Crônica de um Velho Chefe Escoteiro.
A Corte de Honra.
Era meu antigo Chefe. Convidou-me
para ir com ele ao Campo Escola aonde iria se encontrar com um amigo e dar uma
carona em seu retorno. Eu gostava de ir lá, o verde completava as diversas
cores diante dos olhos e ofuscava a quem vivia na cidade de pedra. Era como se
fossemos transportados do nada para um paraíso, já que não fazíamos parte da
coreografia estática, mas que se movimentava em plena natureza com a brisa
gostosa de um final de janeiro e dava um sabor todo especial aquele bosque e a floresta
que se avistava ao longe.
Sempre que estive lá eu me
transformava. Era como se meu espírito fosse transportado para um éden feito de
jardins e flores. Era gostoso mudar de ar, sentir a brisa da floresta o
silencio reinante dentro daquela cidade de pedra. Ali me sentia realizado. De
tudo daquela floresta no campo escola se mantinha viva a natureza, que era
preservada, apesar de algumas construções de pedra e tijolos destoarem do
local. Tudo ali tinha o sabor doce e suave da elevação do espírito no mais alto
grau que ele pudesse alcançar naquele momento mágico.
O
meu Chefe me convenceu a ir lá. Ele também como eu, gostava do local e quem
sabe, encontraria outros amigos para uma conversa amena. Chegamos cedo e o
Curso ainda não havia encerrado. Estava atrasado em “algumas horas”. Um dos
membros da equipe veio ao nosso encontro, e saudou o meu chefe convidando-o a
conhecer os demais na Sala da equipe. Ao passar pelos alunos cursantes, sem
chamar a atenção, ele perguntou se podia ficar ali alguns instantes, ouvindo o
que era transmitido a todos pôr um DCIM, que ele conhecia bem. Sentou-se em um
banco de madeira, um pouco afastado. Sentia-se em casa. Outros da equipe se
juntarem a ele.
O
tema da palestra era interessante. Corte de Honra. A sessão devia ter começado há
pouco tempo e o Adestrador tentava a sua maneira, explicar como funciona e como
deve ser a participação dos Monitores. Tentava mostrar que ela não era uma
Reunião de Monitores e nem parecida com a reunião de Patrulha. – Corte de Honra,
- dizia - é um órgão que se reúne ordinariamente ou extraordinariamente quando
se faz necessário. Não vou entrar em detalhes sobre datas, participantes ou
mesmo responsabilidades. Isto vocês poderão ver na literatura especifica. - Ela
existe para dar uma dimensão da democracia, direitos e deveres do cidadão,
responsabilidade e julgar de maneira clara temas que poderão ser do interesse
da Tropa ou mesmo, quando a tropa se sentir prejudicada. Ela existe para tomar
decisões sabiamente. Isto para o jovem irá servir como exemplo quando adulto.
A
palestra continuou na parte que eu julgava mais importante. Durante uns dez
minutos, foi explicado suas finalidades, duração, como seria a presença do
chefe. Foi uma palestra interessante, e ao seu final, o meu chefe fez questão
de ir cumprimentar o DCIM, apesar dos dois não terem um relacionamento formal,
pois praticamente não se conheciam.
No
retorno, não conversamos sobre o assunto. Isto poderia influir no jovem
Escotista que estava conosco e havia participado do curso. Quando o levei até
sua residência, também ele nada comentou. Como estava com pressa, deixei para
outra ocasião e quem sabe, qualquer dias deste ele pudesse complementar o que
para mim era obvio, pois participava sempre da Corte de Honra da tropa em que
colaborava e achava que não tinha nenhuma dúvida sobre ela.
Em
um dia de reunião de Tropa, eu estava na sala da chefia, tentando rascunhar um
programa fornecido pelas monitoras, de uma atividade noturna a pedido de uma
das chefes da Tropa Feminina e aceitei. Gosto de ajudar. Foi então que ouvi
conversas na sala ao lado, e notei que Três Monitoras, acompanhadas de suas submonitoras
e duas chefes, estavam em reunião de Corte de Honra, e que pelo visto, deveria
ser extraordinária. Senti-me deslocado, mas minha saída abruta iria prejudicar
o andamento e a curiosidade me fez continuar onde estava.
A
informalidade das moças mostrava que a Corte teria um final previsível. Pela
maneira como a Presidente conduzia, era notório que os assuntos tinham sido
discutido em Patrulhas e às decisões seriam acatadas de maneira satisfatória.
Um deles, porém, levou mais tempo do que o necessário e somente naquele caso
houve intervenção da chefia. Algumas monitoras solicitaram que fosse aprovado a
participação dos monitores da Tropa masculina na atividade noturna do próximo
sábado. Uma das monitoras se mostrou contra assim como outras duas submonitoras.
Cada uma apresentou sua versão e mesmo assim, houve um empate técnico. Durante
todo o tempo às chefes não falaram.
A
presidente pediu a opinião das chefes e elas foram contrárias. Sem desmerecer a
idéia, ela comentou do interesse de uma das monitoras em namorar um dos
monitores e isto foi que forçou a aceitação da maioria. Como era uma atividade
específica da Tropa feminina, não haveria como aceitar a participação dos
monitores, pois não havia nenhuma finalidade que pudesse explicar tal
solicitação. Afinal, o que eles poderiam colaborar num programa já feito,
somente para moças? - Claro que teriam a participação de elementos masculinos,
mas isto para segurança e que tinha sido determinado pelo Chefe do Grupo. Iriam
dois pais e um Assistente Sênior.
Aceitar a participação dos monitores seria um contra-senso. Não ouve
unanimidade, e nesta hora prevaleceu à decisão da Chefe. Foi servido um suco com
biscoitos, conversaram mais um pouco sobre repetir ou não alguns jogos e a
reunião foi encerrada com a assinatura de todos os presentes, isto é claro,
após ter sido lida a ata e aprovada, para satisfação da escriba da Corte de
Honra.
Terminei
minha tarefa, e após entregá-lo a Chefe, fui embora para casa, pensando nas
vantagens da Corte de Honra e de sua validade no Adestramento como forma de
cidadania.
nota: - Corte de honra. Formal ou informal?
Alguns dizem que todos devem se portar como em uma Corte, com respeito, sem
falar alto ou mesmo com gírias e outras maneiras da juventude hoje. Outros dizem
que a informalidade faz parte da camaradagem, da fraternidade sem faltar com o
respeito devido. Acho que em ambos os casos tem certa razão. Se a Corte de
Honra funciona bem se os monitores e subs convidados se sentem bem, não há o
que discutir. E você? Se é Chefe escoteiro como é sua Corte de Honra?
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