A Vaca
malhada do “seu” Lindolfo da Maria
Dizem que
historias acontecem com todos nós. E claro sempre procuramos dar uma conotação
diferente quando contamos para alguém. A verdade absoluta nem sempre vem à tona,
mas contar o real será que vale a pena? Se for assim melhor não continuar. Irão
dizer – O Escoteiro tem uma só palavra! Claro que sim. Mas historias? Contos?
Fábulas? Lendas? Sem uma pitada do incrível ou inacreditável acho que não teria
graça. Assim sou eu. Gosto de contar histórias. Gosto de fazer as pessoas sonharem
que poderiam estar lá, nas frases que escrevo no real ou imaginário não
importa. Afinal quem não gosta de sonhar?
Nosso
"Chefe" Escoteiro conheceu o “seu” Lindolfo da Maria em um mês de
maio durante uma competição de cantorias, chamadas de “repentes” onde os
cantadores cantam versos com perguntas ou provocações. Uma peleja gostosa onde
vence sempre o cantor que cria os melhores repentes.
Minha verdadeira mãe, Maria
restauradora.
Dai-me boa inspiração És
a minha protetora
Sou poeta dos repentes Sou
Lindolfo da Maria
Com frase lasciva ou
lúbrica, contra mim, quem vier, cai.
Tenho feito cantor sábio.
Me chamar de mestre e pai.
Vou botar você em canto.
Que morre doido e não sai.
Isto
mesmo, assim começou uma grande amizade entre nosso "Chefe" Escoteiro
e o “seu” Lindolfo da Maria. Mas chega de entretantos e vamos aos finalmentes,
pois o “causo” aqui é da Vaca Malhada do “seu” Lindolfo da Maria. Um convite
para conhecer seu sítio e lá foi nossa Patrulha a primeira a aventurar por
aquelas bandas, por sinal já desejado por nós. Derribadinha, um lugarejo as
margens da estrada de ferro com menos de quinhentas almas. Chegamos cedo, por
volta das onze da manhã no rápido da Estrada de Ferro Vitória Minas. Pergunta
aqui e ali e menos de uma hora depois chegamos. Recebeu-nos efusivamente.
Encontramos
um bom local junto a um bambuzal, com aqueles tipos enormes, grossos e até me
lembrei de uma pesquisa que fiz de onde surgiu a palavra bambu. Há indícios de
que a palavra bambu tenha origem no forte barulho provocado pelo estouro dos
seus colmos quando submetidos ao fogo, “bam-boo!”. No Brasil, para denominar
esta planta, os indígenas empregavam, entre outras, as palavras taboca e
taquara. Mas voltemos ao local escolhido. Um riacho gostoso, uma plantação de
mandioca, belos pés de goiaba, vários de mamão papaia enfim, um sonho de
qualquer Patrulha Escoteira.
No
primeiro dia foi aquele corre, corre da preparação do campo. A noite uma lua
enorme “bunita qui nem um queijo” nos deixou alegre em ver toda a campina a
nossa volta com alguns animais pastando aqui e ali. Mas este foi um acampamento
curto. Muito curto mesmo. Sem muitas histórias para contar. Por quê? Acordamos
de madrugada com nossa barraca sendo sugada! Isto mesmo, sugada! Acordei e vi
uma boca enorme em minha direção. Um monstro! Dei um berro e todos acordaram
com ele. Saímos correndo em desabalada carreira.
De longe
ficamos olhando o que era a tal “assombração”. Não deu para ver. O acampamento
da Patrulha desapareceu. Um medo terrível se apossou de nós. Era melhor
procurar o “seu” Lindolfo da Maria. Acordou um pouco assustado. Quando contamos
ele riu a beça. Não se preocupem, esqueci-me de avisar, deve ter sido a Vaca
Malhada. Ele sempre faz isto. Dizem que ela tem uma boca enorme. Vamos até lá,
pois ela come de tudo. Dito e feito. O acampamento era um desastre. A danada da
Vaca Malhada destruiu tudo. Juntamos o que podíamos e fomos dormir no pequeno
seleiro do “seu” Lindolfo da Maria.
No dia
seguinte vimos que tudo fora destruído. “Maldita” vaca pensei comigo. Mas faz
parte. Aprendemos que uma pequena cerca de cipó ou sisal poderia ter ajudado. Esquecemo-nos
de fazer. Não foi um grande acampamento, mas ao amanhecer resolvemos fazer
companhia ao “seu” Lindolfo da Maria em sua lida no campo. Éramos sete e nos
divertimos na curralama em tirar o leite, em separar a bezerrada, e até eu
resolvi “campeá-los” um pouco. Ficamos lá por mais um dia. No final juntamos o
que sobrou e sem chorar pela perda voltamos. Dispostos é claro a conseguir de
novo tudo que perdemos.
Assim é a
vida, perde aqui, ganha ali. Nada deve ser eterno e nem pode ser. Um dia volto
lá e vou desafiar o “seu” Lindolfo da Maria para uma peleja gostosa de
repentes, pois quando cresci aprendi muito. Nas rodas a noite dos fogos de
conselho, lá estava eu a desafiar no Quebra Coco. Claro, perdi muitos desafios,
mas ganhei outros tantos, afinal não era assim que começava?
“Amigos aqui presentes,
hoje estou um pouco rouco,
“Mas é bom ficar
sabendo, sou campeão no Quebra Coco”!
Quebra
coco, quebra coco, na ladeira do Piá,
Escoteiro, quebra coco, e depois vai trabalhar.
Escoteiro, quebra coco, e depois vai trabalhar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário