Conversa ao pé do fogo.
Zé das Quantas um herói escoteiro.
Era uma vez... - Zé das Quantas é um
Chefe escoteiro. Daqueles que lutam de sol a sol para ganhar uns trocados para sustentar
sua família e os escoteiros. Zé das Quantas é o Chefe do Escoteirinho de Brejo
Seco. A sua maneira ambos são felizes. Para mim eles representam o verdadeiro
espírito escoteiro de Baden-Powell. Como dizia John Thurman antigo
Chefe de campo de Gilwell Park, o Escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres
e, se economicamente os rapazes melhoraram desde então, por outro lado moral e
espiritualmente existem rapazes tão pobres como naquela época, que necessitam
do Escotismo.
O escotismo difere de tudo que se conhece
em termos de estrutura, normas e regulamentos de outras organizações ou
associações. Infelizmente nossa estrutura e a burocracia são grandes demais.
São normas, estatutos, POR determinações e etecetera e coisa e tal. Como ele
tem uma filosofia jeitosa, catita e formosa atrai um séquito de admiradores que
tudo fazem para servir a associação. Não existe discordâncias e as poucas que
existem são logo cortadas pela raiz. Nossa liderança hierárquica desde o topo
até o mais novo lobo aprende desde cedo que servir faz parte do crescimento
individual. Belo isso e não se pode negar. Elogios aos chefes quase não existem
e quando é feito só através de uma burocracia cheia de exigências onde
precisa-se provar que tudo dito é verdade.
Sei que quando tudo vai
mal dizem que a culpa é dos chefes. Todos sabem que são eles os heróis que a
muito custo mantem sua sessão e seu Grupo Escoteiro. São eles que põe os jovens
na trilha com suas bandeiras cantando pelos quatro cantos do pais. Seria
possível ter escotismo sem os chefes? Os arautos e distintos dirigentes dirão
que não. Mas se perguntar ao Zé das Quantas ele dirá sem sobra de duvida que
sim.
Nada se compara a
Inglaterra pós-vitoriana de 1908 quando BP sentiu a necessidade de buscar ajuda
para que os jovens não se perdessem nas práticas copiadas do “Scout for Boys”.
Pergunte ao Zé das Quantas, ele dirá que nem sabe o que é isso. Ele ainda faz
escotismo do cipó, da carretinha, do arroz com macarrão levado na mochila, do
pé na estrada em busca de um lugar para acampar. Os Escoteirinhos de Brejo Seco
adoram. Zé sabe que sua vida é dura, tira seus sustento do seu trabalho e sem
ele não teria arroz com feijão. Adora falar aos seus escoteiros sobre a Lei
sobre a lealdade, sobre a honra e o caráter. Zé dá belos sorrisos quando as
tardes em sua casinha de taipa a escoteirada chega para contar “causos” falar
de jogos, de aventuras de andanças por estradas e trilhas desconhecidas. O
Escoteirinho de Brejo Seco é o primeiro a chegar. Ele já viu chefes capitalistas,
endinheirado e nunca se sentiu preterido. Nunca foi a uma atividade regional ou
nacional. Só conhece Brejo Seco e ama seus escoteirinhos.
O Chefe Zé das Quantas acredita em
anjos. É um rezador sempre pedindo ao senhor em primeiro lugar pela sua família
e em segundo para seus meninos. Mas no fundo ele sabe que este anjo não vai
aparecer. Ele sabe que tem de trabalhar sozinho. Seus meninos e meninas mesmo
poucos e pobres precisam dele. Ele sabe que os pais tão pobres como ele pouco
poderão fazer. Dificilmente abandonará tudo. Nunca poderá dizer: - Melhor
fechar o Grupo Escoteiro. A luta é difícil. Às vezes entristece por falta de um
certificado, um distintivo, um registro, mas está sempre alegre quando aos sábados
muitos estão a sua espera faça sol ou não. Zé das Quantas é um daqueles heróis
escoteiros desconhecidos que sabe que o vento nem sempre sopra a favor. Ele ama
o que faz. Nunca critica seus superiores. Sempre com um sorriso quando fica
sabendo das reuniões, Indabas, Jamborees e assembleias. Ele sabe que
dificilmente estará presente. Para isso precisa ter muitos tostões coisa que
ele não tem. Não tem ideia de como “tirar” uma Insígnia de Madeira e nem tem
ideia de Gilwell Park. Sabe que nunca será registrado, nem vai receber medalhas
e certificados. Mesmo a oferta dos dirigente em não cobrar a burocracia para
ele é enorme. Tentou uma vez fazer um curso. A taxa salgada. A meninada
trabalhou duro, fizeram uma vaquinha, mas na última hora desistiu. "Mainha"
sua esposa encantada adoeceu. Quem sabe um dia? Suspirou sem se sentir culpado.
Zé das Quantas sabia
dos sonhos do Escoteirinho de Brejo Seco. Queria ir num Jamboree, qualquer um –
Chefe vai ser bom demais. Dizer o que para o Escoteirinho? Olhou para seu
uniforme, já desbotado, doado por alguém que cresceu e saiu. Cara mirrada,
escola idolatrada, dizendo sempre que vai ser doutor. Zé das quantas nunca se
importou com elogios, condecorações, pois na sua mente seus únicos sonhos era
vivenciar com amor a sua família e seus escoteiros. Nunca sonhou em ter uma
medalha de Bons Serviços, Gratidão e sorri humilde quando ouve falar do tal
Tapir de Prata. Dizem que é só para quem prestou enormes serviços ao escotismo.
Afinal ele trabalhando com suas patrulhas nem desconfia do enorme serviço que
presta ao seu país. Zé das Quantas tinha medo que se um dia fosse morar na casa
do Senhor não haveria substituto. Nas reuniões, nas estradas, nas trilhas ou em
marcha sempre conversava com seus escoteirinhos sobre isso. Dizia que onde tem
um escoteiro tem uma tropa, onde tem bons monitores tem uma penca de chefes.
Caminhem com suas próprias pernas! Repetia o bordão de Caio Vianna Martins o herói
da tropa. Um dia fez um pé de meia e partiu para um curso escoteiro. Engraxou
seu sapato da missa, mandou colocar uma meia sola. Ajeitou sua meia puída,
meteu no seu chapéu um pouco de goma e lá foi ele no trem das onze da noite
para a capital.
Chegou humilde,
dizendo “tarde” “Alerta” e só uns poucos responderam. Adorou o curso, aprendeu
sobre um tal de POR de Estatutos, aprendeu sobre a tal ECA (lembrou-se das
risadas de seus escoteirinhos quando contou) viu que havia lei e norma para
tudo inclusive para criança. Interessante que não comentaram sobre patrulhas,
Monitor, Pioneiría, campo de Patrulha nós amarras e tantos mais que ele queria
saber. Até pensou que um dia iria receber a visita do Doutor Presidente. Nunca
apareceu. Até hoje aos sábados e domingos, Brejo Seco vibra com a passagem dos
seus escoteirinhos, marchando animados, com suas mochilas feitas de pedaços de
lona que ganharam de Seu Postácio dono do Chevrolet Boca de Sapo 1950 que fazia
transporte mesmo fiado para qualquer morador. A verdade é que assim vivem
muitos escoteiros em muitas cidades deste enorme país. Sem registro, sem sede,
poucos badulaques na sua intendência, mas sempre com sua bandeira puída
hasteada ou arvorada, com um belo sorriso e aprendendo com seu Chefe a arte de
ser um homem honesto cumpridor da Promessa e da Lei Escoteira.
Se você meu amigo é um Zé
das Quantas como o Chefe dos Escoteirinhos de Brejo Seco, aceite meu abraço.
Meu orgulho em ver quem faz escotismo independente de ter lideres que não
valorizam quem faz o melhor escotismo no Brasil!
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