Lendas
escoteiras.
Cascudo um
Escoteiro sonhador. (Repeteco)
O ônibus parou no ponto e desci. Meu
tempo era curto, portanto não podia ficar olhando aqui e ali. Estava na Av. São
João e mais dois quarteirões eu iria encontrar a Rua Santa Efigênia. Talvez
pela pressa eu dei um esbarrão forte em um transeunte e ele olhou-me
desaforado. Não queria briga e pedi desculpas. Ele que tinha caído no chão levantou
e me encarou. Poxa, pensei! Não vim aqui para isto. O desconhecido deu um belo
sorriso – Monitor! É você? – Olhei para ele. Não reconheci. Estava de terno, um
sujeito forte, cabelos negros bem penteados. O danado até que era simpático. –
Desculpe amigo, pelo jeito estivemos juntos no passado no escotismo. Ele deu
belas risadas chamando a atenção de outros que passavam. – Olhe bem Monitor!
Sou eu, Josiel de Arimatéia a que você e os outros da tropa chamavam de
Cascudo! Caramba, como ele mudou, agora eu me lembrava de nosso glorioso
passado. Ele se aproximou de mim bateu os calcanhares e gritou bem alto: –
“Sempre Alerta Monitor”! Quem passava sorria.
Nos abraços efusivamente – Vamos beber
alguma coisa. Eu pago ele disse. Na esquina bem proximo a Avenida Ipiranga
encontramos um barzinho aconchegante. Olhei para ele, se transformou em um
homenzarrão bem mais alto que eu. Ele ria de satisfação – Monitor! Como foi bom
encontrá-lo. Quanto tempo eim? – É meu amigo – falei. Muito tempo. Mais de quarenta
anos. E você me fale de você – eu disse. Monitor eu ralei muito neste mundo.
Você deve se lembrar do meu pai um pobretão. Coitado. Mas me formei e hoje sou
Promotor de Justiça. – Nossa! Pensei. – Que bom eu disse. Mas desistiu do
escotismo? Lembro que você era um entusiasta. – Olhe Monitor, acho que você
sabe, é muito difícil entrar e participar de um Grupo Escoteiro como o nosso no
passado. Enquanto estudava nem pensei em procurar um grupo depois quando me
formei achei que podia ajudar. Ele riu e continuou – Mas eles não querem
ninguém como eu. Preferem pessoas mais humildes que não discutem muito. –
Pensei comigo como as coisas mudaram.
- Mas Monitor não vamos falar sobre isto.
Porque não se lembrar daqueles tempos? – Porque não pensei. – Olá posso me
sentar com vocês? Olhei e vi um senhor de uns sessenta anos cabelos grisalhos,
óculos de grau bem grossos e uma bengala – Não estranhem meu pedido ele disse.
Também fui Escoteiro e sênior. Estive na luta pelas estradas da vida e só me
dei conta que era hora de parar a cinco anos passados. Cansei. Estava solteiro,
não tive ninguém ao meu lado. Tentei como você entrar em um grupo. Sempre amei
o movimento Escoteiro, foi ele quem me deu a força para enfrentar tudo que
enfrentei. – Ele já estava sentado. – Não parou por ai, outro sentado numa mesa
próxima sorria. Deu-nos o sinal de Sempre Alerta. – Posso participar com vocês?
Claro eu disse. Quatro antigos Escoteiros se encontrando por uma cisma do
destino. Cada um querendo lembrar e contar histórias do seu passado. Todos
dizendo que não se adaptaram ao escotismo de hoje. Tentaram mas viram que eram
um peixe fora d’água.
Mas bons Escoteiros não ficam
reclamando. Eles quando se encontram é para contar causos e causos. Lembrei-me
de um Chefe que me enviou um convite -
Chefe! Aguardamos sua visita. No meu grupo o senhor vai poder contar muitas “historinhas”. Ri a valer. Contar “historinhas”! Sei que quando começamos a contar nosso passado era onze da manhã. Agora passava das seis da tarde. Cada um telefonou para sua cara metade explicando. Não guardei o nome de todos e eu pouco falei. Quantas histórias foram contadas. As noites das cobras, o vale seco, o Calcanhar de Aquiles onde todos tinham medo de ir, o Delegado que prendeu uma patrulha inteira, quinze escoteiros correndo de seis emas selvagens, e assim foi até o cair da noite. Pensei comigo que não era só eu o contador de histórias. Todos aqueles antigos Escoteiros também tinham a sua.
Chefe! Aguardamos sua visita. No meu grupo o senhor vai poder contar muitas “historinhas”. Ri a valer. Contar “historinhas”! Sei que quando começamos a contar nosso passado era onze da manhã. Agora passava das seis da tarde. Cada um telefonou para sua cara metade explicando. Não guardei o nome de todos e eu pouco falei. Quantas histórias foram contadas. As noites das cobras, o vale seco, o Calcanhar de Aquiles onde todos tinham medo de ir, o Delegado que prendeu uma patrulha inteira, quinze escoteiros correndo de seis emas selvagens, e assim foi até o cair da noite. Pensei comigo que não era só eu o contador de histórias. Todos aqueles antigos Escoteiros também tinham a sua.
Se quatro antigos Escoteiros em um
pequeno bar tinham tantas coisas para contar quem diria se estivessem em uma
floresta, numa clareira qualquer, uma noite sem lua e o céu estrelado eles
contariam histórias a noite toda. Nos olhos de cada um eu via a chama da
esperança, a vontade de voltar no passado, às saudades que machucam, mas que
ajudam a viver. Ninguém comentou sobre suas dificuldades atuais, sua vida
familiar ou profissional. Ali os quatro saudosos só lembraram-se do passado.
Ah! Os poetas, sempre eles para nos dizerem tudo do passado, a dizer que saudade
é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que no machuca, é
não ver o futuro que nos convida... Aguinaldo Silva escreveu isto. Melhor é ler
Confúcio dizendo que a experiência é uma lanterna dependurada nas costas que
apenas ilumina o caminho já percorrido.
Cheguei e em casa quase meia noite. Pelo
meu sorriso a Célia sentiu que eu estava feliz. Contei para ela o encontro com
Josiel de Arimatéia, o Cascudo, um escoteiro da minha patrulha, contei do
Geraldo Nonato que nunca vi e que devia ter sido um grande escoteiro e do
Leandro Farias um Velho Escoteiro como eu. Ela me ouviu com um olhar gostoso e
um sorriso carinhoso. Existem muitas felicidades que não vemos. A maior delas é
estar ao lado de uma criatura maravilhosa que sempre me apoiou. Uma grande
companheira, a mulher que amo. Não esperem muitas aventuras neste conto
simples. Comecei do nada e termino com a história de um grande amor. Um não são
dois. O primeiro minha linda esposa querida e o segundo meu escotismo
maravilhoso. Ambos jamais esquecerei!
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