Lendas Escoteiras.
Rataplã Chico Fumaça. Nós te amamos para sempre!
Ele
não entendia por que. Aonde ia estavam sempre gritando e dizendo – Chico
Fumaça, o bobão! – Ele ficava triste porque não tinha feito nada com ninguém.
Desde pequeno sempre fora assim. Ficou pouco tempo na escola. Seus colegas na
classe sempre jogando bolinhas de papel e dizendo – Chico Fumaça, o bobão! Fizera
no mês passado doze anos. Sua mãe e seu pai comemoraram com uma festa para ele.
Mas convidar quem? Sabiam que ninguém iria à festa do “bobão”. Chico Fumaça até
que não se incomodava. Como falava pouco e nunca gritava deixava que falassem.
Não ligava mais. Mal dizia algumas palavras a sua mãe e seu pai. Ele um
carroceiro que fazia mudanças e entregas, ela uma simples lavadeira que passava
os dias na beira do Rio Azulão com duas ou mais trouxas de roupa.
Chico Fumaça vivia mais em casa. Deixou a escola. Não dava para ficar
lá. Até a Diretora concordou. Não podia controlar os alunos. Do pouco que
aprendeu ele desenvolveu uma grande facilidade em escrever e ler. Ia ao Pingo
D’água, onde despejavam o lixo da cidade e lá encontra muitos livros. Já havia
feito uma coleção de mais de duzentos livros. Ele os limpava encadernava e
guardava em um pequeno guarda roupa que tinha. Quando não estava ajudando o pai
ou a mãe Chico Fumaça lia. Aprendeu a ler com rapidez e através das leituras
começou a compreender o mundo. Chico Fumaça sentia falta de amigos. Muito
mesmo. Um dia indo até a Quitanda do seu Afonso, uma molecada correu atrás dele
e gritando Chico Fumaça bobão. Agora chamavam ele também com nomes feios. Jogavam
pedras. Ele correu, mas eles não o deixavam em paz. Ao virar uma esquina deu de
cara com muitos escoteiros. Duas patrulhas. Escondeu-se atrás deles. Os meninos
calaram. Os escoteiros já sabiam quem ele era. Um deles, moreno forte, alto
quase da sua idade disse aos moleques que eles não deviam fazer aquilo. Era
errado. Ele era um só e eles muitos. Era covardia. Daquele dia em diante disse,
Chico Fumaça seria protegido dos escoteiros. Quem fizesse qualquer coisa com
ele teria de se haver como toda a tropa dos escoteiros. Foram embora e preocupados. Agora Chico Fumaça
era amigo dos escoteiros. Não ia ser fácil rir dele.
Convidaram Chico Fumaça para ir visitá-los.
Ele foi. Adorou tudo que viu, mas sabia que não dava para ficar com eles. Não
podia comprar e nem pagar nada. Fizeram um conselho de Patrulha e logo em
seguida os Monitores se reuniram em Corte de Honra. Chefe Marcondes presente.
Deliberaram que todos iriam ajudar. Chico Fumaça seria aceito. Sua mãe e seu
pai foram lá. Choraram de emoção pela bondade dos escoteiros. No primeiro dia
recebeu de graça uma camiseta vermelha com o símbolo de uma Águia no peito e
nome do grupo. Até você fazer sua promessa disseram. Em duas semanas ele foi a
uma excursão. Amou tudo que fez e viu. O incrível aconteceu. Ninguém conhecia e
nem tinha visto um Escoteiro como Chico Fumaça. Vários passarinhos fizeram
amizade com ele e ficavam em volta quando não pousavam em seu ombro. Ele ria e
cantava de alegria.
No dia de sua promessa, uniforme novo, chapelão ele estava orgulhoso. A
sede Escoteira ficou escura. O que seria aquilo? Então viram no céu uma nuvem
de pássaros de todas as cores, gorjeando e cantando canções desconhecidas. Um
bem-te-vi amarelo e um beija flor dourado ficaram em seu ombro durante a
promessa. Foi emocionante! No final quando o lhe entregaram o distintivo e o
lenço milhares de pombas, gaviões vermelhos, tucanos verdes e amarelos, além de
inúmeros pássaros pretos fizeram voos rasantes na sede. A cidade viu aquela
revoada de pardais indo para a sede dos escoteiros e muitos foram lá para ver. Ninguém
sabia explicar o que significava. Disseram que Chico Fumaça falava com eles.
Ele dizia que não. Era somente amigo.
O tempo passou. Chico Fumaça foi para os seniores. Foi ali que descobriu
que podia escrever contos, historias tudo porque participou pela primeira vez
em um concurso de Contos Escoteiros do distrito. Escreveu um conto lindo. “A
revoada dos pardais de Serra Dourada”. Seu conto fez sucesso. Dai para o
primeiro livro foi um pulo. “O besouro verde apaixonado”. Alguém se ofereceu
para publicar. Virou um Best-seller nacional. Traduzido em vários idiomas bateu
recordes e recordes de venda no mundo inteiro. Chico Fumaça se tornou um
escritor famoso. Nunca deixou o Grupo Escoteiro. Rico ajudava a todos que o
procuravam. Recebeu dos escoteiros a medalha de gratidão ouro. Foi eleito para
a Academia Brasileira de Letras. Ficou conhecido no mundo todo. Só se
apresentava de uniforme escoteiro. O prefeito da cidade em solenidade especial
na praça lhe deu a Ordem do Cruzeiro do Sul. Então o incrível aconteceu.
Ninguém até hoje soube explicar. Um mistério para os habitantes daquela
cidadezinha. Quando colocaram medalha em seu peito, Chico Fumaça chorando, todos
emocionados viram que a cidade ficou escura de uma hora para outra, no céu
milhares de pássaros escreveram:
RATAPLÃ CHICO FUMAÇA NÓS TE AMAMOS PARA SEMPRE!
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