Conversa ao pé do fogo.
Jogando conversa fora em um barzinho.
- Oi Matheus! (o garçom) Por gentileza,
um chopinho! – Um não, quatro. Estamos aqui também. Eram quatro. Saboreavam um
gostoso bolinho de bacalhau, quibes entre outros salgadinhos. Sempre estavam
ali aos sábados. Acabava a reunião tiravam o uniforme e lá iam eles. Solteiros,
nada melhor que um papinho. – Continue o
que estava dizendo disse um – O mesmo de sempre – riu. Acho que nosso movimento
tem muitos chefes cheio de empáfia. – Ei calma – Está chamando alguns
escotistas de arrogantes? Não seria presunção sua? – Não é. Você me conhece.
Veja no nosso grupo. Tem alguns que são muito simpáticos, amigos, e outros se
postam com altivez própria de quem é superior.
– Outro Chefe disse: - Não sei se
concordo com você. Veja, somos todos seres humanos. Temos nossos defeitos e nunca
seremos perfeitos. – Mas meu amigo, você acha que isto poderia acontecer no
movimento Escoteiro? Matheus veio com as bebidas. Um pequeno silêncio para
saborear o malte famoso. Um deles disse – Há muito mais certezas em um copo de
cerveja do que se pode imaginar – todos riram – o Outro olhou para o mais novo
Chefe e disse – Corra atrás dos seus sonhos, e na volta traga uma cerveja para
mim.
- Não sei se você está enganado disse
um Assistente. Tive uma decepção outro dia. Lembra-se do Chefe (...)? – Lembro.
Recebeu a Insígnia de Madeira. Pois é, mudou muito. Parece que até anda
diferente. – Não foi ele que tentou ajudar naquele curso do mês passado? – Foi
sim. Disse-me que quer ser um formador. Seu sonho sempre foi ser da equipe –
Outro gole, outro ah! O bolinho de bacalhau estava perfeito. – Estive
conversando com um Chefe que foi Escoteiro quando jovem. Gente boa. Pena que
fala demais e não deixa os outros falarem. Ele acha que só ele sabe. Todos
riram.
– A conversa não parava. Quatro amigos de
longa data. Outro disse: Estou pensando em sair do grupo. Toma-me muito tempo.
E sabem Assistentes não manda nada. Não foi o Lula quem disse? – Mas você
reclamou? Procurou falar com ele em particular? – Não adianta. Manda-me o
programa por e-mail já pronto. Costumo aparecer em um ou outro item, mas nada
sério.
- Perdemos dois jovens mês passado. Desistiram.
- Por quê? Não sei. Não me disseram nada. Um seu pai não quis gastar com a taxa
do Jamboree e o menino desistiu. O outro. Disseram seus amigos que o programa
deles no bairro era melhor – pode? – Porque você não os procurou? – eu? Sou um
mero Assistente meu amigo. O Chefe da tropa não está nem aí – E o diretor
Técnico? Ora você conhece o “dito cujo”. Se fosse do outro grupo não diria
nada. Ele sim é interessado. – Mais uma pausa, mais um gole e o pratinho de
quibe acabou. Mais quibe Matheus disse! – E para mim outro chope – Para mim
também.
– Quem de vocês vai à Assembleia? Eu
não vou. – Eu também não. – Acho que vou disse a akelá. – Vai mesmo? Não vai
morrer de tédio? – e deram boas risadas. – Este ano não. Tem eleições. – E você
vota? – Não voto, mas posso dar minhas “piruadas”. – Vou pensar se vou. Na
última vez ficamos feito tontos andando para lá e para cá e outros querendo
aparecer. Acho que se tivesse na lojinha espanador e melancia a região ia
faturar aos montes. – Pois é, quer saber? Acho que não tinham programa para
quem não vota. Podíamos participar de um ou outro seminário. Mas nestes os
entendidos não davam vez para ninguém.
-
Um deles olhou para o relógio. Dez da noite. – Já? Vamos ficar mais um pouco. A
conversa está animada! E deu boa gargalhas.
Soube que vão ter muitas eleições na Assembleia Nacional. – Eu também
soube. – Pois é, dizem que agora a reeleição só por dois mandados – Vamos ver
se é verdade – Me disseram que tem uns lá que são eternos. – Todos deram boas
risadas. E quando irão nos perguntar
sobre as mudanças que fazem? – Acho que nunca! - Nunca? Mas eu gostaria de opinar.
Chega de resolverem tudo por eles.
– Um silêncio na mesa. Um olhou para o
outro – Olhe eu vou dizer uma verdade se não fosse meu amor pelos jovens, já
teria saído. Ser voluntário no escotismo não é fácil. É o único lugar onde se
paga para ser voluntário. – O que? Paga? Você paga? – Claro pago mensalidades
minha e de meu sobrinho, pago taxa de curso, pago taxa de acampamento e nem
pensar em ir nestas atividades nacionais. – Dizem que tem grupo que paga tudo!-
Paga mesmo? Paga! Sortudos!
- Matheus! – A saideira, por favor! –
Estavam calados. Um deles esperava a entrega da Insígnia Sênior. Soube que
tinha sido aprovado. – Porque a demora? – Eles são muito ocupados. Ainda não
deu tempo para me enviarem. Não é assim na bucha, você sabe disto. Tudo anda
rápido se você é amigo do rei disse. – Já tentei minha medalha de bons serviços
e nada. Dez anos. – Dez? Tanto assim? – Isto mesmo. Acho que o distrital ou o
Assistente regional não vai com minha cara –
- Gostaria de dizer isto na Assembleia
falou a Akelá! - Porque lá tantos recebem? – Você viu a fila para receber? – É mesmo,
um mistério minha amiga. Mistério. Aprenda com eles. Vejam o que fizeram. São
considerados a nata do escotismo. Dizem que sacrificam mais que nós. O que você
faz na Alcateia todos os sábados, aos domingos, dia de semana em reuniões com
seus assistentes, participando de reuniões do distrito não é nada comparado a
eles. – Dão duro mesmo? Claro que sim. Ser dirigente não é mole. – Olharam para
a cara de um de outro e desandaram a rir.
- A conta, por favor! – Dividiram,
pagaram abraços, dividiram um taxi, pois não foram de carro. A lei seca estava
severa. A Akelá foi de ônibus. Mais um sábado. Amanhã domingo. Descansar? Nem
pensar. Cada um tem milhares de coisas para fazer. Mas francamente, é uma
pretensão destes chefes acharem que trabalham no escotismo mais que os
dirigentes não acham? – E eu? Eu meu amigo estou morrendo de rir! Tapir de
Prata neles!
Nota de rodapé: - Jogando conversa fora é uma série que há
tempos escrevi sobre quatro amigos três chefes e uma Akelá, que a cada quinze
dias após as reuniões escoteiras vão jogar conversa fora em um barzinho de um
amigo. Tomam seus chopes, pois ninguém é de ferro e sempre os temas discutidos
são sobre escotismo. Aos poucos vou publicando toda a serie escrita há mais de cinco
anos, mas acho que atual.
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