Crônicas de um
Chefe Escoteiro.
O Caminho dos
desgastados e caducos Velhos Escoteiros.
Prólogo: - Hoje ao voltar da minha caminhada diária pensei em pausar um pouco das minhas lides de escritor, coisa que não sou e tento sem saber aonde chegar. Eis que me pus a pensar o que pensam de mim e o que penso do mundo escoteiro que vivo. Sentei na cadeira, liguei a telinha, metí os dedos no teclado e escrevi... Tantas bobagens que nem sei se valeu. Se eu fosse você passava longe... Ler é perder tempo! Afinal sou ou não sou um Velho Escoteiro senil, arcaico e borocoxô? Risos.
Não sou mais o "Velho" leitor e estudioso
do escotismo moderno. Vivo preso no passado e as amarras do tempo não me deixam
sair. Ainda tento ler quando possível às novas mudanças escoteiras, mas sinto
dificuldades em interpretá-las. Meus olhos e minha mente estão cansados. São
tantas resoluções normas, artigos que fazem da minha cabeça um redemoinho. Sei
que sem entender bem os novos ventos escoteiros não posso discutir os velhos
ventos que já se perderam no tempo. Antes achava tudo muito simples. Três ou
quatro e o feijão com arroz ficava pronto. Hoje não.
Outro dia recebi um email de um jovem Chefe. Dizia –
Leio seus escritos. Alguns bons outros não. Se não vai até um grupo trabalhar,
melhor não ficar dando opinião. Eu estou em uma tropa. Amo o escotismo. Porque
não faz como eu? O passado Osvaldo ficou para trás. Agora temos outro
escotismo. Mais moderno mais atual. Chamava-me de Osvaldo. Não chefe Osvaldo ou
escoteiro Osvaldo. Até aí tudo bem. Fiz um exame de consciência. Tentei me
colocar com a idade que tenho como um novo voluntário em um Grupo Escoteiro.
Sabem? Eu teria que aprender a “navegar” no PAXTU, aceitar exigências para
minhas andanças quando de uniforme. Tudo muito complicado. Fazer continência
para chefões seria o fim da picada. Fiquei pensando se deveria tentar, mas nos
conformes vi que não iria me enquadrar em nada. Mas suponhamos que fosse
aceito. Teria um “assessor pessoal”, (Deus do céu!) ele iria dizer o que
deveria fazer e agir. Afinal não é assim que funciona?
Passado alguns meses, vi em sonhos o assessor
pessoal dizendo ao seu superior o seguinte – Olhe chefe, acho que o
"Velho" não serve. Não me ouve e sempre discute comigo o que tento
passar para ele. Veja, ele no primeiro dia já criticou a forma como fazemos o
cerimonial. Disse que devíamos ter uma patrulha de serviço ou matilha. Pode
isso? Deixar para os meninos tamanha responsabilidade? O pior, nas reuniões
fica dizendo aos chefes que não devem ficar dando palestras, por mais de 10 minutos,
e procurar um local adequado com sombra. E enche a paciência comentando que
devemos trabalhar com os monitores e eles com seus patrulheiros. E completou. Falar
demais a todos depois de 10 minutos ninguém está mais prestando atenção!
E sabe o que mais? No acampamento criticou o tempo
todo porque levamos os lobinhos, escoteiros, seniores todo mundo junto e
fazíamos jogos e atividades escoteiras e devíamos fazer em separado. E olhe,
falou um monte dos pais estarem lá e fazerem as refeições para todos. – “Usem
as patrulhas, elas devem ser autônomas”. Uma piada chefe. O cara não dá é
“carne de pescoço” vive cobrando que devemos fazer pelo menos uma reunião de
chefes por mês. Reclama de tudo. Acha que somos ásperos e sorrimos poucos para
a garotada. E ainda quer que nos transformemos em anjos. Detesta uma piadinha
do “Bocage” e reclama dos meninos e meninas dizerem de vez em quando uns
palavrões! E a Lei escoteira? Como é chato. Só reclama.
Cobra da gente tudo. Boa ação, treinamento dos
monitores, um pouco de autonomia as matilhas, mais atividades no Waingunga e
menos papeis coloridos. Disse-me na cara de pau que a alcateia esqueceu da
Jângal, do Mowgly, da Kaa e da Bagheera e do Balu. Existe que recebamos os
jovens com cavalheirismo e fraternidade. Reclama por que nos os chefes
arrumamos a sede e não os escoteiros. Fala com nosso Diretor Técnico como se
ele fosse seu professor. Vive enchendo a paciência que não somos democráticos.
Não ouvimos o que os meninos têm a dizer. Outro dia fizemos a promessa de seis
de uma vez. Foi uma festa. Sei que nosso grupo é bom. Padrão Ouro. Sei que
muitos estão saindo, mas eu disse a ele que nem todo mundo nasceu para ser
escoteiro. Se quiserem ir embora xau!
Reclama sempre porque o distrito faz muitas
atividades. Reclama mais ainda porque nós os chefes sempre vamos a Jamborees,
Grande atividades escoteiras e os meninos não vão e ainda pagamos para
trabalhar como Staff. Pode? Afinal somos adultos. Podemos pagar. Para isso
trabalhamos. Quando eles crescerem poderão fazer o mesmo não acha? Olhe se
fosse enumerar tudo o mandaria para a “Tonga da milonga do cabuletê”. O cara é
carne de pescoço mesmo! E olhe, fique lá conosco uma reunião e você vai ver o
"Velho". Só “enchendo o saco”!
- É... Tenho que aceitar. O melhor é ficar na minha.
São tantas atribulações e exigências que não iria ser aceito mesmo. E se me aceitassem
o que diria o distrital? O Regional? Nem pensar na Nacional que fez uma norma
para a entrada de Velhos Escoteiros e Antigos Escoteiros. Escreveram para tomar
cuidado. Estes tipos se acham os melhores e podem atrapalhar o bom escotismo
que estão fazendo. Eu sei que sou um "Velho chato” e não vou parar. Podem
me chamar do que quiserem. Minhas idéias do que aprendi eu irei insistir até o
fim da minha vida. Não sou perfeito eu sei, mas queira ou não é a única coisa
que posso fazer. Lutar pelos meus ideais!
E por fim admito que sou um velho senil antigo e borocoxô. Vocês
conhecem Velhos Escoteiros decrépitos e caducos? Ele é aquele que já viu de
tudo, sabe de tudo, comeu de tudo, e se gaba de ter trabalhado e deu duro na vida.
Foi sapateiro, fazendeiro, vaqueiro, técnico de alto forno, programador, gerente,
lenhador, pescador, corneteiro soldado e metido a Escoteiro. Diz que em sua época
serviu o exército e fez maravilhas que nem o Indiana Jones faria.
Os peixes que ele pescava mal cabiam no mar. Adora falar sobre escotismo e sempre
te dá conselhos... QUE VOCÊ NÃO DEVE SEGUIR! A esposa dele não é chata, é uma
velhinha carinhosa e cansada, sentada numa cadeira, fazendo tricô, que só quer
te oferecer pão de queijo bolinhos, biscoitos e cafezinho. Se a velhinha ficar viúva,
aí lascou tudo... Ela é boazinha, mas quando fala não para mais. Se receber uma
visita faz questão de te tratar como um príncipe, mas você não gosta de
velhinhas e tá morrendo de pressa! Só passou na casa dela pra fazer dizer que
foi conhecer o seu velho escoteiro. Pois é, a principal função dos velhinhos
chatos é tomar o seu tempo e gastar os seus ouvidos!
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