Crônicas
de um Velho Chefe Escoteiro.
Noviço,
Segunda e Primeira Classe. Nunca mais?
Muitos dos novos chefes nunca
ouviram falar. Outros têm uma pequena ideia e alguns passaram por elas.
Pensando bem quem sabe elas hoje não teriam mais validade com as novas técnicas
modernas de ensino. Por volta de 1925 o “Velho Lobo” apelido carinhoso do Almirante
Benjamim Sodré, escreveu o precursor dos livros de classe para escoteiros e
seniores. “O Guia do Escoteiro” foi à bíblia de muitos do que passaram no
escotismo até 1954. Inclusive a minha.
Por dezesseis anos ele passou de
mão em mão nas patrulhas e tropas escoteiras. Em janeiro de 1941 exatamente na
data de falecimento de Baden-Powell, passou a circular uma nova literatura “Para
Ser Escoteiro” do Chefe Francisco Floriano de Paula. “Em 1961 foi convidado a
dividir o trabalho em provas de classe, passando a serem três livros: - “Para
ser Escoteiro Noviço” Para ser Escoteiro Segunda Classe” e “Para ser escoteiro
Primeira Classe”. Em 1991 por um curto período foi introduzido algumas etapas
de classe tipo múltipla escolha.
Em 1963 a UEB reeditou os três
livros do Chefe Floriano desta vez pelas mãos do Chefe Luiz Paulo Carneiro Maia
e Ivan Bordallo Monteiro. Finalmente depois de diversas adaptações e alterações
chegamos hoje ao Novo Programa Educativo da UEB. Não entro na validade ou não
do programa. Deixo isso para os novos pedagogos que entendem mais da educação escoteira
que eu. Quem sabe na minha nostalgia eu procuro ver com olhos de quem viveu
naquela época. Se os jovens de hoje iriam gostar ou mesmo realizar as etapas
exigidas até chegar a um Escoteiro de Primeira Classe só perguntando a eles.
Salto o obstáculo do Escoteiro Noviço e das exigências
para a Segunda Classe. Queira ou não pular o obstáculo de cada uma dessas
provas não era para qualquer um. Deveriam ser facilitadas? Acho que não. Afinal
aprender a utilizar e manusear uma faca ou canivete era uma obrigação de todos
os jovens acampadores. Se hoje tem um GPS naquela época existiam como hoje as
estrelas, as constelações, o vento, as folhas das árvores o sol e a lua para
nos dar o caminho a seguir.
Um passo Escoteiro, um Passo duplo,
saber a altura de uma montanha, uma árvore ou um rio era demais. Mas não vamos
falar sobre elas. Muitos daquela época conseguiram ter em sua farda o distintivo
tão sonhado de Segunda Classe. Sonhado? Não esqueçamos as especialidades. Um
muro de lamentações para muitos. Não sei, mas acho diferente de hoje. Conseguir
uma de Acampador, intendente, cozinheiro, socorrista ou sinaleiro era um
verdadeiro desafio. Os nós os sinais ficaram para trás. Mas saber de cor a Lei
e a Promessa eram ponto de honra.
A Primeira Classe era um sonho que muitos não
conseguiram realizar. Muitas das exigências eram simples, mas outras não. Era
como a especialidade de Socorrista que hoje muitos desconjuram pela sua maneira
rústica de executar. Veneno? Faca em brasa? Torniquete? Garrote? Tipoias? Ataduras?
Pelo menos todos faziam questão de aprender e fazer.
Ninguém se preocupava com a exigência
de quinze noites acampados, várias excursões e estar preparado para com um
companheiro, fazer uma jornada de vinte e cinco quilômetros a pé. Cozinhar a
própria refeição estava no ombro: - A especialidade de Cozinheiro. Percurso de
Gilwell muitos aprendiam na Segunda Classe. Se fossem para o campo, amavam a
natureza. A fauna, a flora, os minerais eram fatos corriqueiros. Mapas, croquis
eram manuseados diversas vezes nas excursões e acampamentos.
Os relatórios, os projetos, a Rosa dos Ventos,
a bussola, o sol, o relógio, a lua as estrelas, indícios naturais era rotina na
Patrulha. Carta Topográfica se aprendia nos Cantos de Patrulha onde uma vez por
semana eles se reuniam. Fazer um esboço de um campo de Patrulha, levando em
conta o vento, a cozinha as barracas e o Refeitório eram coisas de Pata-Tenra. Fossas,
canto do lenhador, intendência e as artimanhas e engenhocas eram comuns nos acampamentos
de Patrulha.
Não sei se a Primeira Classe era difícil.
Conheci muitos que orgulhosamente a receberam. Eu tive esta honra. Naquela
época ver uma Patrulha com um ou dois primeiras e três ou quatro segundas a
gente sabia com qual Patrulha estava lidando. Foi uma época de escotismo solto,
sem amarras, meninos com suas mochilas correndo pelos campos, mostrando
responsabilidade, lealdade, cortesia, sinceridade e sabendo manter o autocontrole
demonstrando estar à altura do nome escoteiro em sua maturidade.
A modernidade não pode parar.
As adaptações também. Não sei se o que BP disse quando criou o método
escoteiro, acreditando que todo o programa deveria ser voltado para o campo,
para as atividades ao ar livre, não foram sufocadas pelas técnicas modernas de
ensino. Prevejo que em breve toda metodologia Bipidiana seja absorvida pelos
novos programas que irão surgir. Só espero que o objetivo de BP seja alcançado.
Os resultados! O homem e a mulher em uma comunidade dando exemplos pessoais e cuja
honra e caráter não havendo dúvidas que foi o Escotismo um dos principais
responsáveis!
Nota – Não me meto com a
nova metodologia de programas de hoje. Se antes a preocupação eram atividades
mateiras hoje não. Bom isso. Os cursos hoje são mais objetivos. Temos cursos
para o Escotista, para o Dirigente Institucional, a nível Preliminar, Básico e
Avançado. São cursos bem diferentes, pois aprender nós, amarras e técnicas
escoteiras ficaram no passado. Não existe mais necessidade. Gostei de saber do
curso para chefes sobre o ECA, e o mais novo: Formando Staffs para o futuro!
Não é este o nome? Desculpe.
gostaria de ter o contato do Ivan. Estudamos juntos e tivemos uma boa amizade.
ResponderExcluirmeu email: carloshollanda@yahoo.com.br
ResponderExcluirUm texto maravilhoso retrata bem a diferença do escotismo de ontem e onde hoje sinto saudade de como era encarado o escotismo antigamente
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