Conversa ao
pé do fogo.
A origem das
Contas de Madeira.
- A
mística escoteira encanta. A procura por aprender e conhecer a origem e o
significado atrai muitos que adentram ao Escotismo. Baden-Powell é considerado
por muitos um iluminado por criar um movimento único que atrai pela sua mística
e beleza. Dizia ele: - “Todos os
projetos devem responder às aspirações daqueles que os vão viver; devem partir
dos seus desejos e sonhos”. Os sonhos materializam-se num imaginário com
personagens e símbolos. O imaginário existe em todas as idades, apenas se torna
menos explícito com o crescimento e vai-se transformando em situações reais. ”(Livro
a Caminho do Triunfo”).
- Conta-se que na manhã de oito
de setembro de 1919, dezenove homens vestidos de calças curtas e meias até o
joelho, mangas de camisas arregaçadas, formadas por patrulhas iniciavam um
curso de Chefes de Escoteiros. Um novo adestramento realizado em Gilwell Park,
em Eping Forest, nos arredores de Londres, Inglaterra. O campo foi projetado e
orientado por Baden Powell, um general de 61 anos reformado do Exercito
Britânico e fundador do Movimento Mundial dos Escoteiros. Quando terminou seu
adestramento em conjunto, Baden Powell deu a cada homem um cordão de madeira
simples, como se fosse um colar que ele havia encontrado em uma cabana
abandonada de um Chefe Zulu. Isto aconteceu quando estava em campanha na África
do Sul em 1888. Para os primeiros deste curso, foi um grande sucesso e se
tornou tradição por muitos e muitos anos. As perolas de madeira eram
reconhecidas para os que tiveram a oportunidade de passar por aquele
adestramento.
-
Muitas são as versões sobre este simbolismo conhecido em todo o planeta que
pratica o escotismo. Aqui algumas de suas histórias. A origem das pequenas
contas de madeira está envolta num misto de história e lenda, romantizada por
estórias passadas de década para década. Embora haja dúvidas quanto à
veracidade de alguns acontecimentos frequentemente relatados, o certo é que
estas contas não são umas contas quaisquer.
Isiqu, a “medalha” dos Zulus.
Os relatos mais antigos remontam
ao tempo de Shaka kaSenzangakhona (1787-1828), o famoso rei que transformou
várias tribos dispersas da África do Sul na imponente nação Zulu. As suas táticas
militares inovadoras e a alteração que fez no armamento dos seus guerreiros,
permitiram-lhe criar um exército impressionante, organizado, disciplinado e
eficiente. Os mais bravos, tendo protagonizado feitos em batalha merecedores de
destaque, eram “condecorados” pelo rei Shaka, em cerimónias públicas, com
colares feitos de contas de madeira - os “isiqu”. A madeira destas contas,
amarelada, provinha de um salgueiro selvagem (Salix mucronata), a que os
indígenas chamavam “um-Nyezane”, considerada “real” e para uso exclusivo do rei
Zulu. Após a morte de Shaka, a tradição ter-se-á mantido.
Alguns historiadores sugerem que
as contas seriam confeccionadas pelos próprios guerreiros distinguidos,
originando colares “isiqu” de aspecto diferente, mas com um traço comum:
encaixadas umas nas outras, perpendicularmente. Os colares de contas são muito
utilizados na cultura Zulu, ainda hoje, sendo usados materiais naturais tais
como madeira, sementes, marfim ou osso. Em 1999, foi construído um monumento em
bronze, em Isandlwana, na África do Sul, em memória dos Zulus que tombaram
naquela sangrenta batalha de 1879 contra o exército britânico. A estátua
representa, precisamente, um “isiqu”.
Dinizulu.
Dinizulu kaCetshwayo (1868-1913)
era sobrinho-neto de Shaka e filho de Cetshwayo (o último rei Zulu reconhecido
pelos britânicos). Depois da Guerra Anglo-Zulu de 1878-79, os britânicos
acabaram com o reino Zulu e dividiram a Zululândia em 13 distritos, cabendo um
destes a Dinizulu, herdeiro do trono, que não tardou começar a “conquistar”
pela força das armas outros distritos, pretendendo assumir-se como rei dos
Zulus. Desavenças com mercenários Bóeres que ele próprio contratou e com os
britânicos a quem, entretanto, pediu ajuda, levaram a que fosse procurado por
tropas britânicas enviadas pelo Governador da Província do Natal, em 1888.
Baden-Powell foi escolhido para oficial do estado-maior das tropas comandadas
pelo Major McKean, que perseguiriam Dinizulu.
A lenda
do colar de Dinizulu
Diz a “lenda”, entre os escoteiros,
que foi o próprio Dinizulu quem ofereceu o colar a BP. Esta versão foi passada
pela associação escotista inglesa, a partir da década de 50, devido ao embaraço
causado pela versão anterior, segundo a qual B-P ter-se-ia apoderado do colar,
abandonado por Dinizulu numa cabana especialmente preparada para ele. Quando
B-P chegou a uma zona de penhascos, bastante arborizada e com cavernas, chamada
“Ceza Bush”, identificada como baluarte de Dinizulu e dos seus homens, já estes
tinham escapado para a República do Transvaal. Os britânicos só encontraram
cavernas abandonadas e cabanas queimadas, numa das quais B-P terá - segundo
contou ele próprio em 1925 - encontrado o colar “isiqu” de onde provieram as
primeiras contas da Insígnia de Madeira. Dinizulu entregou-se três meses mais
tarde ao Governador do Natal, em casa da família Colenso, que apoiava a causa
Zulu.
No seu livro “Lessons from the
Varsity of Life” (1933, capítulo V - Zululândia), BP. Relata o incidente em “Ceza
Bush”, mas não faz qualquer referência ao colar “isiqu”. Curiosamente, nesse
mesmo texto, conta como se apoderou de um colar de contas de uma moça Zulu que
foi atingida por uma bala perdida e faleceu durante a noite, mesmo ao lado de
B-P. Nos diários onde Baden-Powell descrevia detalhadamente todos os pormenores
da sua vida, também não foi feita nenhuma referência ao colar.
Certo é que B-P nunca conheceu
Dinizulu. Se o colar “isiqu” que B-P levou para Inglaterra era em Formato das contas; As contas que
hoje ostentamos nos nossos colares da Insígnia de Madeira, são um pouco
diferentes das primeiras. Estas tinham um formado mais delgado na zona onde
passa o fio de couro, para o encaixe entre elas. A “falha” nas extremidades é
natural. Ao fazer os cortes em “V” nas extremidades, que seriam queimados, o
interior do cerne da madeira de salgueiro desfazia-se, dando origem às pequenas
“falhas”, características, também em “V”. Algumas das contas que são produzidas
hoje em dia, não trazem estas pequenas “falhas”, sendo os cortes apenas
pintados, e não queimados, exceto na zona da “falha”, que fica da cor da
madeira.
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