.
Onde
estão nossos heróis?
Vez ou outra me questiono
porque temos o dom de desmerecer ou tentar desmitificar nossos heróis. Até
mesmo alguns historiadores mesmo reconhecendo inteligências e competências tem
o hábito de desmerecer homens a quem chamamos de heróis e/ou exemplos pessoais.
Sei que nem todos chamados de heróis viveram sem cometer deslizes. Mas se isto
aconteceu eles não tem direitos a subir no panteão dos heróis? Se eles produziram
se colaboraram para crescemos intelectualmente e moralmente por que não lhe dar
o lugar ao sol que merecem?
No Brasil isto é muito
comum. Tiradentes foi um mito, Aleijadinho nunca existiu, Duque de Caxias foi
um farsante. Caio Vianna Martins não é o que contam e assim continuamos a
massacrar aqueles que poderiam ser exemplos para a juventude. Olavo Bilac foi
um dos poucos a exaltar o escotismo quando vivo. Até mesmo Baden Powell sofre
nas mãos de historiadores que tentam mostrar que suas qualidades não eram
tantas para ser exemplo de uma juventude que o segue em várias partes do mundo.
Sei que no Brasil de hoje
não temos muito em que nos orgulharmos. Os políticos, altos dirigentes
empresariais, eclesiásticos ou mesmo educacionais deixam a desejar com seu
desempenho profissional ou mesmo na sua ética e formação de caráter. Até mesmo no
escotismo não encontramos grandes homens galgados em postos chaves que podem
servir de exemplos e que honram suas promessas e suas qualidades morais. Temos
sim homens e mulheres simples que passaram pela escola da vida dentro do
escotismo e ainda guardam boas recordações e dentro de suas limitações merecem
nosso crédito pela formação, pelo caráter e ética.
Por outro lado olhando a nata da nação não
sabemos a quem podemos considerar da alta estirpe, que dignificam sua coragem, ética,
honra e caráter nos princípios escoteiros. Em outros países se pensa diferente.
O Americano saúda efusivamente seus heróis. Eles tem exemplos de personalidades
que passaram pelo movimento Badeniano. Quem desconhece o mito dos astronautas
escoteiros que ao pisar na lua mostram seu orgulho do movimento que amam? É
comum grandes personalidades americanas se apresentarem uniformizados ou mesmo
fotos de quando foram escoteiros.
Lembremos da pátria mãe do
escotismo mundial. A Inglaterra. Temos lá altos dirigentes, profissionais nas
suas diversas atividades, políticos que não esquecem seu passado escoteiro e se
apresentam como tal. Vejamos o caso de Edward Michael Grylls, conhecido como
Bear Grylls, ex-servidor das forças Especiais Britânicas, aventureiro,
escritor, apresentador de TV, montanhista e atual Chefe dos Escoteiros da
Inglaterra. Poderia citar centenas de políticos, pedagogos e altos dirigentes
empresariais. Alguém se preocupa em saber sua escolha sexual? Suas atividades
sociais? Isto acontece mais aqui em
nosso país.
Pensemos primeiro nos
nossos conhecimentos dos nossos épicos e heróis. Alguém já ouviu falar das famosas
batalhas e os heróis que a produziram? – Batalha de Chapicuy (1918), a Batalha
de Sarandy (1825), A revolução Farroupilha? A guerra do Uruguai e o Cerco de
Paysandu? A guerra do Paraguay e Batalha de Cerro-Corá? São tantas que escrever
todas levaria várias páginas. Pena que hoje pouco se fala nas escolas dos
nossos épicos dos nossos heróis e da nossa história. Nem mesmo o hino Nacional é
cantado como antigamente. Nas nossas sessões escoteiras pouco falamos sobre
eles. Os mais lembrados são bandidos que não merecem a pátria que tem. Lucio
Flavio, Mariel Mariscot, Fernadinho Beira-mar eles sim são bastante conhecidos.
Muitos podem citar um pouco
de sua vida em uma página escrita dos tempos escoteiros quando jovem. Seria
dignificante? Ainda espero em algum dia um Presidente que foi escoteiro vá
condecorar alguém que possamos orgulhar. Hoje o que fazemos é colocar lenços em
presidentes e políticos que não merecem usar o que amamos e nos orgulhamos
tanto. Sei que a EB irá levar alguns famosos (eu não conhecia) no Jamboree em
Barretos e fazerem deles o nosso herói escoteiro. Quem sabe receberão comendas,
medalhas e outras “coisas” mais. Será que são exemplos que procuramos e devemos
seguir?
Ainda sonho um dia saber que teremos nosso Martin Luther
King, nosso Mahatma
Gandhi a nos dizer: - “Vocês podem me acorrentar, torturar e até destruir meu
corpo, mas nunca aprisionarão minha mente”. Sei que fui longe a procurar o impossível
sem desmitificar a honra e a ética de muitos que merecem estar no panteão dos heróis
no Brasil. Dizem que breve iremos chegar aos noventa mil associados da EB.
Melhor esquecer que nos últimos trinta anos ficamos na gangorra dos setenta a oitenta
mil escoteiros brasileiros.
Um país que começou a praticar o escotismo em 1910 junto a outros nove que hoje se destacam no escotismo mundial quem sabe nunca terá os seus heróis reconhecidos não só pelos escoteiros como pela população brasileira. Aqueles grandes chefes do Escotismo brasileiro que podemos chamar de “Velhos Lobos” imortais ficaram no passado. Nos dias de hoje pouco produzimos principalmente na nossa alta corte escoteira. Seria um sonho encontrarmos um dia um Chefe escoteiro, para dirigir o Escotismo Brasileiro que irá se preocupar em servir e não ser servido.
Ainda bem que temos Caio Vianna Martins. “O Escoteiro caminha com suas próprias pernas”. Ele pelo menos será sempre lembrado mesmo que alguns dizem que ele nunca existiu e nunca disse tais palavras.
Nota de rodapé: - O Marques de Maricá disse que mesmo
mudando os tempos, os lugares,
as opiniões e circunstâncias, os grandes heróis se tornarão pequenos e
insignificantes homens. Prefiro Oscar Wild dizendo que antigamente
canonizávamos nossos heróis. O método moderno é vulgarizá-los. Heróis... Quem
são eles? Onde estão? Perdemos o rumo da história? Um artigo para lembrar que
precisamos voltar às origens. O escotismo tem tudo para fazer grandes homens do
futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário