O COVID-19 vulgo Corona está no PAXTU
ou no POR?
Debrucei nos meus arquivos, que tem
mais de 38 artigos para publicar cujo tópico chamo amavelmente de “Crônicas de
um Velho Escoteiro”, evito colocar rabugento, ranzinza e ranheta. Tudo bem sou
um velho Escoteiro mesmo, daqueles lá das bandas das Gerais, dos anos quarenta
que nem lembro mais. Não sou tão antigo e nem me dou ao luxo de dizer que sou
um “Velho Lobo”. Esgaravatei página por pagina e vi que ali tinha um bom
manancial para postar e ver muitos curtindo alguns poucos compartilhando e
alguns gatos pingados comentando sobre o tempo e outros dizendo olá meu Chefe,
tudo bem? Mas será que isso não é bom demais? Afinal ainda os tenho e conservar
faz parte da minha formação do artigo da lei que amo: O Escoteiro é amigo de todos
e irmão dos demais escoteiros... Disso faço questão e não abro mão! Nem que a
Escoteiros do Brasil me peça para ir para aquele lugar, logo penso que é Shangri-lá,
pois toda vez que acampava nas Montanhas do Ibituruna, logo pensava na descrição
da cidade: Um lugar paradisíaco situado nas montanhas dos Himalaia, panoramas maravilhoso
onde o tempo parece deter-se em ambiente de paz, felicidade e fraternidade...
Mas eis que surpreendentemente, recebo
do meu amado filho Marcus, um áudio do doutor Fabio Jatene do Incor sobre o tal
Corona, que sei não está no Paxtu e nem no POR. Ouvi com atenção. Francamente
estou prá lá do Aiatolá e de tanta gente infectada. Os órgãos da imprensa não tem
outro assunto. Uma TV por assinatura chega ao ponto de dedicar duas horas
ouvindo os experts no assunto. Bem, educadamente para atender ao meu filho,
ouvi o áudio do começo ao fim. Quer saber? O melhor que ouvi até agora. Deverasmente
fiquei preocupado. Afinal chegando nos oitenta, velho rabugento, cara de
comadre que comeu tomate com limão, não posso facilitar. Tenho a tal de
diabete, da pressão alta e o melhor um Enfizema Pulmonar que me comeu metade do
pulmão, me deixou sem ar, fraco como diz a galinha d’angola – Tô fraco! Tô
fraco! Sou presa fácil para o tal Covid-19. Mas olhe, sou durão, mesmo com a
minha bengala percorro 800 metros todos os dias e ainda faço alguns exercícios
naqueles aparelhos de parques e etc;
E eis que tive uma ideia... Eureka!
Porque não imitar o Chefe Zezé, aquele que com seus oitenta e quatro anos
resolveu fazer o seu último acampamento? Ainda não leu? Um conto batuta se der
vou publicar hoje à noite. Ele se revoltou por não o deixarem viver seu sonho
de fazer o seu último acampamento, como sempre fazia a “lá Escoteira”, aquele
que anda só. De madrugada, mochila no costado, cantil faca e facão e sua
inseparável Silva para lhe mostrar o caminho, partiu sem ninguém ver e foi
acampar onde sempre sonhava em ir. No sopé da montanha do falcão, onde havia um
bosque com arvores de abacate, mangas e goiabas, Jatobás e Jenipapo e melhor, perto
de tantas nascentes, comida farta na floresta, peixes pulando no remanso do Rio
Pardo ele sabia que ali era sem éden, seu paraíso. Sabia que ali ele poderia
viver para sempre. Sua família prá lá de preocupada, procurou e só dois meses
depois o encontrou. Assustaram quando o viram sorridente, engordou corpo
curado, pulmão sorrindo, o ar dando gritos de prazer. O levaram de volta a
contragosto, jurou voltar, ali seria sua morada seu Paxtu seu ultimo lar aqui
na terra!
E então começo a fazer planos. Aonde
ir? Na mata do Tenente onde iniciei minha saga de Tarzan? No postado do Pico do
Ibituruna onde centenas de vezes escalei? Nas matas de Derribadinha, jangadeiro
a atravessar o Rio Doce para me encontrar com Guaraciaba, meu amigo cacique da
Tribo dos Botocudos que penso nem existir mais... Faço mil planos. Sei que se
encontrar uma floresta paradisíaca ficarei livre deste vírus infernal. Sei que
onde escolher não haverá animais infectados, nem mesmo os macacos-pregos-dourados
que dizem ser presa fácil da febre amarela que matou muita gente, mas que
ninguém tem medo como tem do tal Corona... Resolvo treinar... Me adestrar...
Ando devagar com minha amada bengala. Como fazer pioneiras com ela? Como entrar
no remanso para brincar com os peixinhos se meus ouvidos zumbem quando entra
água fria? Um casal de namorados passa por mim apressados. Não sei se estavam
fazendo o passo duplo ou o passo escoteiro. Penso calmamente se vou aguentar
esta nova aventura, bem maior que aquela feita a pé em Barra do Cuieté Velho,
onde mataram o padre assobiador.
Célia, minha amada esposa
desaconselhou. Marido vai ficar livre do tal Corona, vai respirar ar puro, irás
comer do bom e do melhor do que colher e pescar em qualquer Shangri-la que
encontrar... Mas e eu? Não estarei ao seu lado? Não posso deixar os filhos que estão
aqui, nem os netos, não posso ficar longe da Maria Eduarda nossa bisneta que me
encanta e a quem amo tanto! Célia tinha razão. Melhor é ficar longe de
aglomeração. Lavar as mãos oitenta vezes por dia (acho que elas irão
desaparecer no sabão) tossir na “cacunda” do cotovelo do braço. Mas sei que
isso é pouco, se alguém com o vírus escoteiro, opa! Vírus mortal me pegar, irei
sorrindo para meu outro lugar. Sei que lá um dia todos irão me encontrar.
Levarei saudades da minha amada, dos que tem o mesmo sangue que eu. Levarei
saudades da escoteirada, que por alguns dias irão lembrar do Velho Chefe Rabugento,
nas paginas do aqui agora e depois... Baú, baú!
Porque tudo isso? Porque um vírus
sarnento chegar de mansinho para levar a gente para o céu? Que seja o que Deus quiser.
Enquanto isso continuo a sonhar, como sonhou o Chefe Zezé. Na minha varanda
calado, medito por algum tempo. O que ele fez tento acreditar que foi verdadeira
felicidade. Trinta dias nas Serras do Cantagalo. Local maravilhoso, linda
aguada, um céu incrível e bom para contar estrelas... Lembro quando ele me
disse que montou um campo só dele, tinha tudo que eu podia imaginar... Sua
cabana de galhos, folhas e capim aguentou chuvas e vendavais. A fartura era
imensa, aipim, jabuticabas, bananas caturra, taioba, maracujá, mamões e frutas
silvestres. Chefe lembro que ele falou... Ali foi meu éden meu paraíso. Quero
rever o Caminheiro e a Midiata dois lobos amigos, quero rever os Quatis que me
acompanhavam aonde ia. Quero conversar com Morena a linda Coruja buraqueira que
nunca me deixou só...
Corona Vírus... Se todos pudessem
acampar a “Escoteira” como o Chefe Zezé, ele já
teria sido extinto. Como daria minha vida para voltar no tempo, nas
matas do Tenente, nos campos dourados de Derribadinha, no Pico do Ibituruna ou
na Serra do Cipó. Poderia mesmo me esconder como aquela vez que me perdi em
Lagoa Santa, nas grutas da Lapinha e Sumidouro. Lá só encontrei encantos,
graciosidade, ar puro e estrelas a granel. Mas gente escoteira, não dá, tenho
que enfrentar a realidade, farei tudo para evitar esta moléstia que assola o
meu Brasil. Mas se ela me encontrar, vou usar o meu bastão de duas e meia
polegada com ponteira de aço, vai ser uma luta infernal. Que seja que vença o
melhor e que Deus me ajude na última batalha da minha vida!
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