Tradições? Esqueçam, os tempos são outros!
Didaticamente, definimos tradição tudo aquilo que foi
incorporado ao estilo de vida de um grupo especifico de pessoas e que foi
mantido e repetido através dos tempos conferindo-lhe um aspecto cultural. Entendemos
a tradição como o conjunto de hábitos e tendências que procuram manter uma
sociedade no equilíbrio das forças que lhe deram origem.
Sou frequentemente chamado de tradicionalista. Acho que sou mesmo. Talvez por ter
entrado no movimento há muito tempo, quando ainda lobinho. Por ter passado por
muitas e muitas situações no Movimento Escoteiro. Tenho dificuldades em aceitar
mudanças que apesar de tudo, podem e devem acontecer. Desde que não vão de
encontro às tradições e foram arduamente discutidas com todos os interessados.
Quem são? Os escotistas de todos os Grupos Escoteiros do país e quem sabe com
todos os jovens. Sei que não podemos ficar parados no tempo por isso aceito
modificações. Modificações que podem gerar ganhos, apresentação e crescimento
individual.
Mas fico pensando se valeu as mudanças de parte do método e
nomenclaturas existentes no passado, do uniforme e de tantas outras coisas que
julgava importante. Eu as considerava como uma tradição do nosso movimento. Era
tão bom lembrar como eram e me soa estranho algumas expressões e assuntos que
são discutidos hoje pelos nossos escotistas. Fico pensando naquele antigo
escoteiro, que depois de muitos anos volta à sede para rever amigos e seu
passado e encontra tudo mudado. É um estranho no ninho.
Ainda me lembro com saudades de certos aspectos que de certa
forma, nos identificava, pois nosso movimento era único a usar e ter em seu
seio, nomes que também ajudavam a nos identificar. Apesar de não pretender
reverter o passado, pois o que mudou não volta atrás (deveria voltar), não
deixo de lamentar o que sinto a respeito. Através de amigos e leitura de normas
da UEB fui tomando conhecimento de algumas alterações que foram feitas. Todos
que assim o fizeram acreditaram que precisávamos mudar. Seria para melhor. E
foi? Vejamos algumas mudanças:
– Chefe do Grupo, Comissões Executivas, escoteiro noviço,
segunda classe, primeira classe, eficiência I e II etc. especialidades,
comissário distrital, comissário regional, escoteiro chefe, Cursos com siglas
de CAB – Adestramento básico – CIM – insígnia de madeira – Diretores de cursos.
Equipe Nacional de Adestramento. Adestramento. Esse é interessante. Sempre
criticado. Nos treinamentos das nossas forças armadas ele é usado. No escotismo
não. Agora é formação. Mais atual. Do uniforme nem comento mais. Espero que as
mudanças sejam boas. Chega de ver situações difíceis de entender. Agora vem outro aí. Atualíssimo! Todos vão
gostar muito. Quem quiser saber melhor vá ao site da UEB e veja a ultima ata
publicada. Mas a lista não para por aí, de conselhos, passamos para congressos,
assembleias etc.; vejam bem, não estou criticando, só achei que para mim, isso
nos identificava. O escotismo era conhecido pela sua tradição e era um orgulho
saber que éramos únicos. Lembro que se conhecia um escoteiro pela fivela do
cinto.
Enfim, tem muito mudanças
e acredito que fiquei um pouco desatualizado. Será que valeu a pena, será que
isto trouxe uma situação melhor para o nosso movimento? Seja de crescimento e
apresentação junto à sociedade brasileira? – Não sei não, tenho minhas dúvidas.
Iniciaram as mudanças em fins de 80 e até hoje nosso efetivo não cresceu nada.
Ficamos ali entre 60.000 a 70.000. As novas gerações irão aplaudir. Afinal é
delas o escotismo de hoje. Mas olhem, um dia vou partir. Irei com saudades do
meu chapéu. Do meu penacho, do meu distintivo de patrulha, da moeda da boa
ação, do nó no lenço para a boa ação diária. Irei lembrar-me dos Conselhos, do
garbo do uniforme, do orgulho quando se vestia olhando-se ao espelho se estava
tudo em seus lugares.
Vou lembrar também da minha patrulha, do orgulho em ficarmos
juntos por anos a fio, (isso existe hoje?) do nosso chefe, um sujeito cujo
uniforme era um exemplo. Nunca vou esquecer as inspeções, mesmo com quatro
cinco dias de acampamento. Vou rir quando me lembrar de uma noite, que ficamos
até duas da manhã, num desafio interminável do Quebra-coco. (será que existe
ainda?) Nunca vou esquecer que sabia na ponta da língua a Promessa, a Lei
Escoteira e cantava o Ra-ta-plã, o Hino Nacional, o Hino da Bandeira sem erro.
Ainda vou lembrar também do meu Chefe de Grupo, do Comissário Distrital, do
Comissário Regional e da lembrança quando me disseram – Olhe lá! Aquele é o
Escoteiro Chefe do Brasil. Morro de inveja do Escoteiro Chefe Inglês. Sempre
presente. Abraçando lobinhos, escoteiros, a Rainha enfim todos o conhecem por
fotos. Se seu congênere Brasileiro? Melhor não insistir. Estão lá, distantes,
sempre procurados.
Tradições, uma palavra que mostra a força de uma organização. Será
que estamos perdendo esta força? Estamos nos tornando um movimento comum? Será
que foi melhor usar a nomenclatura que todos usam hoje? Não sei. Muitos não
irão concordar comigo. Acredito que estamos sepultando nosso passado. Vamos
esquecer nossa história. Nossa identidade será outra. Assimilada pelos novos e
olhadas com saudades pelos antigos que irão desaparecer nas nuvens do futuro.
Um dirigente nacional já disse que nossa Promessa diz no final que
devemos “Servir” a União dos Escoteiros do Brasil. Portanto devemos calar a
boca, fechar os olhos e bater palmas por tudo que fazem. Estamos dormindo no
tempo e acreditando que ventos novos irão soprar. Torço por isto. Podem amigos
me chamar de ultrapassado. Voces agora lutam por um lugar ao sol do movimento
Escoteiro e tem este direito. Mas por favor, respeitem o meu direito de
discordar, de escrever o que penso, de achar que muitas de nossas tradições não
deviam ter sido enterradas. E por favor, também, não me digam que temos um
fórum próprio para mostrar nosso desagravo – Os Congressos e Assembleias. Você
realmente acredita nisto?
"A tradição não é dada por direito de herança, e, se a
quiser, é preciso muito trabalho para obtê-la." (T. S. Eliot).
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