O meu
amado e astuto lenço verde e amarelo
Todos do movimento Escoteiro têm um. Sempre o
recebem quando da promessa e o usam por toda a vida. Cada grupo cada escoteiro
tem orgulho do seu lenço, alguns fazem bordados lindos e outros escolhem cores
bombásticas. Quando você encontra vários irmãos em grandes atividades um belo
colorido se faz presente onde cada um diz – Sou do grupo tal. E o dizem com
orgulho. E ele, sempre ele é o responsável pela identificação. Eu também tenho
o meu. Desde criança quando o recebi fazendo a promessa de lobo. Coitado, hoje
está "Velho", desbotado e quando olha para mim finge que vai chorar
de tristeza. É um pândego este meu lenço. Já o conheço de longa data.
Claro que
ele fala comigo. Risos. Não acreditam? O Escoteiro não tem uma só palavra? Mas
é verdade! A mais pura verdade. Conversei muito com um chapéu bem velhinho de
três bicos, fui amigo de um bastão da Patrulha Pantera, conversava muito com o
meu Lampião Vermelho encantado. Mas o meu lenço verde e amarelo é quem me dava
mais trabalho. Sempre choroso. Sempre reclamando. – Calma, me dobre devagar,
assim ficarei velho e não posso representar o grupo! – Ei, saia da chuva! Assim
eu vou desbotar mais rápido! – Cuidado com espinhos na árvore, eles podem me
rasgar! E por aí ele seguia com suas lamúrias.
Quando passei
para Escoteiro é que ele sofreu mais. No meu pescoço chorava lágrimas e
lágrimas de crocodilo. Um dia quando estava perdido no Espinhaço da Canastra,
ele não parava de dizer – Me tire do pescoço. Não faça de mim um bode
expiatório da sua “lerdeza” em não prestar atenção ao caminho! Claro, nos
safamos fácil. Um bom SOS com um sinal de fumaça e logo o Chefe chegou. Cheguei
em casa e o chamei (o lenço). – Olhe, ou você muda ou vai para o fundo do baú!
Já estou cheio de suas choradeiras. Vou comprar outro no grupo e você vai ficar
sozinho pelo resto da sua vida. Olhou-me com aqueles olhos suplicantes e pela
primeira vez me pediu desculpas.
Mas no fundo
eu gostava dele muito. Afinal foi minha mãe quem fez e olhe com duas bandas
para ficar mais cheio, mais gordo e dar um ar especial quando o colocava no
uniforme. As marcas de guerra ficaram gravadas nele para sempre. Muitas vezes
teve que ser cerzido. Enfrentou comigo borrascas, vendavais leves, chuvas
intermitentes, sol de rachar, travessias em rios, florestas e ele sempre soube
que não teria boa vida. Ficou no meu pescoço por muitos anos. Até quando tive
de mudar de cidade e no grupo que entrei era outro lenço. Então uma briga. O
Vermelho e Branco que passei a usar era um gozador irreverente. Sempre pegando
no pé do meu Verde e Amarelo que ficou protegido por um plástico colocado em
uma parede do meu quarto.
Hoje lá estão
os cinco que um dia tive a honra de usar. Todos na parece do meu quarto e agora
do escritório. O Verde e Amarelo ficou amigo do Vermelho e Branco, do Vermelho
e Preto, do Azul e grená e do Branco e cinza. Grupos por onde passei e que me
deixaram saudades. Quando lá estou só com eles, um gostoso bate papo entre mim
e eles se desenrolam como se fosse uma conversa ao pé do fogo, onde relembramos
com saudades dos tempos aventureiros em que passamos juntos. Cada um sempre
tinha uma história que julgava mais importante que os demais. Mas eu gostava de
ouvi-los. Era divertido. O Verde e Amarelo pela sua idade falava grosso,
querendo ser o pai de todos. Mas no fundo eram grandes amigos. Devem conversar
o dia todo mesmo quando não estou presente.
Saudades dos
Grupos Escoteiros que passei. Bons amigos eu lá deixei. Ainda bem que os lenços
hoje estão comigo para me fazer reviver as histórias e as epopeias que lá
aconteceram. Valeu. Mas não sei por que, tenho uma preferencia pelo meu Verde e
Amarelo. Ele sabe disto. Sorri para mim como a dizer – Eu sou o melhor! –
Metido ele não? Mas para dizer a verdade eu amo todos. Fazem parte de mim,
fazem parte da minha vida Escoteira.
E você?
Trata bem o seu lenço? Joga-o em qualquer lugar quando chega de atividades
escoteiras? Não o deixa já pronto em um cabide para ele se manter no formato?
Claro que sim. Escoteiro que é escoteiro cuida sempre do seu lenço, do seu
chapéu ou boné, do seu bastão e do seu uniforme. Afinal faz parte da sua
educação escoteira e ela nunca será esquecida!
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