Fim do dia.
Somente lembranças...
Mais um dia. Assim eles
vão passando. Cada um uma experiência nova. Novos amigos, novos contatos e sabendo
que o mundo gira e a roda do tempo não parar de girar. Dizem que estamos sempre
aprendendo. Não importa se os anos estão passando, se eles são como as escunas
que navegaram os setes mares no passado e no presente. O presente hoje é
passado quando eu terminar de escrever.
Planos? Muitos. Escrever
o quanto puder. Meu legado? Não sei. Quem sabe minhas historias. O que fazer
com elas depois que eu me for? Será que poderiam servir no futuro aos novos
escoteiros e escoteiras que iram chegar? Não sei. Ficarei lá de cima na
espreita aonde elas foram parar.
O escotismo não para.
Cheguei à conclusão que muitos estão fazendo um bom escotismo. Gosto disto. Gostaria
de estar junto. Não vai dar. O corpo enxuto do Velho Chefe não é mais o mesmo.
Passos trôpegos, bengala fazendo tic.toc. Tenho muitos convites de Grupos
amigos. Até mesmo em estados distantes. Quem sabe um dia faço uma surpresa, chego
na hora da bandeira e grito alto Sempre Alerta! Preciso voar novamente e sentir
a alegria de uma Alcateia, de uma tropa, da meninada cantando e brincando sem
parar.
Ainda não vi o Jornal Nacional. Vou lá e aproveito para ver o Jornal das
10 da Globonews. Ainda sem sono. Conheci há muitos anos um Preto Velho que morava
nas barrancas do Rio das Velhas que não dormia. Quando ia a cidade passava pela
fazenda (eu era um administrador, espécie de gerente) e ficávamos horas com ele
contando causos para mim. Eu gostava de ouvir. Não sabia assinar o nome, mas
tinha tantas coisas a me ensinar. E como aprendi. Não acreditei quando me disse
que tinha mais de 110 anos. Afirmou-me que há mais de vinte anos não dormia. Perguntou-me
porque Deus lhe deu aquela missão. Não soube responder.
Quando chegava a hora de ir embora virava para mim e dizia; - “Sabe seu
Osvardo, quando eu morrer eu vou para o céu e lá quero dormir muito. Não sei se
os anjos vão deixar”. Uma tarde passei de barco em frente a sua casa de taipa e
o vi pescando. Ele tirou o chapéu de palha e fez uma reverencia. Sorri e gritei
uma boa tarde. Dei uma parada e lá veio ele me contar que deste a morte de Dona
Aninha morava sozinho. Nunca me falou de filhos e nem perguntei.
À noitinha daquele dia vieram me dizer que ele estava morto. Morrera
pela manhã, sorrindo e estava sendo velado na casa do Totonho Peixe Grande
(contava pataca que pescou o maior dourado do Rio das Velhas com quase oitenta
quilos. Putz! Dourado danado). Impossível eu disse, eu o vi na barranca da sua
casa hoje! Todos me olharam como eu fosse louco. Falar o que? Ah! Histórias que já se foram, histórias que
não existem mais. Valeu enquanto me foram dadas.
Nota - Vi uma estrela tão
alta, vi uma estrela tão fria! Vi uma estrela luzindo na minha vida vazia. Era
uma estrela tão alta! Era uma estrela tão fria! Era uma estrela sozinha luzindo
no fim do dia. Por que da sua distância para a minha companhia Não baixava
aquela estrela? Por que tão alta Luzia? E ouvi-a na sombra funda responder que
assim fazia Para dar uma esperança mais triste ao fim do meu dia. (Manuel Bandeira)
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