Histórias e místicas
das Contas de Madeira.
Nota – Publiquei ontem
um artigo sobre essa mística tão desejada por muitos dos Chefes Escoteiros do
Mundo. Com esse artigo encerro o tema. Sempre Alerta.
- A Insígnia de Madeira
e suas contas são importantes na mística escoteira. Receber as contas da IM e
sua sequencia como dirigente de cursos faz parte do desejo de muitos chefes em
todo o mundo. É considerado uma honraria ter as três contas para ser um DCB (Diretor
de Curso Básico) e quatro contas para ser um DCIM (Diretor de curso da Insígnia
de Madeira). Tais honrarias se originam de Gilwell Park. Muitos sonham em
chegar lá. Acreditam que podem ajudar na formação de chefes e aqueles que
conseguem o Titulo máximo se sentem honrados com tal distinção. No passado os
DCC (deputado Chefe de Campo) e AKL (Akela Líder) eram considerados os mestres
escoteiros e muitos chamados de Velho Lobo, uma terminologia oferecida aos
grandes navegadores e homens do mar, tal qual o Lobo do Mar. O Almirante
Benjamim Sodré foi um dos precursores a receber este título. Tenho um artigo
sobre ele já publicado.
- Com a implantação em
Gilwell Park de cursos escoteiros, foram adicionadas contas para designar o
grau de formação do Chefe portador da Insígnia. Interessante notar que as
contas originais não eram simétricas, variando de tamanho e espessura, o que é
natural vez que o Colar de Dinizulu (o IziQu) foi feito a mão. Nota-se que as
contas que serviram de base para a produção das réplicas eram menores do que
aquelas utilizadas atualmente. De todo modo a Insígnia de Madeira padrão possui
duas contas. À medida que o Chefe se forma nos cursos padronizados pode ser escolhido
para participar como membro da Equipe de Formação. Três contas como DCB e
conforme seu desenvolvimento e necessidade pode ser escolhido como DCIM
recebendo a quarta conta.
- Conta-se que só
existem duas Insígnias de seis contas. A primeira usada pelo próprio
Baden-Powell. Além dele foi seu amigo próximo desde o tempo do Acampamento de
Brownsea Sir Percy Everett que recebeu a honraria pelo próprio B-P como um
presente de reconhecimento pelos bons serviços prestados à causa. A Insígnia de Madeira com seis contas de Sir Percy
Everett, foi doada ao Movimento Escoteiro para ser usada pelo Escotista que
exercesse o cargo de Diretor de Campo de Gilwell Park. Existe uma dúvida que
muitos perguntam. - Se temos uma Insígnia de três quatro e seis contas não
deveria haver uma de cinco contas? Ela existiu sim, era dada exclusivamente
para os chefes Escoteiros especialmente designados para levarem o Curso da
Insígnia de Madeira para seu respectivo país. Recebia o título de “Deputy Chief
of Gilwell Park” sendo considerado um representante de Gilwell naquele país.
Segundo Peter Ford, do Departamento de Arquivos de Gilwell Park, não existe um
registro fidedigno de quais chefes tiveram o direito de usar a IM com seis
contas.
- Francis
Gidney o primeiro Chefe de Campo de Gilwell Park de 1919 a 1923 e diretor do
primeiro curso da Insígnia de Madeira em setembro de 1919 não deixou nenhuma
anotação dos seus cursos. Durante a gestão de Francis Gidney fizeram o curso em
Gilwell os seguintes escotistas de destaque: o Padre Jacques Sevin, fundador da
Scouts de France (percursora da atual Scouts et Guides de France), e que
dirigiu o primeiro Curso de Insígnia de Madeira da França, em 1923, em
Chamarande nas proximidades de Paris; o chefe C. Miegl, que dirigiu o primeiro
Curso de Insígnia de Madeira da Áustria, entre 8 e 17 de setembro de 1922; e
por fim, o chefe Jan Schaap que dirigiu o primeiro Curso de Insígnia de Madeira
da Holanda, em julho de 1923. Apesar do
pioneirismo de cada um, conforme dito anteriormente, não há registro de que
eles tenham recebido o título de Deputy Camp Chief, nem que tenham usado a
Insígnia de Madeira com cinco contas. Talvez o caso mais famoso envolvendo a
Insígnia de Madeira com cinco contas seja o de William “Green Bar Bill”
Hillcourt, da Boy Scout of America (BSA). O que ocorreu foi que demorou muito
tempo para que o Curso de Insígnia de Madeira fosse adotado pela BSA.
- As
primeiras tentativas, tanto por Francis Gidney quanto por John Skinner Wilson,
de implantar o curso nos Estados Unidos, não lograram êxito como nos demais
países. O próprio William Hillcourt só recebeu a sua Insígnia de Madeira quando
fez o curso em 1936, dirigido por John Skinner Wilson no Schiff Scout
Reservation, em Nova Jersey, USA. Nessa época a Insígnia de Madeira com cinco contas
já não era mais utilizada, e o cargo de Deputy Camp Chief (D.C.C.) já havia
sido extinto. Após isso, demorou mais de uma década para que ocorresse, o
primeiro Curso de Insígnia de Madeira da BSA. Isso não só por conta da eclosão
da Segunda Guerra Mundial, mas principalmente devido a dificuldades de
adaptação. Por fim, o curso acabou acontecendo em 1948, quase 30 anos depois
dos primeiros cursos de Gilwell Park. Todavia, apesar do uso da Insígnia de
Madeira com cinco contas ter terminado quase vinte anos antes, William
Hillcourt, sempre alegou que deveria tê-la recebido, por ter sido o diretor
desse primeiro curso promovido pela BSA.
- Importante
lembrar além das contas do Anel de Gilwell. Pergunta-se muito quem foi o autor
deste Anel. Dizem que foi Bill Shankley, que com 18 anos era um dos dois
funcionários permanentes de Gilwell Park. Utilizou o nó “cabeça de turco” da
época que os marinheiros faziam formas decorativas com cordas como hobby.
Empregou originalmente uma correia de couro de máquina de costura. Apresentou
sua ideia ao Chefe de Campo que a aprovou. Isto tudo no início da década de
1920.
Não podemos deixar de
ressaltar também o pioneirismo dos Chefes George Edward Fox, que era inglês, e
que foi o primeiro portador da Insígnia de Madeira a atuar no país (ele fez o
curso em Gilwell Park e recebeu a Insígnia entre 1921 e 1924), e do Chefe David
Mesquita de Barros, que era português, e que fez o curso de Insígnia de Madeira
em 1929, em Capý na França. Atualmente
há uma orientação de que o uso de mais de duas contas na Insígnia de Madeira
deve estar vinculado à realização do curso correspondente naquele ano, e assim
mesmo, apenas pelo chefe diretor desse curso. Por outro lado, existe ainda uma
forte tendência em Gilwell Park no sentido de se utilizar a Insígnia de Madeira
com apenas duas contas, inclusive para os chefes que venham a dirigir algum
curso de formação.
Apesar disso é
sempre bom recordar o ensinamento de Baden-Powell no sentido de que a Insígnia
de Madeira é o grau de formação mínimo para que um chefe escoteiro possa
exercer um trabalho de qualidade à frente de uma tropa escoteira. Mas muito
mais importante do que o objeto em si, que é apenas um símbolo, é o que ele
representa, ou seja, a qualidade da formação do seu portador, bem como a busca
constante pelo aprimoramento por parte do Escotista. No escotismo as tradições e místicas são pródigas em tudo que temos e
fazemos para desenvolver o escotismo junto aos jovens. Perder tudo isto sem
informar a todos os novos chefes que chegaram ou estão chegando seria um
desserviço prestado a memoria escoteira.
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