A mixórdia me pegou desfilando e que lambança meu Deus!
Uma
mixórdia, ou melhor, uma verdadeira lambança. Ainda bem que nos meus artigos
poucos me mandam queimar no fundo dos infernos! Risos. Quem sabe mereço? Mas o
que fazer? Uma vez aqui quase houve um bate boca devido a escoteiros
desfilarem. Assisti a tudo dando gargalhadas. Voces sabem, eu gosto de rir e já
me disseram que o riso é uma homenagem que os idiotas prestam ao gênio. Risos.
Não sei se é verdade. Adoro os politicamente corretos. A turma nova aprendeu
que não se desfila, me disseram que tá lá no POR. Ainda não vi. Só tenho o
antigo e agora vai mudar. Vamos aguardar. Dizem que devemos andar garbosos, olhando para
frente, mas sem marchar. Haja paciência! Um saco isto sim! (desculpe o termo
ante Escoteiro)
Como
marchei na minha vida. Adorava marchar. Tínhamos todos nós escoteiros um porte
pseudo militar. Proibido hoje. Esqueceram-se de ver a maioria das fotos de BP e
alguns dos seus relatos sobre o tema. Lá está ele sempre fazendo inspeção e os
jovens perfilados. E quantas marchas para homenageá-lo. Mas hoje não. Isto já
era. Hoje os tempos são outros. Dizem que existem motivos. Bah! Para os
motivos. Gostava de marchar. Nossa tropa era perita. Mas olhe só fazíamos isto
uma vez por semana à noite. Fim de semana nem pensar. Reuniões e atividades ao
ar livre. Aos montões. Bem vamos à mixórdia que me levou a relatar estes fatos.
– Eu estava com treze anos. Fazia parte da nossa banda, tocando um tarol fino
que hoje quase não vejo mais. Tínhamos orgulho da nossa banda. Dizíamos que era
a melhor da cidade. O Munir era o nosso maestro. Magro, parecia mais um palito
uniformizado. Claro, os treinos eram de uniforme. Em um campo de várzea perto
da sede para não incomodar, mas mesmo assim o campo se enchia dos vizinhos e
amigos.
Na cidade
havia três comemorações por ano que desfilávamos. Dia da cidade, dia da
bandeira e o Sete de Setembro. Havia uma disputa entre nós e os dois colégios
masculinos e um feminino. O Tiro de Guerra e a policia militar tinham uma banda
de musica. Eram, portanto três bandas de jovens que se digladiavam nestes
desfiles. Nos dias de desfiles, lá estávamos todos os membros do grupo
Escoteiro de luvas cinza, de luvas brancas só a turma do cerimonial. Também
usávamos as mochilas e uma vez sim outra não montávamos um campo de Patrulha na
carroceria de um caminhão. Era uma festa. Claro, na sede o Chefe fazia uma
inspeção que não perdoava ninguém. Orelhas, mãos, unhas, sapatos engraxados,
meias com listras retas, quatro dedos de dobra do meião, chapéu com abas retas,
lobos idem com seus bonés.
Todos
aguardavam até formarem-se e partir para o ponto de encontro. Que orgulho! A
cidade em peso lá. Todos batiam palmas para nós. Quando chegávamos ao destino
gostávamos de ver os “inimigos e suas bandas” o pior é que muitos dos inimigos
tinham escoteiros em seus colégios. Risos. Mas o Berica, o Berica não era mole.
Todo ano querendo ganhar da gente com a banda deles. A gente tinha até uma
cantiga que dizia – “Arreda grupo que o ginásio vem, que catinga de macaco que
o Berica tem!”. Mas a lambança foi outra. A mixórdia também. Apareceu ninguém
sabe de onde, uma banda marcial. Depois soubemos que era de Colatina e foi
convidada pelo prefeito. Que banda! Enorme. Correu o boato que eram treinados
pela banda dos Fuzileiros Navais. Muito famosa na época. E agora José?
Agora era
enfrentar. Mas o Munir não sabia perder. Bem fardado, um esqueleto humano, com
sua varinha mágica, nos levou no centro da banda marcial. Ela linda, 20 bombos,
30 tambores, não sei quantas caixas claras, tarois mil e dezenas de cornetas e
clarins. Entramos no meio dela. Uma bagunça. Eles batendo e nós também. Ele
meteram as varetas nas nossas cabeças. Revidamos. Uma briga geral. A
escoteirada dando soco em tudo que encontrava pela frente. O Chefe João
apitando feito um coitado. A policia militar interveio. Conseguiu separar.
Chefe João ofegante! Isto é escotismo? Onde aprenderam? A cidade inteira deu
risadas por muito tempo. Ainda bem que não tínhamos ainda o tal Conselho de Ética.
Se não ao grupo tinha sido fechado e eu não estaria aqui contando esta
mixórdia. Esta lambança. Como castigo ficamos sem participar de dois desfiles
aquele ano. Aproveitamos e fomos acampar na serra do Caparaó, com lindos picos
em sua volta. Um belo de um acampamento. Ufa! Que castigo eim?
Enfim,
eu marchei muito. Muito mesmo e dei meus tapas também. Não sou santinho, sou
Escoteiro sim. Minhas boas ações sempre existiram. Quando Escotista dei
exemplo. Mas se marchar é errado que o céu me condene. Ou melhor, que a UEB me
condene! Risos. Se pudesse, se algum dia fosse voltar a um grupo eu marcharia
de novo. Mas olhem, faríamos belos acampamentos, faríamos lindas atividades
aventureiras, nossas reuniões seriam dos monitores e dos jovens e não dos
chefes. Continuaria a abraçar a todos. Meninas e meninos e sempre a dizer – Bem
vindos! Adoro voces! Aceite meu aperto de mão sincero! E no sete de setembro lá
estaria o grupo, com uma boa banda (claro que teríamos) a marchar orgulhosos
usando as luvas cinza, brancas, e a turma do pavilhão da bandeira orgulhosa, um
carro com um campo de Patrulha montado e lembrando... Arreda grupo, que o
ginásio vem, que catinga de macaco, que o Berica tem!
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