As crônicas de um Chefe Escoteiro.
Pioneirias, sonho do Escoteiro?
Não existe
maior alegria para um Escoteiro ou uma Escoteira quando ao terminar de fazer
uma pioneiria dar uns passos atrás e olhar com carinho sua obra. Um sorriso
brota, os olhos brilham e dá uma vontade de tirar foto, filmar e mostrar para
todo mundo. – Fui eu quem fiz! Fui eu quem fiz! Pode alguém aparecer e dizer
que está mal feita, podem dizer o que quiser, mas ele ou ela estão ali
orgulhosos pela construção que dedicaram horas, calos nas mãos, suor e
mosquitos a enlouquecer qualquer um. Nesta hora é que todo o escotismo brota no
coração. Bate aquela chama que nos dá orgulho em pertencer ao movimento.
Todos jovens
que entram no escotismo logo ouvem falar nesta palavra mágica. Pioneirias. O
que é isto? Perguntam. Construções rusticas feitas com nós e amarras diz o
Monitor. E ele fica com aquilo na cabeça. Doido para acampar e fazer uma.
Depois não importa se o vento sul a jogou ao chão, ele vai ter “causos” e muitos
para contar. De um simples banco um dia ele vai dizer aos seus netos que
construiu uma linda poltrona reclinável e que bastava fechar os olhos e ela
balançava ao sabor do vento. Os netos irão ouvir com orgulho e sonhar também em
fazer o que seu avô fazia.
Dizem e
contam por aí que pioneiria tem técnica. Já vi artigos, livros, desenhos todos
escritos. Eu mesmo publiquei vários. – Técnicas de Pioneiras. Tenho lá minhas
dúvidas. Quando as fiz não tinha livros nem desenhos. Eram criadas da
imaginação. Um pau ou bambu aqui, outro ali, umas amarras com sisal ou cipó e
elas iam brotando conforme as necessidades. De vez em quando vejo fotos de
algumas, lindas, esplêndidas, algumas obras de carpinteiros/engenheiros e não
de jovens escoteiros. Dias e dias para fazer. Não sei se tem graça. A graça
meus amigos é o Escoteiro ou Escoteira fazer. Chefe! Xôô! Se manda. Não fale,
não fique ai olhando. Não dê palpites. Deixa-os crescerem! Faz parte do nosso
método!
Para mim vale
mais uma pequena amarra dada por um jovem que uma casa em cima de uma árvore
que não tem finalidade no adestramento progressivo e que foi feita pelo Chefe/engenheiro.
Ao dar a Amarra de acabamento ou fazer um simples Volta do Fiel é o inicio de
tudo. E a Costura de Arremate? Simplesmente maravilhosa! Quando visitava
acampamentos escoteiros no passado, ficava orgulhoso em ver no campo de
Patrulha, como um simples sisal ou cipó cercava o campo. Ninguém pulava ou
entrava por ali. A entrada era pelo pórtico. Rústico, simples sem aquelas
belezas que vemos em fotos ou em grandes acampamentos escoteiros e sempre
feitas pelos chefes. – Sempre Alerta Patrulha! Licença para entrar? Todos
respeitavam.
E durante a
inspeção de campo pela manhã, ver uma mesa simples, um toldo mesmo que
enrugado, bancos para sentar nas refeições, um fogãozinho suspenso, um
lenheiro, um porta ferramentas, fossas de líquidos e detritos com tampas, mais
ao fundo um WC bem feito ou mal feito, um tripé para o lampião, chapéus, um
porta bastão e por aí afora eu me orgulhava. Nunca gostei de chefes que em vez
de ajudar prejudicavam a Patrulha. Tudo limpo alguns levavam no bolso palitos,
papeis para jogar ao chão e dizer: Não estava tão limpo. É correto? O que dirá
a Patrulha? - Chamei a atenção de muitos e até em cursos que dirigi apareciam
chefes assim. Vejam bem, eram formadores!
E quando o
cerimonial de bandeira terminava, era bom dizer o que tinha achado do campo, e fazer
muitos elogios. Entregar a bandeirola de eficiência, cumprimentar o Monitor e
toda a Patrulha, era bom demais! Que orgulho! Vê-los sorrindo! Pioneirias! Ah!
Como são belas quando feitas por eles. Xôô Chefes! Voces não. Voces não
precisam disto. Treinem seus monitores. Orientem-nos a ter ideias, mas deixe
que eles façam, deixe que eles criem e um dia, um belo dia eles dirão: - Chefe
vamos fazer um acampamento de dois ou três dias só para grandes pioneirias? Já
pensou? Eles dizendo isto e não você?
Pioneirias!
Quem já fez nunca esquece. Mesmo aquelas que o vento malvado jogou ao chão. Mesmo
aquelas que umas vacas invadiram o campo e pisaram em tudo. Mesmo aquelas que
um dia passamos uma noite sentados nos bancos sobre a proteção do toldo, pois a
chuva torrencial encheu de água e barro as barracas. Lembranças. Belas
lembranças de pioneirias que brotaram na mente do escoteiro. Trazer água de um
córrego próximo usando bambus, fazer uma ponte, Jangada de piteiras, Pórtico de
três metros ou mais, estrado para barracas suspensa, escadas de cordas ou cipó,
o caminho do Tarzan, um ninho de águia, uma passagem suspensa de bambus ou
madeira de lei e até um elevador rústico. Tantas e tantas que começaram com uma
simples amarra! Isto meus amigos, isto é escotismo!
“Deixai-os fazer, deixai-os seguir com os outros, pois os passos
dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido!” (Kipling).
(Xôô Chefe!)
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