Conversa ao
pé do fogo.
O Chifre de
Kudu.
... - Nos
anos 1890, Baden-Powell lutou na Campanha Matabele onde agora
está o Zimbabwe. Os guerreiros Matabele tinham um método único de sinalização
militar, usando uma nota profunda de um chifre de Kudu para enviar sinais
codificados através de longas distâncias. Após a campanha, B-P levou um desses
chifres para casa como um troféu - o chifre tinha pertencido ao oficial
Matabele Siginyamatshe.
De volta a minha rotina
do “Fique em casa” cá estou eu a rebuscar temas que poderiam interessar aos
meus amigos Escoteiros. Às vezes acerto às vezes nem dão bola para o tema do
dia. Meu escolhido de hoje é o “Chifre de Kudu”, muito conhecido nas hostes
escoteiras e bastante comentado anteriormente em algumas páginas das redes
sociais. O Chifre de Kudu tem sido usado em cursos avançados (hoje dizem que
não mais) e como tradições em muitas tropas escoteiras em todo o mundo. No
Brasil é adotado por poucas tropas. Por ser um toque simples e ouvido a
distancia substitui o apito cuja estridência muitas vezes prejudica os tímpanos
de quem houve. Essa é sua história. Os que ainda não conhecem leiam e se divirtam.
- O Kudu (Tregelaphus strepsiceros) é uma espécie de antílope cujo habitat
vai desde a África do Sul á Etiópia. Um touro Kudu pode chegar a uma altura de
1,5 metros e tem uma coloração que vai de um cinzento avermelhado até quase
azul. As suas características de visão aguçada, bom sentido de audição, olfato
apurado e grande velocidade fazem dele um animal difícil de capturar. Seguindo
uma tradição que remonta há mais de 90 anos, as patrulhas são chamadas a reunir
com o toque tradicional do chifre de Kudu, durante os cursos da Insígnia de
Madeira. Pode parecer estranho que o chifre de um antílope africano, do tipo
usado pelos Matabeles como clarim de guerra no século XIX, seja usado para
chamar Escoteiros e Chefes por esse mundo a fora. Mas foi precisamente com um
toque deste chifre que os primeiros Escoteiros foram acordados.
Quando reuniu os primeiros escoteiros
em Brownsea, Baden-Powell lembrou-se do chifre de Kudu que tinha trazido das
guerras contra os Matabeles, e usou-o para dar um toque de aventura e
divertimento ao acampamento. De fato, foi durante o acampamento experimental de
Brownsea, em Poole Harbour, no verão de 1907, que Baden-Powell colocou ao
serviço do Escotismo, e pela primeira vez, o chifre de Kudu. William Hillcourt,
um dos grandes pioneiros do Escotismo, o mesmo que escreveu o resumo da
história de BP no final do «Escotismo
para Rapazes», descreve assim a primeira alvorada em Brownsea:
"O dia começou ás 6h da
manhã, quando BP acordou o acampamento com o som esquisito do longo chifre de Kudu
em espiral - o clarim de guerra que tinha trazido da sua expedição à floresta
de Somabula durante a Campanha Matabele de 1896".
John Thurman, grande nome do Escotismo
britânico, conta como BP conheceu o chifre de Kudu: "Como coronel na África, em 1896,
Baden-Powell comandou uma coluna militar na Campanha Matabele. Foi num raid
pelo rio Shangani abaixo que ele primeiro ouviu o som do chifre de Kudu. Ele
andava confundido pela rapidez com que os alarmes eram espalhados entre os
Matabeles, até que um dia se apercebeu que eles usavam o chifre de Kudu, o
qual tinha uma grande potência sonora. Era usado um código. Assim que o inimigo
era avistado, o alarme era tocado no Kudu, para todos os lados, e assim
transmitido por muitas milhas em pouco tempo.”.
Depois da ilha de Brownsea, o
chifre de Kudu voltou para a casa de BP onde permaneceu silenciosamente durante
12 anos, enquanto o movimento que ele anunciara se tornava moda e se espalhava
pelo mundo fora. Então, em 1919, Baden-Powell entregou o chifre ao Parque de
Gilwell para ser usado nos primeiros cursos para treino de Chefes. William
Hillcourt comenta assim o início do uso do chifre de Kudu no Parque de Gilwell,
na floresta de Epping, Inglaterra, a oito de Setembro de 1919:
"O primeiro acampamento para treino de chefes feito em Gilwell começou a
oito de Setembro. Seguiu o padrão que BP tinha usado com os rapazes em
Brownsea, 12 anos atrás. O sistema de patrulhas foi novamente posto á prova com
19 participantes divididos em patrulhas e vivendo uma vida em patrulha. A
instrução tomou a mesma forma que em Brownsea. Cada dia um assunto novo era
introduzido e aplicado em demonstrações, prática e jogos. O chifre de Kudu dos
Matabeles que tinha sido usado para chamar os rapazes em Brownsea foi usado
para todos os sinais."
Dez anos mais tarde, aos 72 anos
de idade, Baden-Powell levou consigo o chifre de Kudu para a abertura do 3º
Jamboree Mundial, em Arrowe Park, Birkenhead, Inglaterra, a 28 de Julho de
1929. Foi constatado, pela experiência de Arrowe Park, que fazer soar o chifre
de Kudu é um desafio. Os resultados, no entanto, foram tão impressionantes
quanto se poderia desejar, segundo as palavras de William Hillcourt:
O dia
da abertura do 3º Jamboree Mundial começou com uma forte chuvada que aumentou
com o passar do dia; mas, à hora prevista... o tempo tornou-se «ameno». BP tinha
trazido consigo para Arrowe Park o velho chifre de Kudu dos dias da guerra com
os Matabeles que tinha sido usado para acordar os acampados em Brownsea no
primeiro acampamento de escoteiros do mundo e para abrir o primeiro curso para
chefes no Parque de Gilwell. Levou-o aos lábios para dar um toque que haveria
de ecoar pela extensa parada em frente dele, mas, com o excitamento, os lábios
recusaram-se a fazer o que deviam. O som do chifre não passou de um fraco
«pff». No entanto, como que chamados para a ação pelo chifre, a marcha começou,
com os contingentes a desfilarem atrás de contingentes em frente da plateia,
com as bandeiras de quase todas as nações civilizadas desfraldadas ao vento,
com milhares de pessoas a aplaudirem cada nação entusiasticamente.”.
- Ah! Até hoje entrando nos meus
73 anos de escotismo, me surpreendo com Baden-Powell como conseguiu fazer um
movimento de jovens sem igual em todo o mundo. Cada lenda cada mito ou ideia
tem uma origem fundada na simbologia e mística que encanta aos escoteiros não
importando a idade até hoje. Ainda hoje o chifre é usado para reunir chefes em
cursos de formação em todo o mundo. Para todos os que seguem as pegadas do
fundador, é um viver do Escotismo no seu melhor. Fraternos abraços e não
esqueçam, ao acabar essa pandemia use o Chifre do Kudu, deixem o apito para os juízes
e crianças que gostam do barulho. Sempre Alerta!
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